Hélio Consolaro*
No ano de 2000, o acadêmico Lourival Amilton Lautenschlager,
o Lorico (Academia Araçatubense de Letras), me trouxe do Ceará, como lembrança
de uma viagem que ele fez por lá o “Dicionário de Cearês”, de Marcus Gadelha –
um suvenir literário.
Trata-se de uma publicação de 161 páginas, na medida 11 cm
por 15 cm, da editora regional “Multigraf”. O prefácio é feito pelo brega star
Falcão. Os cearenses são unidos.
Os verbetes vão desde palavrões usados por cearenses até o
vocabulário do cotidiano. Exemplo: cabeça-chata – é como são conhecidos os
cearenses de todo o Brasil. Na verdade cearense tem uma beleza angulosa
semelhante a dos franceses, como: o ex-presidente Castelo Branco, Renato
Aragão, Chico Anísio – todos lindíssimos.
Agora tenho a notícia de que teremos um filme nacional,
falado em cearês, com legenda em português. Legendar ou não legendar foi uma
polêmica na produção do filme. Refiro-me a “Cine Holliúdy – O artista contra do
caba do mal”, de Halder Gomes, cuja origem é um curta do mesmo autor. O filme confronta
a ideia de que um sotaque não é só uma marca linguística regional, mas uma
visão de mundo.
As definições de
"dialeto" e "regionalismo" ajudam a entender o alcance do
cearês (ou cearensês). É o que diz o professor Josenir Alcântara de Oliveira,
doutor em filologia e língua portuguesa pela USP e professor da Universidade
Federal do Ceará.
“Se se entender, como [o linguista Larry] Trask, por dialeto ‘uma variedade distintiva de uma língua usada por falantes em uma particular região geográfica ou em um particular grupo social, poder-se-ia dizer que o cearês é um dialeto”.
“Se se entender, como [o linguista Larry] Trask, por dialeto ‘uma variedade distintiva de uma língua usada por falantes em uma particular região geográfica ou em um particular grupo social, poder-se-ia dizer que o cearês é um dialeto”.
Já a definição de
"regionalismo" extrapola o conceito de fronteiras. “Embora imbricado
com o dialeto, parece que o regionalismo o excede, uma vez que ele põe em
destaque não só os aspectos linguísticos, mas socioculturais da cultura popular
de uma região. Assim, parece razoável dizer que o cearês é um dialeto inserido
num regionalismo para quem o dialeto cearense tem como característica a
interferência no léxico. Por exemplo: "abestado", tolo;
"avexado", apressado; e na fraseologia: "botar buneco"
significa criar confusão.
O filme “Cine Holliúdy” conquistou os cineastas famosos
do Brasil, como o diretor Fernando Meireles, de Cidade de Deus, que elogiou o filme e afirmou que o ator Edimilson
Filho é um gênio. "O Brasil não vê um comediante popular assim desde
Oscarito. A última sequência do filme, onde Edimilson conta o filme para a
plateia [devido a uma falha na projeção] é antológica. Chaplin ficaria de boca
aberta.”
Como afirma
Halder Gomes: sotaque é a firmação de um estado de ser, por isso diz ficar
triste quando ouve alguém falando um
português sintético, negando suas origens.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor.
Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP
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