Importante pioneiro da Internet, o cientista Danny Hillis lança um alarme importante: a rede pode falhar ou colapsar a qualquer momento. Precisamos com urgência de um plano paralelo de reserva para evitar que o mundo pare
8 DE MAIO DE 2013 - Revista oásis
Tradução para o português: Rodolfo Luis Dal Picolo. Revisão: Cristiano Garcia
Nos anos 70 e 80, quando os usuários ainda eram poucos e distantes uns dos outros, um espírito generoso difundiu-se na Internet. Hoje, porem, a rede é onipresente, conectando bilhões de pessoas, máquinas e partes essenciais de infraestrutura - deixando-nos vulneráveis a ataques cibernéticos ou ao colapso total. O pioneiro da Internet Danny Hillis defende que a rede não foi projetada para esse tipo de escala. Nesta palestra proferida no TED ele soa o alarme para que desenvolvamos um plano B: um sistema paralelo de reserva caso - ou quando - a Internet entre em colapso.
"Então, este livro que tenho em minha mão é uma lista de todos que tinham um endereço de e-mail em 1982. (Risos) Na verdade, é enganosamente grande. Há apenas cerca de 20 pessoas em cada página, porque temos o nome, endereço e telefone de cada pessoa. E, de fato, todo mundo está listado duas vezes, porque é uma vez ordenado pelo nome e, uma vez por endereço de e-mail. Obviamente, uma comunidade muito pequena.
Havia apenas dois Dannys na internet. Eu conhecia os dois. Nós não nos conhecíamos todos uns aos outros, mas tínhamos certa confiança uns nos outros, e esse sentimento básico de confiança permeava toda a rede, e havia uma sensação real de que podíamos depender um do outro para fazer as coisas.
Somente para dar a vocês uma ideia do nível de confiança existente nessa comunidade, deixe-me contar como era registrar um domínio no início. Bem, aconteceu que eu consegui registrar o terceiro domínio na internet. Dessa forma eu poderia ter qualquer domínio que quisesse, desde que fosse diferente de bbn.com e symbolics.com. Então eu escolhi think.com, mas depois pensei, vocês sabem, existem muitos nomes realmente interessantes por aí. Talvez eu deva registrar alguns extras por precaução. Depois pensei, "Não, isso não seria legal."
Aquela atitude de apenas apropriar-se daquilo que você precisa era realmente o que todos faziam na rede naqueles dias e, de fato, não eram somente as pessoas na rede, mas era na realidade mais ou menos inserido nos protocolos da Internet em si. Desta maneira a ideia básica do IP, ou protocolo de Internet, e a forma que o - o algoritmo roteador usado eram fundamentalmente "de cada um de acordo com sua habilidade, para cada um de acordo com sua necessidade." Desse modo, você mandaria uma mensagem para alguém. Se eles tinham alguma banda extra, eles mandariam uma mensagem para você. Você meio que contava que as pessoas fariam isso, e isso era o elemento essencial. Na verdade é interessante que um princípio tão comunista foi a base de um sistema desenvolvido durante a Guerra Fria pelo Departamento de Defesa, mas ele obviamente funcionou muito bem, e todos nós vimos o que aconteceu com a Internet. Ela foi incrivelmente bem sucedida.
Então, o fato é que existem muitos sujeitos maus na Internet hoje em dia, e nós lidamos com isso estabelecendo comunidades fortificadas, sub-redes escuras, VPNs, pequenas coisas que na verdade não são a Internet porém são feitas dos mesmos elementos essenciais, mas nós ainda a estamos basicamente desenvolvendo em cima dos mesmos elementos essenciais, com as mesmas presunções de confiança. E isso quer dizer que ela é vulnerável a certos tipos de erros que podem ocorrer, ou certos tipos de ataques deliberados, mas mesmo os erros podem ser perigosos.
Então, por exemplo, em toda Ásia recentemente, era impossível acessar o YouTube por algum tempo porque o Paquistão cometeu alguns erros na maneira em que estava censurando o YouTube na sua rede interna. Eles não tinham intenção de atrapalhar a Ásia, mas fizeram-no por causa do modo como os protocolos funcionam.
