AGENDA CULTURAL

23.9.11

Sarau da Cooperifa faz dez anos em momento de alta da poesia

Sérgio Vaz em sarau na Casa das Rosas - São Paulo
Fabio Victor - Folha de S.Paulo - 20/09/2011

Em outubro de 2001, os poetas Sérgio Vaz e Marco Pezão organizaram, num bar de Taboão da Serra, na Grande São Paulo, o primeiro Sarau da Cooperifa. Quase ninguém soube, quase ninguém viu --e durante um bom tempo foi assim. Dez anos depois, e desde 2003 em outro endereço, um boteco no Jardim Guarujá, zona sul da capital, o encontro poético é um acontecimento da periferia paulistana.

Veja galeria de fotos dos saraus de São Paulo.

Fundador da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia), Vaz, sete livros publicados, criou filhotes do sarau. Fez a Semana de Arte Moderna da Periferia, a Mostra Cultural da Cooperifa, a Poesia no Ar (balões soltos com versos), a Chuva de Livros, o Cinema na Laje, o Ajoelhaço (em que homens pedem perdão às mulheres) etc. E o sarau irradiou poesia pelas bordas da cidade. Há pelo menos 50 encontros do tipo em São Paulo, a maior parte na periferia. Dos saraus surgiram escritores elogiados --como o próprio Vaz, Binho e Sacolinha-- e um nicho editorial.

Saíram da periferia iniciativas como as Edições Toró, de Allan da Rosa, e o Selo Povo, de Ferréz --que não faz sarau, mas os elogia e vai a muitos lançar seus livros. Até uma editora tradicional, a Global, criou um selo de literatura periférica. O movimento das franjas ganhou o respeito do centro, "do outro lado da ponte".

"Estamos no meio de uma revolução. A poesia, que até o século passado era vista como arte de elite, está mudando de dono e de classe social, indo para a periferia. É a coisa mais importante da literatura brasileira hoje", diz o poeta Frederico Barbosa, diretor da Casa das Rosas, que abriga saraus na avenida Paulista, organizados com o auxílio de Marco Pezão.

A professora da UFRJ Heloisa Buarque de Hollanda vê essa cena como um renascimento "dos velhos saraus de salão do século 19" transfigurados, um "rito de passagem entre o privado e o público". A onda poética periférica se junta a um bom momento para a poesia no mercado editorial. Novas coleções são lançadas e poetas inéditos chegam ao país.

Esta edição voltada ao verso destaca ainda o novo livro de Francisco Alvim, novas expressões poéticas em meios não impressos e a obra do crítico americano David Orr, que discute o significado de ler poesia hoje.

Um comentário:

jhamiltonbrito.blogspot.com disse...

O Vaz e o Pezão insistiram e o sarau se firmou. Aqui em Araçatuba -terrinha de gente acomodada - nada se faz e quando faz quem deveria aparecer, não aparece. Não era para " alguém " com maior prestígio, condição de reunir pessoas emm torno de si, liderar eventos deta natureza. Acha que se eu ou o tadinho do Heitor organizarmos umm sarau...nem os do grupo experimental aparecem. É bom falar em cultura, fazê-la é melhor ainda. Asim como navegar, nota-se que renovar é preciso.