AGENDA CULTURAL

7.5.14

Masoquista dietético

Hélio Consolaro*

Preocupar-se com a própria vida é instintivo que, em certas ocasiões, se afrouxa, chegando ao suicídio no ser humano. Há quem chegue ao mundo das excelências e se preocupa também com a vida alheia.

Nesta semana vivenciei duas situações paradoxais. Um de meus manos se preocupa demais com sua própria vida, beirando à hipocondria. Colegas de serviço dele tiveram câncer no intestino, ele correu a fazer colonoscopia, descobrindo que tem pólipos com alta benignidade e outros com baixa. Já esquentou a cabeça.

O médico, querendo aumentar a sua clientela, já disse que o fato é hereditário e quer que toda a família faça os exames. Desde quando me conheço por gente, ninguém morreu disso entre nossos ancestrais. Pode ser que o médico é uma santa criatura e eu é que não presto, com essa minha desconfiança.

Há um ditado popular que diz: quem procura acha. Qualquer pessoa com mais de 60 anos, como meu irmão, tem vários problemas no organismo, porque já estamos na velhice. Então, é só estacionar o carro defronte  a um consultório médico para achar algumas doenças. Por outro lado, não custa se cuidar.  

Vamos supor que eu siga a recomendação dele: faça colonoscopia! E de tão bom, sairei do médico doente, não vai ser um saco! Qual é a previsão melhor? Passar mais 05 anos na esbórnia ou viver mais 15 tomando remédio?

Ainda mais que descobri que já cumpri a minha parte nessa vida. Ninguém da família depende de mim para viver, já sou aposentado, tenho pouco a contribuir, apenas exerço a função de pajé no comando da Secretaria Municipal de Cultura por bondade do prefeito Cido Sério (PT).

Caminhemos com o texto. A cidade de Penápolis perdeu seu secretário municipal de Cultura, Maurílio Galoppi Santos, com 68 anos de idade de infarto, no dia 03/05/2014. A minha situação e a do Galoppi se pareciam: éramos o pajé da equipe de governo.

Galoppi havia sentido falta de ar no dia anterior, mas como era um sujeito avesso a médicos, não procurou alopatas e nem homeopatas, bateu a caçoleta, deixando a cultura de Penápolis falando sozinha.
Há gente que prefere o suicídio epicurista: viver bem a vida, fazendo tudo que gosta, pois morrer é uma questão de tempo; a ser um sujeito dietético, chato, ranzinza, um masoquista longevo.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP
  

Um comentário:

Anônimo disse...

O Hélio sempre a nos surpreender, como neste digamos desabafo sincero e despretensioso. Hilário seu ponto de visa. Agora entendo mais seu entusiasmo em tudo que assume, até no dizer que não tem receio do dia em que "ela" vier. Vai estender-lhe a mão e sair por aí rabiscando suas crônicas.
Meu abraço, Bié.