Outro exemplo que talvez possa ter afetado muitos de vocês nessa plateia é, vocês talvez se lembrem alguns anos atrás, todos os voos a oeste do Mississipi foram impedidos de decolar porque uma única placa de roteamento em Salt Lake City tinha um erro. Agora, vocês realmente não pensam que nosso sistema de aviação depende da Internet, e de alguma forma ele não depende. Voltarei a isso depois. Mas o fato é que as pessoas não poderiam decolar porque alguma coisa estava errada na Internet, e o plano de voo estava inacessível.
Deste modo, existem muitas destas coisas que começam a acontecer. Agora, ocorreu algo interessante em abril passado. De repente, uma grande porcentagem do tráfego em toda Internet, incluindo muito do tráfego entre as instalações militares americanas, começaram a ser redirecionadas para China. Então, por umas poucas horas, tudo aquilo passou pela China. Agora, a China Telecom disse que isso foi somente um erro de boa-fé, e na verdade é possível que seja mesmo, da forma como as coisas funcionam, mas certamente alguém poderia cometer um erro de má-fé deste tipo se quisesse, e isso mostra a vocês quão vulnerável é o sistema, até para erros. Imaginem quão vulnerável é o sistema para ataques deliberados.
Desta forma, se alguém realmente quiser atacar os Estados Unidos ou a civilização ocidental atualmente, eles não vão fazê-lo com tanques. Isso não teria sucesso. O que eles provavelmente farão é algo muito parecido com o ataque que aconteceu na instalação nuclear iraniana. Ninguém assumiu a autoria daquilo. O local era basicamente uma fábrica de máquinas industriais. Ela não achava que estava conectada à Internet. Ela achava que estava desconectada da Internet, mas era possível para alguém introduzir clandestinamente um pen drive lá dentro, ou algo parecido. Desse modo, um programa foi introduzido e fez com que as centrífugas, neste caso, realmente destruíssem a si mesmas. O mesmo tipo de programa poderia destruir uma refinaria de óleo ou uma indústria farmacêutica ou uma fábrica de semicondutores. Por isso fala-se muito – estou certo que vocês leram isso nos jornais - sobre preocupações em relação a ataques cibernéticos e defesas contra eles.
Porém, o fato é que as pessoas estão mais concentradas em defender os computadores na Internet, e surpreendentemente há pouca atenção em defender a Internet em si como um meio de comunicação. Penso que, provavelmente, precisamos prestar um pouco mais de atenção a isso, porque na verdade ela é um tanto frágil. Na verdade, no começo,quando ela era a ARPANET, houve algumas vezes, realmente, em que ela falhou por completo, - porque um único processador mensageiro tinha algum defeito. Na forma como a Internet funciona, os roteadores estão basicamente trocando informações sobre como eles podem conseguir mandar mensagens para lugares, e esse único processador, por causa de uma placa defeituosa, decidiu que poderia mandar a mensagem para algum lugar em tempo negativo. Então, em outras palavras, ele sustentava que poderia entregar a mensagem antes que você a mandasse. Desse jeito, é claro, a maneira mais rápida de enviar a mensagem a qualquer lugar era enviá-la a esse sujeito, o qual iria enviá-la de volta no tempo para fazê-la chegar super cedo. E então, toda mensagem na Internet começou a ser desviada através desse único nó, e naturalmente isso obstruiu tudo. Tudo começou a ruir. O interessante era, entretanto, que os administradores do sistema conseguiram consertá-la, mas eles tiveram que basicamente desligar todos os equipamentos da Internet. Agora, naturalmente você não poderia fazer isso hoje. Quero dizer, desligar tudo, é como o serviço de chamada que você recebe da empresa de TV a cabo, só que de todo o mundo.
Presentemente, de fato, eles não poderiam fazê-lo por uma série de razões. Uma destas razões é que muitos dos seus telefones utilizam protocolo IP e coisas como Skype e outras que vão pela Internet agora, e então de fato nós estamos nos tornando dependentes dela para mais e mais coisas diferentes, como quando você decola do aeroporto de Los Angeles, você na verdade não está pensando que está usando a Internet. Quando você abastece com combustível, na verdade não pensa que está usando a Internet. O que está acontecendo progressivamente, contudo, é que esses sistemas estão começando a usar a Internet. A maioria deles ainda não é baseada na Internet, mas eles estão começando a utilizar a Internet para funções do serviço, para funções administrativas, e se você analisa algo como o sistema de telefonia celular, o qual ainda é relativamente independente da Internet em sua maior parte, pedaços da Internet estão começando a entrar sorrateiramente nele em termos de alguns dos controles e funções administrativas, e desta forma é tentador usar as mesmas fundações pois elas funcionam tão bem, são baratas, são repetidas e assim por diante. Então todos os nossos sistemas, mais e mais, estão começando a usar a mesma tecnologia e começando a depender dessa tecnologia. E dessa maneira até um moderno foguete nos dias atuais utiliza o protocolo de Internet para falar de uma ponta do foguete a outra. Isso é loucura. Ela nunca foi projetada para fazer coisas desse tipo.
