AGENDA CULTURAL

8.11.16

Forças Armadas e sistema prisional

Hélio Consolaro*

A humanidade viveu bom tempo na barbárie. Não havia respeito pelo outro ser humano, por qualquer motivo se matava ou guerreava-se. Não havia um código de comportamento, nem punição, apenas e predomínio da força.

O surgimento das religiões moneteístas (pregação de apenas um deus) foi um avanço para que criasse um clima de amor entre os seres da mesma espécie. O cristianismo é um exemplo disso.

Assim mesmo a barbárie mora em nosso interior, às vezes, ela brota com toda força. Daí o surgimento da declaração dos direitos humanos, campanha do desarmamento, Deus é amor. O ser humano se organizou num estado em que regulamenta nosso comportamento e pune os infratores.

Essa bondade humana quase sempre brota da fonte de nossos interesses, por isso articulá-los em grupo é uma forma de estabelecer a nossa convivência. A democracia é o nome disso.

Não acredito em que o ser humano é bom por natureza, se assim fosse, Jesus Cristo não teria morrido na cruz para nos salvar, como prega o cristianismo. Nos somos malvados, não somos naturalmente piedosos.

Para alcançar o bem comum, buscar o bem-estar de todos, vale qualquer argumento, desde que não seja o uso da violência, mas os carolas não admitem isso. E a esquerda brasileira está cheia deles, aliás, há muitos ateus que são mais carolas que certos beatos.

Num debate das questões sociais na última campanha eleitoral, numa plateia predominantemente classe média, eu ia afirmar que priorizar as questões sociais não era um gasto, mais um investimento para a burguesia, porque haveria mais paz entre nós, os bacanas não precisariam gastar tanto em segurança, a vida ficaria mais solta para ricos e mais bela para os pobres. Construía-se a paz social. Também se lucro ao investir no social, pois produz melhor qualidade de vida para os dois lados.  

Fui duramente criticado por uma companheira, que não era nenhuma radical de esquerda, mas uma carola. Nem tudo na filosofia utilitarista é bom, mas há alguma coisa que precisamos aprender para que o capitalismo em que vivemos não continue tão desumano e os argumentos idiotas não continuem proliferando para que nada mude.

Qual é mais caro para o estado burguês, o Bolsa Família ou o sistema prisional brasileiro? Poucos contestam o que gastamos com presídios e com as próprias Forças Armadas. Não estamos em guerra com nossos vizinhos e se fôssemos desafiar o império do mundo com nossas garruchas, estaríamos todos mortos. Forças Armadas para quê? 

Se é mais fácil conseguir a paz construindo-a, porque construí-la com a guerra, massacrando os outros. Se podemos tornar nossos argumentos mais fortes numa linguagem mais vigorosa, porque ficar repetindo palavras de ordem, chavões desgastados?

Esperteza e inteligência são elementos importantes da luta.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras.



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