Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
Em dias de resultados eleitorais, de tristezas
e alegrias e também de xingamentos, quando mais se ouve de candidatos é a
frase: “Fui traído!” E cronista não vai ignorar assunto tão palpitante.
Guardo alguns casos interessantes para
dividir com os leitores em época oportuna como este que vou contar aqui. Fui
vereador seis anos, antes da vigência da Constituição Cidadã de 1988, quando os
termos direita e esquerda nem eram citados, apenas em papos mais acadêmicos.
Os ânimos se exaltavam, mas depois das
sessões da Câmara Municipal de Araçatuba íamos comer alguma coisa no Celso
Lanches. Dos três Hélios da 18ª. legislatura, morreu apenas o Helinho (Hélio
Corrêa).
No começo deste ano, eu estava
comemorando com a família o aniversário
de uma das netas, a Elis, no restaurante Pekin com um suculento jantar, quando
alguém me chamou (na hora nem percebi, por isso chamou novamente) e era Hélio
Pereira de Souza com seu novo amor.
Os dois com toda a saúde do mundo. Foi um
reencontro significativo com conversas saudáveis. Trocamos endereços de zap,
que é o costume atual. Para quem não
conhece, Helião (assim era chamado, pois é grandalhão). Como naquela época não
havia a predominância da linguagem politicamente correta, chegavam a chamá-lo
de Helião Preto.
Formado em odontologia, empresário do ramo
de brinquedos, foi vereador em várias legislaturas, presidente da Câmara,
vice-prefeito, sempre militando na política.
Aliás, quando usei o título de eleitor pela
primeira vez, havia votado nele por ser meu xará. Veja se isso é critério para
escolher um candidato. De repente, sumiu da cidade. Desencontros
familiares.
Dias depois, recebi uma mensagem do Helião
pelo zap que guardo até hoje como troféu:
“Hélio, nunca fomos companheiros políticos,
mas sempre respeitei você e o admirei pelos seus posicionamentos claros,
objetivos, sempre honestos e probos. Foi muito bom ver você com saúde e
atuante. A política deveria ter centenas e milhares de pessoas da sua têmpera e
da sua honestidade. O BRASIL SERIA OUTRO. VAMOS NOS REUNIR E TROCAR IDEIAS. BOM DIA”.
A expressão “nunca fomos companheiros
políticos” quer dizer: nunca fomos do mesmo partido, mas na Câmara formávamos a
diminuta bancada de oposição. Depois dessas palavras, eu me senti “o cara”.
Por que estou contando esse caso? Querendo
aparecer? Não. A crônica é um texto contado em primeira pessoa, uma conversa
solta, informal, com o leitor. Há um certo conchavo, compadrio entre leitor e
cronista.
Estou tentando mostrar que ainda bem que as
conversas políticas terminavam em pizza naquela época. Atualmente, elas estão
terminando em facada, tiros, assassinatos. O voto é um substituto das
revoluções, mas parece que o ser humano está voltando a seus primórdios.
Os contrários, os diferentes, gente com
pontos de vista divergentes não precisam levar as discordâncias
para o campo da violência. A beleza da democracia é essa convivência do respeito pelo
outro, mesmo que não concorde com ele.
Nosso encontro me foi um bálsamo.
3 comentários:
Excelente texto. Prova que podemos ter opiniões diferentes e ainda assim, tomarmos um belo e delicioso chopp juntos.
Oportuno texto. Hoje, com o desviu sobre o que é política e seus desdobramentos, sobrou uma pobreza de ataques pessoais, principalmente os de ordens religiosas e morais. Não se discute politicamente os graves problemas que estamos enfrentando. O que restou foi isto que estamos vendo. Uma tragédia!
Sempre tive tenho & terei muito muito respeito pelos dois personagens. Mestre Hélio & Dr.Helio ! Parabéns pelo texto !
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