AGENDA CULTURAL

15.5.17

Antônio Cândido foi, mas deixou seus livros

Não vou escrever sobre a grandeza do professor e doutor Antônio Cândido, falecido recentemente (12/05/2017), aos 98 anos, porque isso já foi escrito.




Antônio Cândido em Penápolis, em 1987, palestra na Funepe. Anfiteatro lotado. Na foto, da esquerda para a direita. Pedro Campos, jornalista, João D'Elia, Prefeito de Penápolis, Tito Damazo, Diretor Regional de Ensino, Vanir Cavicioli, Presidente da Funepe (não aparece na foto), José Fulaneti, vereador e Diretor Regional de Cultura, Antônio Cândido e eu, João Luís dos Santos, na época estudante de Letras e Presidente do Centro Acadêmico da Funep (LEGENDA ELABORADA POR JOÃO LUÍS DOS SANTOS, EX-PREFEITO DE PENÁPOLIS, 2005-2012)
Hélio Consolaro*

Não vou escrever sobre a grandeza do professor e doutor Antônio Cândido, falecido recentemente (12/05/2017), aos 98 anos, porque isso já foi escrito.  LEIA SOBRE ELE, CLICANDO AQUI 

Vou me pôr na história dele. Eu vivi algumas horas com o mestre quando em 1987, eu era vereador, fui convocado a transportá-lo do aeroporto de Araçatuba até Penápolis no meu fusca, onde proferiria uma palestra para os alunos de Letras na Funepe (ver foto).

Era um homem franzino, educadíssimo, como se dizia antigamente: mais fino que uma moça. Para mim, prestar aquele serviço era uma honra, porque eu havia estudado nos livros do "home" na faculdade, justamente em Penápolis. Era uma espécie de meu reencontro com minha vida estudantil.


Livros de autoria de Antônio Cândido de minha biblioteca
Quando eu lhe disse isso, ele me deu alguns livros, edições que trazia em sua mala, acrescentando dedicatória. Naquela época, 1987, tudo aconteceu há 30 anos, quando eu tinha 38 anos e ele 68 (a minha idade atual). 

Quando soube de sua morte, pensei como meu amigo Luiz Mozzambani Neto, de Monte Alto-SP: "Descanse em paz, Mestre.
A gente se encontra em seus livros!"

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras
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Em 2012, Luiz Mozzambani Neto, esteve com Antônio Cândido, porque ambos se interessavam pela cultura caipira. E ele gravou uma fala do mestre que reproduzo abaixo
TEMPO É VIDA E NÃO DINHEIRO!
"Hoje em dia ele (o caipira) tem muito mais escolha do que vai comer, o caipira tem facilidades de comer muito mais coisas do que comia antes. Em compensação, o tempo dele está confiscado. (...) Talvez uma das frases mais diabólicas do capitalismo seja "Tempo é dinheiro!" "time is money""
"Antigamente, no começo da revolução industrial era muito frequente os operários dormirem debaixo das máquinas (...) Eles eram acordados com o chicote do contra-mestre. Por quê? Porque o tempo pertence ao patrão! O tempo não pertence a ele... Por que o tempo pertence ao patrão? Porque tempo é dinheiro!"
"Tempo é dinheiro é a frase mais diabólica do capitalismo porque criou em todos nós a ideia de que se você não está fazendo nada é um pecado grave. Você não tem o direito mais de vagabundear... Ficar olhando a natureza é feio! O que você está fazendo? Nada! Não pode! A administração capitalista é diabólica... Impede você de pensar em você mesmo! Impede você de meditar! Impede você de se divertir! Impede você de ter uma aventura... (...) A figura do tempo no caipira é isso... A cultura caipira pressupõe muito mais tempo disponível. Quando você acaba com o tempo, você acaba com o caipira..."
"No tipo de vida que o caipira tradicional levava, o tempo de trabalho que ele dispensava era aquele que ele precisava... Lazer também era trabalho; havia trabalho também no lazer... Inclusive era no lazer que ele cultivava a arte: moda de viola, causos, artesanato..."
"Confiscar o tempo é uma coisa terrível quando você pensa que tempo é vida! Quando alguém... Você não tem direito ao tempo; você não tem direito à vida!"
"Se ele tiver tempo ele se humaniza! Quando o tempo é confiscado ele se torna máquina. Ele precisa do tempo para conhecer a arte, conhecer o esporte, conhecer o lazer..." 
 E como bem disse meu amigo Dersu Uzala, o que se aplica ao caipira em relação ao tempo aplica-se também a toda humanidade. Tiraram nosso tempo... Acabaram com a gente...



Resta saber quanto tempo ainda temos para tentarmos reconquistar o tempo que nos tiraram! (Luiz Mozzambani Neto)  

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