AGENDA CULTURAL

8.6.21

Copa América - bola quadrada

Antônio Reis (*)

A Copa América em plena pandemia que já matou quase meio milhão de brasileiros se tornou um dos assuntos mais comentados da primeira semana de junho. O inexpressivo torneio é mais um caça-níquel da Conmebol do que uma competição esportiva capaz de orgulhar o vencedor, principalmente quando se trata de Brasil, pentacampeão mundial, Argentina ou Uruguai, ambos vencedores de duas Copas do Mundo.

A mais antiga competição entre seleções de futebol começou em 1916. Foi criada para comemorar o centenário da independência dos hermanos argentinos, os primeiros a sediá-la e os primeiros a vencê-la. Os brasileiros mais encardidos já começam a torcer o nariz, antes mesmo de saber que o país de Dieguito Maradona tem “apenas” cinco títulos a mais que o Brasil: 14 a 9. Empatamos com eles na artilharia, pois Norberto Méndez  e Zizinho marcaram 17 gols na competição. No entanto, o danado do argentino precisou de três edições para chegar ao feito e o brasileiro para igualar a façanha careceu de seis edições.

Em 1959 teve uma treta envolvendo Conmebol, Argentina e Equador. O país do brother Che Guevara era sede, mas a entidade que “organiza” a competição recebeu um apelo do Equador, que naquele ano inauguraria um moderno estádio em Guayaquil, para sediar a competição. A marrenta Argentina não abriu mão de seu direito e naquele ano foram duas Copas América. O Brasil participou de ambas e não foi campeão de nenhuma. A Argentina se sagrou campeã em casa e o Uruguai, maior vencedor da competição com 15 títulos, levantou o caneco no Equador.

Pelé é tricampeão mundial, mas não tem título da Copa América, competição que disputou apenas uma vez, justamente no bizarro 1959, quando a seleção canarinho perdeu o título para quem?  Ar-gen-ti-na. O Brasil ficou 40 anos sem ganhar uma Copa América, pois foi campeão em 1949 e depois só em 1989. Aliás, se Copa América fosse parâmetro, o Brasil seria a terceira força do continente que tem nove títulos mundiais contra 12 dos europeus. 

Essa é “prá acabar”. Em 1918, a competição não foi disputada por causa da gripe espanhola, que ao contrário da pandemia de covid-19 foi generosa com os brasileiros, pois espanholou Rodrigues Alves, o presidente da República. A polêmica envolvendo Copa América em 2021 tem sido tão atípica, que colocou do mesmo lado o engajado apresentador de televisão Casagrande e o alienado Neymar. Ambos são contra a Cova América no Brasil.

Como as relações entre Tite e a cúpula da CBF já não eram boas, azedaram de vez diante da inédita rebelião de uma Seleção Brasileira perante uma competição oficial. Talvez isso explique o porquê de Renato Gaúcho ter recusado a proposta do Corinthians. Fala sério, galera: a Copa América é bola quadrada ou não?

(*) Antônio Reis é jornalista e ativista do Grupo Experimental da AAL. antonio.reis.jornalista@gmail.com 

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