Poeta não
sabe escrever! Cria, decora e guarda as letras na memória.
02/08/2012 – Com mais de 80 anos e nascido em Arapiraca (AL), Antônio Miguel da Silva, desde os 10 anos escreve e declama poemas. Aliás escrever não é bem a palavra mais correta. Sem formação, Peito Pardo, como é conhecido por seu nome artístico declama suas poesias todas vindas de sua cabeça. Para a surpresa maior, as letras têm mais de 30 anos, e todas, são lembradas por ele na hora das apresentações.
02/08/2012 – Com mais de 80 anos e nascido em Arapiraca (AL), Antônio Miguel da Silva, desde os 10 anos escreve e declama poemas. Aliás escrever não é bem a palavra mais correta. Sem formação, Peito Pardo, como é conhecido por seu nome artístico declama suas poesias todas vindas de sua cabeça. Para a surpresa maior, as letras têm mais de 30 anos, e todas, são lembradas por ele na hora das apresentações.
Tudo Leva
João Mulato e Douradinho
(Peito Pardo / Jesus Belmiro / João Mulato)
O carteiro leva a carta entrega de mão em mão
Tintureiro leva a roupa o padeiro leva o pão
O mineiro leva o ouro vento leva o pó do chão
Baiano quando se ofende já leva a mão no facão.
Quem leva tombo de amor leva dor no coração
Faz suspiro entre cortados feito que levar paixão
Gosto de levar o andor quando vou na procissão
Mas não gosto de levar amigo meu em caixão.
O beija-flor leva pena pra fazer ninho macio
Pescador leva a linhada quando vai pescar no rio
Quem parte leva saudade deixando um lugar vazio
Eu levo gosto na boca dos beijos de quem partiu.
Leva surra da polícia quem é malandro e vadio
E quem trabalha de noite leva agasalho de frio
Quando eu entro no jogo sempre levo mais de mil
Pra onde querem levar o futuro do Brasil.
Tintureiro leva a roupa o padeiro leva o pão
O mineiro leva o ouro vento leva o pó do chão
Baiano quando se ofende já leva a mão no facão.
Quem leva tombo de amor leva dor no coração
Faz suspiro entre cortados feito que levar paixão
Gosto de levar o andor quando vou na procissão
Mas não gosto de levar amigo meu em caixão.
O beija-flor leva pena pra fazer ninho macio
Pescador leva a linhada quando vai pescar no rio
Quem parte leva saudade deixando um lugar vazio
Eu levo gosto na boca dos beijos de quem partiu.
Leva surra da polícia quem é malandro e vadio
E quem trabalha de noite leva agasalho de frio
Quando eu entro no jogo sempre levo mais de mil
Pra onde querem levar o futuro do Brasil.
O mais curioso é que Peito Pardo já
escreveu um livro, não publicado, mas ditado por ele a uma pessoa. “Eu não
tenho formação, eu às vezes peço pra alguém escrever pra mim. Dito pra pessoa,
e ela datilografa lá as letras que vou falando”.
O estilo musical criado por Tião Carreiro, o pagode sertanejo, Peito Pardo diz ser
seu preferido. Ele é poeta, não músico, apenas as letras do pagode são compostas
por ele. A dupla João Mulato e Douradinho já fez a melodia de suas letras.
A capacidade de guardar as letras só na
cabeça é curioso. Declamando, ele fala o nome de 600 cidades sem repetir
nenhuma delas.
Peito Pardo é filho de poeta. Em sua terra
natal, ele disse que muitas crianças têm essa sensibilidade, pois o
convívio com a miséria é a realidade permanente. “Meu pai era poeta. O sertão é
muito pobre e a gente só trabalhava, quando a gente tava em casa eu ficava
olhando a paisagem do sertão e sem estudo, ia criando as letras na minha
cabeça”, disse o poeta.
Aos 17 anos, o poeta resolveu deixar tudo
para trás. Veio de ônibus com uma família de desconhecidos para São
Paulo. Chegando na capital, sem conhecer nada e ninguém, a família que ele veio,
conheceu o que na época era chamado de “agenciador”, um homem que se encarregava
de encaminhar os nordestinos que chegavam à capital para trabalhar. Estes
trabalhos geralmente eram nos campos. O poeta foi de trem para Oswaldo
Cruz. Em 1949 veio para Araçatuba e casou-se. Tem oito filhas e vive com suas
lembranças bem vivas em sua mente.
Um comentário:
Verdadeiro artista nato. Aclamado pelo povo. Pena que não é "Cult".
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