Hélio Consolaro*
Dependências do MAAP - Museu Araçatubense de Artes Plásticas - que funciona na Casa da Cultura Adelino Brandão |
O Instituo Noroestino de
Tecnologia, Educação e Cultura, Intec, é um ícone na cultura de Araçatuba.
Cultura no sentido mais restrito, mais ligado ao padrão erudito.
Ao conversar com um
sessentão que teve uma militância política contrária à ditadura militar ou era
um participante da cultura marginal, falar do Intec é vasculhar o baú, encher
os olhos de lágrimas, saudade pura.
Precisamos analisar no
contexto nacional o que representava o Intec. Parece paradoxo, mas foi durante
a ditadura militar que a cultura oficial mais se organizou. Criou-se a Funarte
(1975), o Conselho Federal de Cultura (1966), o Conselho Nacional de Cinema
(1976), a Radiobrás (1976) e a Fundação Pró-Memória. Isso é um exemplo de que o
autoritarismo não é fruto da ignorância, trata-se de uma posição política
esclarecida.
O Intec não participava
dessa cultura oficial, bem comportada. Fundado por um professor italiano,
Franco Baruselli (PMDB), um social-democrata, que tinha ideias novas, arejadas.
E debaixo do guarda-chuva do Intec abrigavam-se jovens psicodélicos, hippies,
gente que falava de lado, olhava para o chão, porque faltava liberdade
política. Era uma juventude partidária da contracultura. Os diferentes, os
contras passaram pelo Intec. Havia uma efervescência cultural porque o
obstáculo é um desafio.
Por isso, caro leitor, às
vezes você pergunta a seus pais ou avós sobre o Intec, e eles demonstram um
desconhecimento total sobre a antiga entidade. Ou eles eram alienados politicamente
ou apoiavam a ditadura militar. Para eles, o teatro Castro Alves é um teatrinho
qualquer. Não se trata de pichá-los, mas de fazer uma localização histórica.
No decorrer do tempo,
tivemos a experiência dos CIEPS – governo Brizola/Darcy Ribeiro (PDT) - a
criação do MinC em 1985 pelo governo Sarney (PMDB), a lei Sarney de incentivos
fiscais. Marilena Chauí na secretaria municipal de Cultura do governo de Luíza
Erundina – PSB - (1989-1992), passamos por Collor (PRN) que foi um desastre
também para o mundo cultural. O lema do governo FHC (PSDB) era “Cultura é um
bom negócio” e o ministro Francisco Weffort caiu no esquecimento.
O governo Lula (PT)
resgatou o que está escrito na Constituição de 1988: “a lei estabelecerá
incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais”. O ministro Gilberto Gil convocou a 1.ª
Conferência Nacional de Cultura, a gestão cultural (pública) está aos poucos
sendo democratizada. Agora parte dos recursos públicos destinados à cultura é
repassada à sociedade para que ela produza cultura. É o que o prefeito Cido
Sério (PT) está fazendo com a implantação do Fundo Municipal de Apoio à
Cultura. Poucos municípios brasileiros atenderam ao apelo do Minc para a
democratização da gestão cultural (782 municípios num universo de 5.565),
Araçatuba é um deles.
Assim, no mesmo prédio do
antigo Intec, onde se encontra atualmente a Casa da Cultura Adelino Brandão, se
fez sábado, 21/01/2012, das 9h às 12h, um curso de treinamento de como
artistas, produtores e entidades culturais possam atender adequadamente aos
editais da Secretaria Municipal de Cultura de Araçatuba ao financiamento (não é
empréstimo) de atividades culturais na área de evento e fomento. Lá
compareceram 50 agentes culturais. Para se chegar a isso, houve uma longa
caminhada. Não sabemos se é o melhor
resultado, mas é o que queríamos.
*Hélio Consolaro é
professor, jornalista, escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura
de Araçatuba-SP
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