Para quem gosta de ler um artigo mais substancioso, sem se importar com o tamanho dele.
Uma nova ofensiva de Washington
O principal assessor
econômico de Neves, que se tornaria Ministro da Fazenda no caso de uma
presidência de Neves, era Armínio Fraga Neto, cidadão norte-americano e
brasileiro, amigo íntimo e ex-sócio de George Soros e seu fundo hedge
“Quantum”.
Uma nova ofensiva de Washington
Por William Engdahl
Para ganhar o segundo turno
das eleições contra o candidato apoiado pelos Estados Unidos, Aécio Neves, em
26 outubro de 2014, a presidenta recém-reeleita do Brasil, Dilma Rousseff,
sobreviveu a uma campanha maciça de desinformação do Departamento de Estado
estadunidense.
Não obstante, já está claro que Washington abriu uma nova ofensiva contra um dos
líderes chave dos BRICS, o grupo não alinhado de economias emergentes – Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul.
Com a campanha de guerra
financeira total dos Estados Unidos para enfraquecer a Rússia de Putin e uma
série de desestabilizações visando a China, inclusive, mais recentemente, a
“Revolução dos Guarda-Chuvas” financiada pelos Estados Unidos em Hong Kong,
livrar-se da presidente “socialmente propensa” do Brasil é uma prioridade
máxima para deter o polo emergente que se opõe ao bloco da Nova (des)Ordem
Mundial de Washington.
A razão por que Washington
quer se livrar de Rousseff é clara.
Como presidente, ela é uma
das cinco cabeças do BRICS que assinaram a formação do Banco de Desenvolvimento
dos BRICS, com capital inicial autorizado de 100 bilhões de dólares e um fundo
de reserva de outros 100 bilhões de dólares.
Ela também apoia uma nova
Moeda de Reserva Internacional para complementar e eventualmente substituir o
dólar.
No Brasil, ela é apoiada por
milhões de brasileiros mais pobres, que foram tirados da pobreza por seus
vários programas, especialmente o Bolsa Família, um programa de subsídio
econômico para mães e famílias da baixa renda.
O Bolsa Família tirou uma
população estimada de 36 milhões de famílias da pobreza através das políticas
econômicas de Rousseff e de seu partido, algo que incita verdadeiras apoplexias
em Wall Street e em Washington.
Apoiado pelos Estados
Unidos, seu rival na campanha, Aécio Neves, do Partido da Social Democracia
Brasileira (PSDB), serve aos interesses dos magnatas e de seus aliados de
Washington.
O principal conselheiro de
Neves, e provavelmente seu Ministro das Relações Exteriores, tivesse ele
ganhado as eleições, era Rubens Antônio Barbosa, ex-embaixador em Washington e
hoje Diretor da ASG em São Paulo.
A ASG é o grupo de
consultores de Madeleine Albright, ex-Secretária de Estado norte-americana durante o bombardeio da Iugoslávia em 1999. Albright, dirigente do
principal grupo de reflexão dos Estados Unidos, o “Conselho sobre Relações
Exteriores”, também é presidente da primeira ONG da “Revolução Colorida”
financiada pelo governo dos Estados Unidos, o “Instituto Democrático Nacional”
(NDI).
Não é de surpreender que Rubens Barbosa tenha conclamado, numa campanha recente, o
fortalecimento das relações Brasil-Estados Unidos e a degradação dos fortes
laços Brasil-China, desenvolvidos por
Rousseff na esteira das revelações sobre a espionagem norte-americana da
Agência de Segurança Nacional (NSA) contra Rousseff e o seu governo.
Surgimento de escândalo de
corrupção
Durante a áspera campanha
eleitoral entre Rousseff e Neves, a oposição de Neves começou a espalhar
rumores de que Rousseff, que até então jamais fora ligada à corrupção tão comum
na política brasileira, estaria implicada num escândalo envolvendo a gigante
estatal do petróleo, a Petrobras.
Em setembro, um ex-diretor
da Petrobras alegou que membros do governo Rousseff tinham recebido comissões
em contratos assinados com a gigante do petróleo, comissões essas que depois
teriam sido empregadas para comprar apoio congressional.
