*Reynaldo Mauá Jr.
Mexendo no meu baú de
coisas guardadas, deparei com uma publicação muito popular no século
passado, difundida aqui em Araçatuba. Nascida dos ideais de dois empreendedores
da cidade - Genilson Senche e Toshi Kazu Ueno – surgia a revista CINELÂNDIA.
Era um periódico semanal gratuito,
editado, distribuído e aguardado, normalmente aos domingos, nos cinemas da
cidade. Trazia um pouco de tudo, assuntos internacionais, nacionais, regionais,
entretenimento, reportagens, publicidade (que ninguém é de ferro) e, o que me
faz escrever este texto, o PONTO DE ENCONTRO, uma coluna literária.
O Ponto de Encontro era produto
da reunião de jovens (na época, claro. Entre 1968 e 1969) que escreviam sobre
suas observações, emoções, sonhos, fantasias, devaneios e tudo o mais que lhes
passasse pelas mentes, irrequietas e idealistas, em forma de poemas e crônicas.
Esses escritos ocupavam,
sempre, as duas páginas centrais da revista que, entre muitas pessoas, eram as
primeiras a serem lidas. Muito se comentava e se debatia sobre o conteúdo
apresentado em cada semana. Era quase uma leitura obrigatória para a juventude
araçatubense.
Havia sempre uma citação no
topo da página abrindo e apresentando os autores de cada semana. Confesso que
não descobri, até hoje, quem produzia as tocantes palavras que introduzia os
leitores aos escritos daquelas publicações. Algumas guardei-as até hoje:
“Num tempo em que a terra
semeia mãos vazias de ternura e de eterna angústia de liberdade, eis que ainda
temos o nosso ... PONTO DE ENCONTRO.”
“Homens se integram na
Humanidade, militares se integram nas Forças Armadas, religiosos se integram em
suas crenças e jovens de mentalidade avançada se integram no ... PONTO DE
ENCONTRO.”
“Quando a política divide
opiniões, provoca rancores e mágoas, e chega até mesmo a destruir
personalidades, é tempo de trabalhar para unir, é tempo de se integrar num ...
PONTO DE ENCONTRO.”
![]() |
Genilson Senche, biografado por Arnon Gomes |
Percebe-se, por
estes apontamentos, o quanto a nossa sociedade é resistente a mudanças.
Cinquenta anos passados e as coisas parece que continuam as mesmas.
A dinâmica para as
publicações partia de reuniões na casa de algum dos integrantes do grupo, que
estava sempre aberto a novos participantes, que liam, analisavam e discutiam
(no bom sentido, certamente) quais trabalhos deveriam ser publicados na próxima
semana. Tudo acontecia de forma simples, objetiva (já que o espaço disponível
não dava para quem gostaria de ver seu texto publicado) e sempre com a
aquiescência de todos. Os autores dos escritos, majoritariamente jovens entre
18 e 25 anos, formavam, então, um dos primeiros grupos de escritores de
Araçatuba.
Sob as sábias,
pertinentes e eventuais orientações de uma mente genial e generosa, como a do
Dr. Eddio Castanheira, esse “movimento” durou cerca de dois anos,
ininterruptamente. Eu me mudei de cidade e não tive mais notícias do destino
desse time de amigos, cada um seguindo suas metas e objetivos na vida. Entretanto,
nesta oportunidade, quero reverenciar alguns dos integrantes, cujos nomes ainda
preservo na memória, assim como algumas de suas obras publicadas na revista
CINELANDIA. Democraticamente, tomo a liberdade de citá-los em ordem
alfabética: Ana Maria Esteves; Dinair
Walda Aires; Eliane Souza; França de Almeida; Jorge Mário Xavier; José Antônio
Bergamo; Marcus D’Andria; Maria Adelaide de Freitas Caires; Mário Andrade; Nelson
Camargo Silva; Nelson Hayashi; Reynaldo Mauá Júnior e poucos outros que a
memória apagou. A todos, onde estiverem, fica a imensa saudade dos momentos,
dos sentimentos e das oportunidades que vivenciamos ao interagir e devolver
para esta cidade um pouco do nosso olhar, da nossa realidade e a nossa gratidão
por aqueles instantes únicos.
*Reynaldo Mauá Júnior, professor universitário, supervisor de ensino aposentado, escritor, membro do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras
Um comentário:
Sr. Helio, eu fui o Marcus D'Andria.
Bons tempos, realmente.
Meu nome era João Mendes Neto.
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