Hélio Consolaro*
"Tá tudo aceso em mim/ Tá tudo assim tão claro/ Tá
tudo brilhando em mim/ [...]Tudo ligado.../ [...]Tudo plugado" Adriana Calcanhato
Não seja cruel com os
velhos, caro leitor. Você pode estar em fase de crescimento, mas na hora em que
ficar adulto (30 anos, por exemplo), já começa a administrar perdas.
O jovem bonito (ou a jovem)
tem a velhice como carrasco, porque perde muito. Já encontrei minhas musas da
juventude exageradamente envelhecidas. Outras, feiosas, estão mais bonitas como
velhas.
Ser um velho alegre é
saber administrar as perdas. Perde cabelo, a visão fica fraca e se ganham
óculos, já não se ouve bem, fica-se lerdo. Os dentes vão sumindo, aparecem
muitas próteses. Boca de velho é a riqueza do dentista. Come-se pouco, mas a
conta da farmácia cresce assustadoramente.
No final da trajetória, o acidente começa a ter perda
total. Só funerária dá jeito. Aí começam as queixas, as lamentações: no meu
tempo, hoje em dia. Aquela falta de adaptação aos novos tempos. Ninguém merece
ter em casa um velho de alma muito mais envelhecida, que só fala do passado. Como escreveu Michel de Montaigne (a cada dia
admiro mais esse filósofo cronista), não podemos deixar a velhice nos fazer
rugas no espírito.
Como não há escape, pois
todos querem viver muito, mas ninguém pretende envelhecer, que passemos pela
velhice com dignidade. O idoso é um carro velho com motor novo. A alma quer
fazer tudo, mas a carroceria já não corresponde.
Seu avós, caro leitor,
possuem uma quietude natural da velhice, pois a energia corporal vai sumindo,
mas eles são fogos disfarçados, brasas sob cinzas. Não estou falando sobre
sexo, mas isso também. Dê-lhes atenção, às vezes, o jeito de viver do entorno é
que os deixa assim, meio abatidos.
Ao ouvir “Âmbar”, de
Adriana Calcanhoto, interpretada por Maria Bethânia, fiquei a pensar em mim.
Não que eu esteja apaixonado, porque, como diz o amigo Heitor Gomes, velho
apaixonado é uma anarquia. Dá um trabalho infernal.
Aliás, quem detesta velho
apaixonado é o INSS. O sujeito está na lista negra, menos um na folha de
pagamento, aí se apaixona por uma moça, faz um filho com muita dificuldade (com
a ajuda do Viagra). Pronto! O benefício precisa ser pago por mais 18 anos ao
rebento. Prejuízo para a previdência, mais um avô sendo chamado de pai.
Cuidado, amigo. Há gente
de olho em sua magra aposentadoria... Há Maria-chuteira, Maria-gasolina...
Agora surgiu uma nova categoria de oportunistas, Maria-fraldão! Sabemos que não dá mais para usar camisinha,
pois o Bráulio pensa que é toca e dorme, mas a pílula anticoncepcinal... Sabe
de uma coisa, que se dane o governo, e viva Epicuro!
Fazer humor com a própria
desgraça é sinal de inteligência, mas paremos por aqui, porque a coisa é séria.
Concordo com o Sêneca,
filósofo do Império Romano: “Quando a velhice chegar, aceita-a, ama-a. Ela é
abundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que vão gradualmente
declinando estão entre os mais doces da vida de um homem, mesmo quando tenhas
alcançado o limite extremo dos anos, estes ainda reservam prazeres.”
Então, caro leitor, trate
bem seus velhinhos, mesmo que sejam pobres. Velho rico é um encanto! Não sei
por que, estou filosofando muito. Será a idade?
*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura de Araçatuba.
Um comentário:
kkkkkkkkkkkkkkk Adorável! Dei boas risadas aqui na calada da minha manhã! Impagável!"Maria Fraldão"kkkkkkkkk
Não, caro Secretário, não é a idade não. Pior: é o amor mesmo. Ele não escolhe idade, nem marca kilometragem. kkkkkkkkkkkkkkkkkk
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