AGENDA CULTURAL

11.7.20

O beija-mão do presidente


Capitão Corona, como é chamado Bolsonaro pela imprensa internacional
Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

"Nestes quinhentos anos de colonização [...] recebemos a influência de muitos países. Sempre tentamos reproduzir com todas as minudências a língua, as ideias, a vida de outras terras. Não sei donde vem esse medo que temos de sermos nós mesmos. Queremos que nos tomem por outros." (Graciliano Ramos)

Uma amiga, com nível cultural suficiente para fazer palavras cruzadas, me disse que o Brasil é mais adiantado no Sul. Eu lhe respondi que em termos de cultura não há atrasado ou mais adiantado, há culturas diferentes. 

E continuei: o Sul brasileiro é mais europeizado, enquanto o Nordeste continua lusitano com forte influência indígena e africana. E concluí: o Brasil é essa colcha de retalho e devemos ter orgulho disso. Antes de se falar em globalização, ela já era uma realidade em nosso país continental.   

Essa vergonha de ser brasileiro é denso na elite brasileira. Esta inferioridade de parte da Pátria Amada foi chamado por Nélson Rodrigues de complexo de vira-lata. Expressão adotada pelo ex-presidente Lula.   

Estou escrevendo isso porque o presidente Jair Bolsonaro, portador desse complexo de vira-lata, almoçou com o embaixador norte-americano Todd Chapman no dia 4 de julho para comemorar o aniversário da independência dos EUA.

O almoço em si não representa nada, se ele fizesse a mesma deferência para outras nações. Ele quis mesmo é irritar os críticos que lhe chamam de entreguista. 

Na verdade, essa paixão pelo verde-amarelo do presidente e sua turma é apenas fachada, um biombo, só os incautos caem nessa esparrela. Enquanto isso o ministro da Economia Paulo Guedes quer governar para os abastados.

A subserviência dos Bolsonaros e sua trupe ao presidente norte-americano Donald Trump é vergonhosa. De tanto se rebaixar e fazer o beija-mão, estão mostrando os fundilhos.   

Em março, Bolsonaro visitou os Estados Unidos para bajular o presidente Trump, e sua comitiva brasileira trouxe o coronavírus para o Brasil num confortável avião. Em julho, Bolsonaro almoça com embaixador norte-americano em Brasília e anuncia que está contaminado pelo vírus.  Seria uma coincidência subserviente?   

O amor pelo Brasil não é traduzido por patriotadas, por um monte fitas verde-amarelo, mas pela defesa dos interesses nacionais, cuidando principalmente da cultura, educação e saúde de seu povo. 

As pessoas amam o lugar onde moram quando conseguem ser felizes nele, sem hipocrisia.

Um comentário:

Anônimo disse...


Ótima dissertação!