Rousseff foi membro do
conselho de diretores da companhia até 2010.
Agora, em 2 de novembro de
2014, apenas alguns dias depois da vitória arduamente conquistada por Rousseff,
a maior firma de auditoria financeira dos Estados Unidos, a “Price Waterhouse
Coopers” se recusou a assinar os demonstrativos financeiros do terceiro
trimestre da Petrobras.
A PWC exigiu uma
investigação mais ampla do escândalo envolvendo a companhia petrolífera
dirigida pelo Estado.
A Price Waterhouse Coopers é
uma das firmas de auditoria, consultoria tributária e societária e de negócios
mais eivadas de escândalos nos Estados Unidos. Ela foi implicada em 14 anos de
encobrimento de uma fraude no grupo de seguros AIG, o qual estava no coração da
crise financeira norte-americana de 2008.
E a Câmara dos Lordes
britânica criticou a PWC por não chamar atenção para os riscos do modelo de
negócios adotado pelo banco “Northern Rock”, causador de um desastre de grandes
proporções na crise imobiliária de 2008 na Grã-Bretanha, cliente que teve que
ser resgatado pelo governo do Reino Unido.
Intensificam-se os ataques
contra Rousseff, disso podemos ter certeza.
A estratégia global de
Rousseff
Não foi apenas a aliança de
Rousseff com os países dos BRICS que fez dela um alvo principal da política de
desestabilização de Washington.
Sob seu mandato, o Brasil
está agindo com rapidez para baldar a vulnerabilidade à vigilância eletrônica
norte-americana da NSA.
Dias após a sua reeleição,
a companhia estatal Telebras anunciou planos para a construção de um cabo
submarino de telecomunicações por fibra ótica com Portugal através do
Atlântico.
O planejado cabo da
Telebras se estenderá por 5.600 quilômetros, da cidade brasileira de Fortaleza
até Portugal.
Ele representa uma ruptura
maior no âmbito das comunicações transatlânticas sob domínio da tecnologia
norte-americana.
Notadamente, o presidente
da Telebras, Francisco Ziober Filho, disse numa entrevista que o projeto do
cabo será desenvolvido e construído sem a participação de nenhuma companhia
estadunidense.
As revelações de Snowden
sobre a NSA em 2013 elucidaram, entre outras coisas, os vínculos íntimos
existentes entre empresas estratégicas chave de tecnologia da informática, como
a “Cisco Systems”, a “Microsoft” e outras, e a comunidade norte-americana de
inteligência.
Ele declarou que:
“A questão da integridade e
vulnerabilidade de dados é sempre uma preocupação para todas as companhias de
telecomunicações”.
O Brasil reagiu aos
vazamentos da NSA periciando todos os equipamentos de fabricação estrangeira em
seu uso, a fim de obstar vulnerabilidades de segurança e acelerar a evolução do
país rumo à autossuficiência tecnológica, segundo o dirigente da Telebrás.
Até agora, virtualmente
todo tráfego transatlântico de TI encaminhado via costa leste dos Estados
Unidos para a Europa e a África representou uma vantagem importante para
espionagem de Washington.
Se verdadeiro ou ainda
incerto, o fato é que sob Rousseff e seu partido o Brasil está trabalhando para
fazer o que ela considera ser o melhor para interesse nacional do Brasil.
A geopolítica do petróleo
também é chave
O Brasil também está se
livrando do domínio anglo-americano sobre sua exploração de petróleo e de gás.
No final de 2007, a
Petrobras descobriu o que considerou ser uma nova e enorme bacia de petróleo de
alta qualidade na plataforma continental no mar territorial brasileiro da Bacia
de Santos.
Desde então, a Petrobras
perfurou 11 poços de petróleo nessa bacia, todos bem-sucedidos. Somente em Tupi
e em Iara, a Petrobras estima que haja entre 8 a 12 bilhões de barris de óleo
recuperável, o que pode quase dobrar as reservas brasileiras atuais de
petróleo.
No total, a plataforma
continental do Brasil pode conter mais de 100 bilhões de barris de petróleo,
transformando o país numa potência de petróleo e gás de primeira grandeza, algo
que a Exxon e a Chevron, as gigantes do petróleo norte-americano, se esforçaram
arduamente para controlar.