Então, nós construímos este sistema onde nós entendemos todas as suas partes, porém estamos usando-o de um modo muito, muito diferente do que esperávamos utilizar, e isso assumiu uma escala muito, muito diferente daquela para a qual foi projetada. E na realidade, ninguém entende exatamente todas as coisas nas quais ela está sendo usada agora mesmo. Ela está se transformando em um desses grandes sistemas emergentes como o sistema financeiro, onde projetamos todas as partes mas ninguém realmente entende exatamente como ele opera e todos seus pequenos detalhes e quais tipos de comportamentos emergentes ele pode ter. Dessa forma, se você ouvir um especialista falar sobre a Internet e dizer que ela consegue fazer isso, ou que faz isso, ou que fará aquilo, você deve tratá-lo com o mesmo ceticismo com que você talvez trataria os comentários de um economista sobre a economia ou do homem do tempo sobre o tempo, ou alguma coisa desse tipo. Eles têm uma opinião informada, mas ela está mudando tão rapidamente que até os especialistas não sabem exatamente o que está ocorrendo. Então, se você vir um desses mapas da Internet, é apenas o palpite de alguém. Ninguém sabe na verdade o que é a Internet atualmente, porque ela é diferente do que era uma hora atrás. Ela está constantemente mudando. Constantemente se reconfigurando.
E o problema com isso é, eu penso que estamos nos preparando para um tipo de desastre como o desastre que tivemos no sistema financeiro, onde temos um sistema que é basicamente construído sob confiança, foi basicamente construído para um sistema de escala menor, e nós meio que o expandimos muito além dos limites do modo como ele deveria operar. E agora mesmo, penso que é literalmente verdade que não sabemos quais as consequências de um efetivo ataque de negação de serviço à Internet seria, e qualquer que ele fosse, seria ainda pior no ano seguinte, e pior no ano depois desse e assim por diante.
Dessa forma, o que precisamos é de um plano B. Não existe plano B nesse momento. Não existe um sistema de backup definido que tenhamos mantido cuidadosamente para ser independente da Internet, composto de fundações completamente diferentes. Então, o que precisamos é algo que não necessariamente precisa ter a performance da Internet, mas o departamento de polícia tem de ser capaz de chamar o corpo de bombeiros mesmo sem a Internet, os hospitais tem de poder pedir combustível. Isso não precisa ser um projeto governamental multibilionário. Na verdade é relativamente simples, tecnicamente, de fazer, pois ele pode usar as fibras óticas que estão no chão, e a infraestrutura sem fio já existente. É basicamente uma questão de decidir fazê-lo.
Porém as pessoas não vão decidir fazê-lo enquanto elas não reconhecerem a sua necessidade, e esse é o problema que possuímos no momento. Houveram muitas pessoas, muitos de nós, que tem discutindo calmamente que deveríamos ter esse sistema independente há muitos anos, mas é muito difícil fazer com que as pessoas concentrem-se no plano B quando o plano A parece estar funcionando tão bem.
Então eu penso que, se as pessoas entenderem o quanto estamos começando a depender da Internet, e o quão vulnerável ela é, poderíamos conseguir nos concentrar em apenas querer que este outro sistema exista, e penso que se pessoas suficientes disserem, "Claro, eu gostaria de utilizá-lo, gostaria de ter esse sistema", então ele será construído. Este não é um problema tão duro. Ele definitivamente poderia ser feito por pessoas neste recinto.
Dessa forma, penso que isso é, na verdade, de todos os problemas que vocês vão ouvir falar na conferência, este é provavelmente um dos mais fáceis de resolver. Então, estou feliz de ter a chance de contar a vocês sobre isso. Muito obrigado".
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