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Coliseu Romano |
Hélio
Consolaro*
As
pessoas, às vezes, dependem de orientação sobre como agir no seu cotidiano ou julgar
a ação de alguém como boa ou ruim. Muitas delas apelam para a religião e quando
não entendem bem nem a religião que seguem, resolvem bater um papo com o seu orientador
espiritual (padre ou pastor).
Essa
orientação necessária é fácil, não precisa conhecer muito filosofia, teologia e
outras palavras com a terminação “–gia”, basta ter princípios éticos. Basta ter
como ética a reverência pela vida. Essa sabedoria visceja em corações
analfabetos.
Visitando
o Coliseu Romano, a guia Cláudia, exímia conhecedora da história de sua cidade,
explicava o que ocorreu com aquele monstruoso prédio em ruínas, que está sendo
restaurado. Aliás, os guias turísticos bem preparados são verdadeiros
professores, como aprendemos com sua explicação.
Cláudia
dizia com ênfase, em nenhum momento citou terremoto como causa da depauperação
do prédio, que o Coliseu Romano foi motivo de pilhagem. E por quem? Pela Igreja
que usava os mármores que cobriram o famoso prédio romano para fazer seus
gigantes templos, já que houve duas Romas, a dos imperadores e a dos papas.
Isso não ocorreu apenas com o Coliseu.
Guia Cláudia, romana, muito competente |
Mas
a Igreja Romana, como demonstração de força, para se dizer tão poderosa quanto
ao Império Romano, construía (e ainda constrói) templos faraônicos, utilizando
inclusive a mão de obra escrava. A igreja que nascera numa manjedoura,
portadora de uma mensagem de simplicidade, se transformou com a adesão de imperadores
ao cristianismo na religião dos poderosos, igualou-se ao Império Romano,
ostentando grandeza material e luxúria.
Você,
caro leitor, vai me dizer que os objetivos eram diferentes. A Igreja enaltecia
Deus e os santos, enquanto o Império Romano apenas o poder. Na verdade, os fins
não justificam os meios e a nossa pecadora Igreja também foi poder (ainda é)
por muito tempo. Ela derrotou o inimigo e assumiu o lugar dele, não construiu
um mundo novo como propunha.
Como
pregou Albert Schweitzer (citado por Rubem Alves na crônica “Em defesa da Vida ”)
um homem nunca pode ser sacrificado por um fim. Na lógica das organizações,
cada funcionário é apenas um meio para o fim da organização, não importa quão
grandioso ele seja. A vida, não apenas dos seres humanos, é maior que as
organizações.
Então,
caro leitor, importa a reza, importa o discurso, mas acima de tudo o importante
é a reverência à vida em nosso planeta, no universo. Nem o Coliseu Romano, nem
a Basílica de São Pedro defenderam a vida.
*Hélio
Consolaro é professor, jornalista, escritor. Secretário Municipal de Cultura de
Araçatuba-SP
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