Em 2009, segundo cabogramas
diplomáticos norte-americanos vazados e publicados pelo Wikileaks, a Exxon e a
Chevron foram assinaladas pelo consulado estadunidense no Rio de Janeiro por estarem
tentando, em vão, alterar a lei proposta pelo mentor e predecessor de Rousseff
em seu Partido dos Trabalhadores, o presidente Luís Inácio Lula da Silva, ou
Lula, como ele é chamado. Foi revelado pelo Wikileaks que José Serra, o então
candidato do PSDB que competia contra Dilma pela presidência, prometera
confidencialmente à Chevron que, se eleito, afastaria a Petrobras do pré-sal
para dar espaço às petroleiras estadunidenses.
Essa lei de 2009 tornava a
estatal Petrobras operadora-chefe de todos os blocos no mar territorial.
Washington e as gigantes
estadunidenses do petróleo ficaram furiosos ao perderem controles-chave sobre a
descoberta da potencialmente maior jazida individual de petróleo em décadas.
Para tornar as coisas piores
aos olhos de Washington, Lula não apenas afastou a Exxon Mobil e a Chevron de
suas posições de controle em favor da estatal Petrobras, como também abriu a
exploração do petróleo brasileiro aos chineses.
Em dezembro de 2010, num
dos seus últimos atos como presidente, ele supervisionou a assinatura de um
acordo entre a companhia energética hispano-brasileira Repsol e a estatal
chinesa Sinopec.
A Sinopec formou uma joint
venture, a Repsol Sinopec Brasil, investindo mais de 7,1 bilhões de dólares na
Repsol Brasil.
Já em 2005, Lula havia
aprovado a formação da Sinopec International Petroleum Service of Brazil Ltd,
como parte de uma nova aliança estratégica entre a China e o Brasil, precursora
da atual organização do BRICS.
Washington não gostou.
Em 2012, uma perfuração
conjunta, da Repsol Sinopec Brazil, Norway’s Stateoil e Petrobras, fez uma descoberta de importância maior em Pão de Açúcar, a terceira no bloco BM-C-33, o qual inclui Seat e Gávea, esta última uma das 10 maiores descobertas do mundo em 2011.
As maiores empresas do
petróleo estadunidenses e britânicas sequer estavam presentes.
Com o aprofundamento das
relações entre o governo Rousseff e a China, bem como com a Rússia e com outros
parceiros do BRICS, em maio de 2013, o vice-presidente
dos Estados Unidos, Joe Biden, veio ao Brasil com sua agenda focada no
desenvolvimento de gás e petróleo.
Ele se encontrou com a
presidenta Dilma Rousseff, que havia sucedido ao seu mentor Lula em 2011.
Biden também se encontrou
com as principais companhias energéticas no Brasil, inclusive a Petrobras.
Embora pouca coisa tenha
sido dita publicamente, Rousseff se recusou a reverter
a lei do petróleo de 2009 de maneira a adequá-la aos interesses de Biden e de
Washington.
Dias depois da visita de
Biden, surgiram as revelações de Snowden sobre a
NSA, de que os Estados Unidos também estavam espionando Rousseff e os
funcionários de alto escalão da Petrobras.
Ela ficou furiosa e,
naquele mês de setembro, denunciou a administração Obama diante da Assembleia
Geral da ONU por violação da lei internacional.
Em protesto, ela cancelou
uma visita programada a Washington. Depois disso, as relações Estados
Unidos-Brasil sofreram grave resfriamento.
Antes da visita de Biden em
maio de 2013, Dilma Rousseff tinha uma taxa de popularidade de 70 por cento.
Menos de duas semanas depois da visita de Biden ao Brasil, protestos em escala
nacional convocados por um grupo bem organizado chamado “Movimento Passe
Livre”, relativos a um aumento nominal de 10 por cento nas passagens de ônibus,
levaram o país virtualmente a uma paralisação e se tornaram muito violentos.
Os protestos ostentavam a
marca de uma típica “Revolução Colorida”, ou desestabilização via Twitter, que
parece seguir Biden por onde quer que ele se apresente. Em semanas, a popularidade de Rousseff caiu para 30 por cento.
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