Este ano tivemos a triste notícia
de que a Virada Cultural Paulista não acontecerá em Araçatuba. Triste. Triste
porque era um dos poucos projetos de qualidade em que atrações tanto da cidade
quanto do cenário nacional eram oferecidas ao público de forma gratuita e para
as diversas camadas sociais. Era muito gratificante ver crianças, jovens,
adultos e idosos reunidos para prestigiarem as muitas apresentações de música,
teatro, dança, arte de rua, literatura, cinema etc. Uma movimentação cultural
que não se restringia ao público cultural araçatubense, mas de toda região, e
que fazia circular a economia sob vários aspectos. Triste o seu fim.
Triste por diversas razões, entre
as quais porque o valor de contrapartida da prefeitura, comparado ao da
Secretaria de Estado da Cultura, não é nada vultoso. Triste porque a penalizada
é a população mais carente, já que o público-alvo do projeto é ela; quem tem
dinheiro vai a quantos shows quiser, onde quiser e quando quiser; não precisa
do Estado para mediar ou favorecer o acesso aos bens culturais. Triste porque a
Virada é só mais um dos projetos tirados da cidade, lembremo-nos do Carnaval
Popular, das Oficinas Culturais e de outros que estão sendo retalhados, como a
extinção da publicação física dos contos vencedores no Concurso Nacional de
Contos “Cidade de Araçatuba”.
Não sou de ficar me intrometendo em
“gestões alheias” (como se a gestão pública não interessasse e dissesse
respeito a qualquer cidadão), mas há coisas que a gente não pode ficar somente
vendo e “deixando pra lá”. O que me surpreende também é que muitos dos que
criticavam ações muito menores que esta (cancelar ou extinguir projetos
culturais importantes e sedimentados no município), hoje batem palmas pra ela,
defendem sua extinção ou ficam calados, mudos, como se nada tivesse
acontecendo.
Não sou de Araçatuba, mas vivo nela
há mais de trinta anos; já até sou, por força de lei, cidadão araçatubense.
Vejo essas coisas acontecerem e fico profundamente triste. Milito e atuo na
área cultural tanto voluntária quanto profissionalmente (sou professor de arte,
escritor e arquiteto) e, quando vejo esse tipo de coisa acontecendo, bate uma
tristeza forte, sabe? Parece que a gente dá um passo para frente e dois para
trás em relação às políticas públicas ligadas à cultura e às artes como um todo
em nossa cidade.
Tristeza em ver que a Virada
Cultural não virou este ano.
*Antonio Luceni é mestre em Letras – Estudos Literários pela UFMS. Membro da Academia
Araçatubense de Letras – AAL e da União Brasileira de Escritores – UBE. Artista
visual, com graduação em Artes Visuais e pós-graduando em Artes Visuais,
Intermeios e Educação pela Unicamp. Arquiteto-urbanista, com especialização em
Arquitetura e Cidade, foi Diretor Municipal de Cultura de Araçatuba entre os
anos 2005 e 2008. É professor de Artes, por meio de concurso público, do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – IFSP.
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