AGENDA CULTURAL

8.6.21

Rui Barbosa pisou na bola - Copa América

Caricatura de Rui Barbosa
Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Jogador de futebol e tocador de violão não tinham prestígio algum, não eram valorizados como são agora. Era gentinha ordinária. Assim era na época vivida por Rui Barbosa.

Na reorganização de minha biblioteca, achei um livro antigo, publicado em 1949 por Cecília Meireles chamado "Rui, pequena história de uma grande vida", que nele estudou meu saudoso cunhado Yukio Nagai. 

Rui era o Rui Barbosa, cantado em verso e prosa. Com ele, baiano ganhou a fama de ter cabeça grande porque é muito inteligente. A publicação do livro era uma forma da Casa de Rui Barbosa" comemorar os 100 anos de nascimento do herói brasileiro.    

No final de cada capítulo, a escritora brasileira escreve um pensamento significativo do nosso Rui Barbosa. No final do capítulo "Menino prodígio", ela transcreveu entre aspas o pensamento do biografado: "Porque só há uma glória; e essa não conhece a soberba nem a fatuidade." Fatuidade significa presunção e vaidade.  

Naquela época, o caso que será contado aconteceu em 1916 (e não mudou muito), as pessoas faziam belos discursos, mas a prática era outra. E Rui Barbosa não escapou da hipocrisia humana.

Toda vez que há a Copa América (disputa de seleções do futebol sul-americano), algum jornalista iconoclasta derriça a imagem de nosso político intelectual. É bom dizer que ele disputou várias eleições, duas vezes para presidente da República.
Capa do livro escrito por
Cecília Meireles

O site "História do Futebol", em 2010, contou o seguinte fato cuja narrativa reproduzo  abaixo em itálico e na cor cinza:

No mês de julho de 1916, quando a seleção brasileira foi disputar o primeiro campeonato sul-americano, em Buenos Ayres, havia escassez de navios devido à primeira grande guerra mundial. O navio disponível era o Júpiter, que levaria à capital argentina a delegação Plenipotenciária do Brasil que iria participar de um Congresso do Centenário de Tucuman e que foi fretado para esse fim, tendo apenas um terço dos seus camarotes ocupados.

Em face disso, o ministro do Exterior, Lauro Miller, pensou em embarcar a nossa delegação de futebol, também no Júpiter, e comunicou para o Conselheiro Rui Barbosa, que era o chefe da comitiva diplomática:


“Olha, Sr. Conselheiro, os jogadores brasileiros que irá para o sul-americano de futebol também viajarão no Júpiter. Estou telefonando para avisar-lhe da minha decisão”.


No mesmo instante, veio a resposta de Rui Barbosa:
“Pois saiba o senhor que eu, minha família e meus auxiliares não viajamos com essa corja de malandros”.


“Mas, senhor Conselheiro, eles são jogadores da nossa seleção”.


Futebolistas é sinônimo de vagabundos, e pode escolher imediatamente, senhor Ministro – Ou eles ou eu”.


O navio Júpiter partiu sem os jogadores da seleção que tiveram de viajar de trem até Buenos Ayres. Uma viagem de cinco dias. Eles chegaram no dia da abertura do sul-americano.


Pelo jeito, isso foi dito por Rui Barbosa com muita soberba e fatuidade. 

Fala-se atualmente muito em fake news, mas é um fenômeno antigo. Há muitos heróis da pátria sendo cultuados que não eram tão heróis assim. Verdadeiros fake news.

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