Sem exaltação ao lugar-comum do “veja o lado bom das coisas”, não nego vantagens quanto ao isolamento social e uso da máscara. O isolamento, por exemplo, me desobriga a cortar o cabelo. Nos raros compromissos externos em 15 meses de home office, uso boné ou chapéu para disfarçar, como dizem por aí, meu cabelo carapinha, que está enorme. Barba? Se dependesse do meu zelo, a indústria de barbeadores seria candidatíssima ao colapso, em contraponto às fabricantes de máscaras, que escondem a pelugem do meu rosto já esbranquiçada pelos janeiros. Até já me esqueci do endereço do barbeiro.
Nas idas ao supermercado, que detesto, o chapéu e a máscara são de imensa valia. A máscara esconde a indignação com os preços, principalmente o dos vinhos e dos queijos. Bom mesmo é estar disfarçado, de máscara e chapéu que deixam apenas os olhos visíveis para evitar aquele cara chato que se acha seu truta, que sempre se aproxima com conversa fiada. O estraga-astral geralmente gosta de politicalha pensando se tratar de política.
O chacrilongo, de cidadania zero, usa uma mascarazinha que mal lhe cobre boca e nariz. Ao contrário do isolacionista e cientificista, não usa disfarce e é facilmente identificado. Assim, o eterno candidato a vereador é notado na feirinha, na prateleira de sabonetes ou no setor de frios, sem reconhecer o disfarçado ao seu lado.
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