AGENDA CULTURAL

8.4.14

Documentário resgata política, futebol e rock'n'roll na ditadura

"Democracia em Branco e Preto", de Pedro Asbeg, conta como o esporte nacional e a música participaram da redemocratização do Brasil

São Paulo - "Pra todos aqueles que lutaram desde 1964, que morreram, que sumiram, que foram torturados, presos e exilados, a Democracia Corintiana bateu o pênalti”, afirma o ex-jogador e hoje comentarista Walter Casagrande no documentário Democracia em Branco e Preto, que foi exibido na edição de 2014 da mostra competitiva do Festival "É Tudo Verdade" nos dias 5 e 6 de abril, no Rio de Janeiro, e 10 e 11, em São Paulo.
O longa-metragem dirigido por Pedro Asbeg numa co-produção entre a ESPN Brasil, a TV Zero e a Miração Filmes, chega às telas exatamente na época em que o Brasil relembra os 50 anos do golpe de 1964 e os 30 anos da campanha das Diretas Já, em 1984.
Por meio de entrevistas atuais e imagens de arquivo, o filme resgata a importância do movimento liderado por Sócrates, Casagrande, Vladimir e Zenon em um dos maiores e mais populares times do país, o Corinthians. Há 18 anos vivendo sob regime militar, Sócrates percebeu que poderia tentar fazer dentro do time o que a sociedade era proibida de fazer nas ruas: exercer a liberdade individual e democratizar o processo de tomada de decisões.
Assim nasceu a Democracia Corintiana, sistema, apoiado pelo então presidente Waldemar Pires, em que todos, dos dirigentes aos funcionários, passando pelos atletas, podiam opinar e até votar em torno de grandes decisões do time, desde horário do treino a novas contratações. Passaram a exercer dentro do time direito que lhes era negado como cidadãos. O movimento acabou incomodando os dirigentes de outras equipes (que ficaram temerosos que a “moda” pegasse) e especialmente os militares, que tentavam se manter no poder, apesar do crescente clamor popular por liberdade e democracia.
Na música, a MPB continuava usando metáforas e “frestas” para criticar o modelo vigente e resistir à censura, mas começaram a pipocar bandas de jovens que usavam o rock'n'roll como uma forma de questionar o status quo. Legião Urbana, Barão Vermelho, Titãs, Ultraje a Rigor e Blitz cantavam, cada um no seu estilo, as mudanças que queriam ver no país.
Não por acaso, jogadores do Corinthians e alguns desses músicos dividiram espaço com políticos nos palanques na campanha pelas Diretas Já. Democracia em Preto e Branco não é, portanto, um filme apenas para corintianos: é uma visão do efervescente ambiente de derrocada da ditadura, com espírito esportivo.
Além dos protagonistas do movimento, como Sócrates (em uma das últimas entrevistas que concedeu) e Casagrande, o documentário tem depoimentos de Lula, Fernando Henrique Cardoso, Marcelo Rubens Paiva, Marcelo Tas, Edgar Scandurra, Frejat, Serginho Groisman, Paulo Miklos, entre outros.
Democracia em Preto e Branco
Direção: Pedro Asbeg
Produção executiva: Gustavo Gama Rodrigues e Rodrigo Letier
Locução: Rita Lee
Edição: Renato Martins
Direção de fotografia: Rodrigo Graciosa
Som direto: Rene Brasil
Pesquisa: Marcio Selem
Videografismo: Renato Vilarouca e Rico Vilarouca
Identidade visual: Tiago Peregrino
Trilha sonora original: Lucas Marcier e Fabiano Krieger
Edição de som e mixagem: Damião Lopes
Correção de cor: Daniel Canela
Pós-produção: Anna Julia Werneck
Duração: 1h22

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