AGENDA CULTURAL

1.9.18

Tenho tantos amigos... Tenho?


*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Membro das academias de letras de Araçatuba-SP, Andradina-SP e Itaperuna-RJ.        

Na era da tecnologia, ninguém fica mais sozinho, mas não sei se tenho amigos. De repente, me puseram num grupo do Whatsaap, nem pedi. Nas grande cidades, é fácil ficar só e abandonado na multidão.

Quando eu lecionava em Rosana-SP e por lá fiz moradia, início da década de 70, quando a cidade era um lugarejo do Pontal do Paranapanema, chegou um padre italiano, José Sometti, como pároco. Eu me queixei com ele sobre o fuxico que corria solto no  lugar, nada passava despercebido, todos ficavam sabendo.

E ele me respondeu que isso era bom, porque todos se preocupavam com todos, nem que fosse negativamente. Enquanto na metrópole, se uma pessoa caísse morta no passeio público, os transeuntes pulavam o corpo, nem chamava uma abundância. E não é que o padre tem razão! 


Não ando atrás de amigos verdadeiros, caro leitor, porque eles não existem, são todos circunstanciais. Tenho amigos na política que não são tão fiéis, mas gosto de certas pessoas que são bem diferentes de mim, ficamos amigos apenas na convergência.

Nem os cachorros são tão amigos assim, somos todos interesseiros. Canta o sambista que o cachorro é maior amigo do homem porque não conhece dinheiro. 


Arrumei um amigo beija-flor que visita o meu quintal todos os dias, mas para que ele me tornasse seu amigo precisei instalar um bebedouro de água doce dependurado na árvore. Houve uma negociação.

Esse negócio de valorizar a amizade animal e desprezar os humanos só a psiquiatria explica. Às vezes, ninguém suporta o chato, então ele procura os animais como último reduto.

Tenho pouquíssimos amigos do tempo de ginásio, sumiram; com os do tempo da faculdade aconteceram o mesmo. A música "A lista", de Osvaldo Montenegro é uma dura realidade. Sobram poucos.

Desses poucos, amigo antigo é aquele que se senta com ele num bar, ou com eles se toma o maior pileque e se lembra do passado, das farras. Principalmente das antigas namoradas. Não existe maior bálsamo para a alma que relembrar o passado em voz alta. Assim dizem os idosos.

Há gente de poucos amigos, outras têm muitos amigos. A amizade é imensurável. Ser amigo é estar disponível até para um estranho. Amar o próximo, por exemplo.

Um comentário:

Zemarcos Taveira disse...

Vc é um amigo que admiro muito, apesar de a gente se encontrar menos do que deveria. Mas está sempre aqui no meu coração.