Hélio Consolaro*
Preocupar-se com a própria vida é instintivo que, em certas
ocasiões, se afrouxa, chegando ao suicídio no ser humano. Há quem chegue ao
mundo das excelências e se preocupa também com a vida alheia.
Nesta semana vivenciei duas situações paradoxais. Um de meus
manos se preocupa demais com sua própria vida, beirando à hipocondria. Colegas
de serviço dele tiveram câncer no intestino, ele correu a fazer colonoscopia, descobrindo
que tem pólipos com alta benignidade e outros com baixa. Já esquentou a cabeça.
O médico, querendo aumentar a sua clientela, já disse que o fato
é hereditário e quer que toda a família faça os exames. Desde quando me conheço
por gente, ninguém morreu disso entre nossos ancestrais. Pode ser que o médico
é uma santa criatura e eu é que não presto, com essa minha desconfiança.
Há um ditado popular que diz: quem procura acha. Qualquer
pessoa com mais de 60 anos, como meu irmão, tem vários problemas no organismo,
porque já estamos na velhice. Então, é só estacionar o carro defronte a um consultório médico para achar algumas
doenças. Por outro lado, não custa se cuidar.
Vamos supor que eu siga a recomendação dele: faça
colonoscopia! E de tão bom, sairei do médico doente, não vai ser um saco! Qual
é a previsão melhor? Passar mais 05 anos na esbórnia ou viver mais 15 tomando
remédio?
Ainda mais que descobri que já cumpri a minha parte nessa
vida. Ninguém da família depende de mim para viver, já sou aposentado, tenho
pouco a contribuir, apenas exerço a função de pajé no comando da Secretaria
Municipal de Cultura por bondade do prefeito Cido Sério (PT).
Caminhemos com o texto. A cidade de Penápolis perdeu seu secretário
municipal de Cultura, Maurílio Galoppi Santos, com 68 anos de idade de infarto,
no dia 03/05/2014. A minha situação e a do Galoppi se pareciam: éramos o pajé
da equipe de governo.
Galoppi havia sentido falta de ar no dia anterior, mas como era
um sujeito avesso a médicos, não procurou alopatas e nem homeopatas, bateu a caçoleta,
deixando a cultura de Penápolis falando sozinha.
Há gente que prefere o suicídio epicurista: viver bem a
vida, fazendo tudo que gosta, pois morrer é uma questão de tempo; a ser um
sujeito dietético, chato, ranzinza, um masoquista longevo.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.
Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP
Um comentário:
O Hélio sempre a nos surpreender, como neste digamos desabafo sincero e despretensioso. Hilário seu ponto de visa. Agora entendo mais seu entusiasmo em tudo que assume, até no dizer que não tem receio do dia em que "ela" vier. Vai estender-lhe a mão e sair por aí rabiscando suas crônicas.
Meu abraço, Bié.
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