AGENDA CULTURAL

12.7.07

Armadilhas de cada dia


Hélio Consolaro

Caro leitor, você está lendo esta crônica neste domingo preguiçoso, com jeito de convivência familiar para alguns, meio depressivo para outros; mas a escrevi na quinta-feira no laboratório de informática da Faculdade de Educação da Unicamp, em cujo campus participo do 16.º Congresso de Leitura do Brasil (Cole).

Viajo, procuro me atualizar, passo apuros, me desequilibro, fico de roda pra cima, mas não me esqueço de que sábado e domingo tenho um encontro marcado com você. Demagogia de croniqueiro.

O tema deste ano do Cole é o verso: “No mundo há muitas armadilhas e é preciso quebrá-las”, cujo autor é o poeta Ferreira Gullar, que também fez a palestra de abertura do congresso na terça-feira, 10/7.

A gente não precisa conhecer o poeta em carne e osso, nem ouvir a sua voz, basta ler seus poemas para conhecê-lo bem, ler a sua biografia também ajuda, mas nunca é demais ter essa oportunidade de vê-lo, estar respirando o mesmo ar de um centro de convenções com ele, uma celebridade da poesia brasileira como Ferreira Gullar.

Nos intervalos, além de conviver com a amiga Valdenice Colli, professora de Redação do Curso Anglo e a Japa, faço a última leitura do livro da colega desta Folha Célia Villela: “Cá entre Nós”, do qual sou editor, para que tudo saia bem. Celinha terá noite de autógrafos em 18 de agosto.

Há escritores que são bons na escrita e na fala. O moçambicano Mia Couto é um exemplo disso. Ele discorreu sobre quatro armadilhas que estão na raiz de nosso pensamento ocidental: as prisões, às vezes, não são as paredes. E lembrou uma declaração do político e poeta Ho Chi Minh, depois de ficar preso por vários anos, explicou como resistiu: “Desvalorizei as paredes”.

Mia Couto também disse que a famosa armadilha da “natureza humana” é não ter natureza alguma, porque nós somos os outros. E em seguida, discorreu sobre a falsa superioridade da escrita, essa empáfia que herdamos dos positivistas que até proibiram o voto do analfabeto ao fundar a república brasileira. E nós só conseguiremos superar a empáfia da lógica da escrita, quando houver um diálogo franco com a lógica da oralidade.

E a última armadilha: ler livros é dialogar com eles, discordando ou concordando, estabelecendo uma relação dialógica entre leitor e livro. Nesse excesso de valorização dos conhecimentos livrescos, esquecemo-nos de ler o mundo, de ler os outros, de dialogar consigo mesmo, pois também somos geradores de saberes.

Espero que tenha condições de desmontar as armadilhas deste texto, caro leitor. Boa leitura.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei dessa leitura. Parabéns.
Ler é a maior maravilha do mundo, só que às vezes não lemos tudo que devíamos.

" Uma arte que dá medo
É a de ler um olhar,
Pois os olhos têm segredos
Difíceis de decifrar."

BEIJO NO SEU CORAÇÃO