AGENDA CULTURAL

9.12.25

Rio de Janeiro, 1808 e sargento de milícias

Escadaria de Saleron, 250 degraus, 125m metros. Liga Santa Teresa com a Lapa

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor  

Os livros 1808, de Laurentino Gomes, e memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, abordam o mesmo período histórico do Brasil, a chegada da família real portuguesa ao Rio de Janeiro e suas consequências, mas o fazem em gêneros diferentes: um é um livro de não ficção e o outro é um romance, considerado um clássico da literatura brasileira. Já li os dois livros.

Os livros temáticos, como 1808, precisam comprovaro que afirmam, por isso Laurentino Gomes pesquisoudurante 10 anos para escrever o primeiro livro de suacoleção. Não pode insinuar, precisa afirmar com provas.

Já o cronista, o romancista reproduzem aspectos darealidade, reproduzindo situações, personagens comnomes fictícios. Usam a linguagem figurada, ambígua,imaginando situações.

A palavra "milícia" na época de Dom João VI (1808-1821) no Brasil era uma corporação militar desegunda linha das forças reais, era a polícia. 

Hoje, milícia no Brasil se refere a grupos criminosos paramilitares formados por agentes de segurança e civis que controlam territórios, exploram serviços (gás, transporte, internet), extorquem moradores e comerciantes sob a falsa premissa de "segurança", e estão cada vez mais infiltrados na política e envolvidos com o tráfico de drogas, operando como um Estado paralelo e violento em áreas urbanas, especialmente no Rio de Janeiro (IA). 

No livro Memórias de um sargento de milícias, o anti-herói Leonardo que vivia a dar trabalho nas ruas do 
Rio de Janeiro foi transformado em sargento de 
milícia o após famoso "jeitinho brasileiro" que 
dominava o reinado de Dom João VI.    

Leonardo, o protagonista do romance de Manuel Antônio de Almeida, chegou ao posto de sargento de milícias por influência da mulher do Major Vidigal, Maria Regalada, o perseguidor. 

Memórias de um sargento de milícias foi publicado primeiro em jornais, em capítulos, depois em livro (1853) bem depois do reinado de João VI em pleno romantismo brasileiro (1836-1881), era um livro que já antecipava o realismo.

Visitando o Rio de Janeiro recentemente e seguindo o noticiário político, percebi que a cidade é maravilhosa, mas medonha em corrupção. Lendo os cronistas Machado de Assis, João do Rio e, principalmente, Lima Barreto vamos confirmar isso. Num discurso apocalíptico e distópico, a cidade pode ser chamada de coração das trevas.

1808, de Laurentino Gomes, trabalha com conceitos, fatos reais, com a nobreza, a classe dominante do Rio de Janeiro. Memórias de um sargento de milícias trabalhou com personagens ficcionais. Apesar de Manuel Antônio de Almeida ser médico, os personagens de seu romance pertencem ao povo miúdo.           


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