Hélio Consolaro*
A humanidade viveu bom tempo na barbárie. Não havia respeito
pelo outro ser humano, por qualquer motivo se matava ou guerreava-se. Não havia
um código de comportamento, nem punição, apenas e predomínio da força.
O surgimento das religiões moneteístas (pregação de apenas
um deus) foi um avanço para que criasse um clima de amor entre os seres da
mesma espécie. O cristianismo é um exemplo disso.
Assim mesmo a barbárie mora em nosso interior, às vezes, ela
brota com toda força. Daí o surgimento da declaração dos direitos humanos,
campanha do desarmamento, Deus é amor. O ser humano se organizou num estado em
que regulamenta nosso comportamento e pune os infratores.
Essa bondade humana quase sempre brota da fonte de nossos
interesses, por isso articulá-los em grupo é uma forma de estabelecer a nossa
convivência. A democracia é o nome disso.
Não acredito em que o ser humano é bom por natureza, se
assim fosse, Jesus Cristo não teria morrido na cruz para nos salvar, como prega
o cristianismo. Nos somos malvados, não somos naturalmente piedosos.
Para alcançar o bem comum, buscar o bem-estar de todos, vale
qualquer argumento, desde que não seja o uso da violência, mas os carolas não
admitem isso. E a esquerda brasileira está cheia deles, aliás, há muitos ateus
que são mais carolas que certos beatos.
Num debate das questões sociais na última campanha eleitoral,
numa plateia predominantemente classe média, eu ia afirmar que priorizar as
questões sociais não era um gasto, mais um investimento para a burguesia,
porque haveria mais paz entre nós, os bacanas não precisariam gastar tanto em
segurança, a vida ficaria mais solta para ricos e mais bela para os pobres.
Construía-se a paz social. Também se lucro ao investir no social, pois produz
melhor qualidade de vida para os dois lados.
Fui duramente criticado por uma companheira, que não era
nenhuma radical de esquerda, mas uma carola. Nem tudo na filosofia utilitarista
é bom, mas há alguma coisa que precisamos aprender para que o capitalismo em
que vivemos não continue tão desumano e os argumentos idiotas não continuem
proliferando para que nada mude.
Qual é mais caro para o estado burguês, o Bolsa Família ou o
sistema prisional brasileiro? Poucos contestam o que gastamos com presídios e
com as próprias Forças Armadas. Não estamos em guerra com nossos vizinhos e se
fôssemos desafiar o império do mundo com nossas garruchas, estaríamos todos
mortos. Forças Armadas para quê?
Se é mais fácil conseguir a paz construindo-a, porque
construí-la com a guerra, massacrando os outros. Se podemos tornar nossos
argumentos mais fortes numa linguagem mais vigorosa, porque ficar repetindo
palavras de ordem, chavões desgastados?
Esperteza e inteligência são elementos importantes da luta.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro
da Academia Araçatubense de Letras.
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