AGENDA CULTURAL

6.7.21

Não existe disfarce perfeito - Antônio Reis

Igual a todo mundo, a máscara me incomoda, principalmente nas caminhadas, corridas e pedaladas. O isolamento social também não é nada agradável. Apesar disso, sou disciplinado e exemplar, ao menos no que se refere ao protocolo anticovid. Sou  rigoroso comigo e com os mais próximos, afinal, todos temos a nossa hora e não será uma “gripezinha” que irá antecipá-la. 

Sem exaltação ao lugar-comum do “veja o lado bom das coisas”, não nego vantagens quanto ao isolamento social e uso da máscara. O isolamento, por exemplo, me desobriga a cortar o cabelo. Nos raros compromissos externos em 15 meses de home office, uso boné ou chapéu para disfarçar, como dizem por aí, meu cabelo carapinha, que está enorme. Barba? Se dependesse do meu zelo, a indústria de barbeadores seria candidatíssima ao colapso, em contraponto às fabricantes de máscaras, que escondem a pelugem do meu rosto já esbranquiçada pelos janeiros. Até já me esqueci do endereço do barbeiro.

Nas idas ao supermercado, que detesto, o chapéu  e a máscara são de imensa valia. A máscara esconde  a indignação com os preços, principalmente o dos vinhos e dos queijos. Bom mesmo é estar disfarçado, de máscara e chapéu que deixam apenas os olhos visíveis para evitar aquele cara chato que se acha seu truta, que sempre se aproxima com conversa fiada. O estraga-astral geralmente gosta de politicalha pensando se tratar de política.

O chacrilongo, de cidadania zero, usa uma mascarazinha que mal lhe cobre boca e nariz. Ao contrário do isolacionista e cientificista, não usa disfarce e é facilmente identificado. Assim, o eterno candidato a vereador é notado na feirinha, na prateleira de sabonetes ou no setor de frios, sem reconhecer o disfarçado ao seu lado.


Como não é possível enganar a todos durante o tempo todo, eis que sou descoberto pelo chacrilongo na fila do açougue. “Você não é o... ?”. PQP. E lá vem papo furado. Agora sei por que não há crime perfeito: “Por que não existe disfarce perfeito”.  

                          (*) Antônio Reis é jornalista e ativista do Grupo  Experimental da AAL. 

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