Atualmente, surgiu até uma conversa que uma mula, naturalmente infértil, ficou grávida depois de dar uma bocada num jovem pé de noni
Foto de Tânia Queiroz
Pé de noni, onde os homens presentes numa festa de aniversário fizeram suas reflexões |
Hélio Consolaro*
O meu primeiro contato com o nome “noni” ocorreu quando fui
comprar, por encomenda de minha mãe, um xarope num quiosque, uma poção de
plantas medicinais. Isso foi recentemente.
Parece irônico, mas o quiosque ficava na praça Dr. Jaime de
Oliveira, ao lado de um hospital, a Santa Casa de Araçatuba. Ele era uma
farmácia de fitoterapia
Como o brasileiro, devido ao nosso sincretismo religioso,
reza para todos os deuses, na hora do aperto, procura o candomblé, o
espiritismo, entra em todas as igrejas. Assim, o doente saía da Santa Casa e na dúvida já
passava nas duas farmácias, a alopática e a popular.
A poção líquida encomendada por minha mãe vinha num vidro, e
a exemplo dos remédios vendidos em farmácia, havia no rótulo, de que lembrava os
livrinhos que repentistas do Nordeste, a sua composição: a relação de mais de
20 plantas, dentre elas o “noni”.
Perguntei ao rapaz o que era noni, ele me explicou: uma
planta medicinal. Diante de minha ignorância, foi mais explicativo:
- Há muitos pés nas calçadas das ruas de Araçatuba. É uma
árvore de folhas largas e dá um fruto. Veio da Indonésia.
Depois disso, comecei a ouvir com mais frequência o nome “noni”.
Mas na última vez, vi e convivi com um pé de noni, até me foi apresentado. Ele
proporcionou boas gargalhadas na turma que já havia tomado várias cervejas numa
festa de aniversário.
- Que árvore é esta? – perguntei.
- É noni, respondeu o dono da casa. A vizinha que plantou aí
na calçada.
Foto de Tânia Queiroz
Fruto do noni que, bem maduro, tem um cheiro desagradável
|
- Este é o noni, um santo remédio! Ingiro seus poderes diariamente,
misturado com suco de uva.
Afastou as folhas para me mostrar os frutos. Como croniqueiro,
educado, respondi-lhe:
- Prazer em conhecê-lo, noni, vejo-o pela primeira vez.
Um gaiato já aproveitou para denunciar as peripécias de
rejuvenescimento do advogado:
- Doutor, foi o noni que escureceu seus cabelos novamente?
Em roda de conversa, com o testemunho de um pé de noni, não
faltaram gaiatos. Uma voz logo emendou um comentário:
- Nada! O doutor anda usando tablete Sto. Antônio!
As gargalhadas soaram soltas. Ria-se até doer a barriga. O
noni fazia sua terapia indiretamente, melhorando o humor da turma.
E as conversas ao pé do noni evoluíram. Foi lembrado que na
década de 70, quando surgiu um boato de que o chá da casca do tronco do ipê
roxo era bom para homem ficar arretado novamente, assim, de uma hora para a
outra, quase houve a extinção de árvore tão importante da flora brasileira.
Atualmente, surgiu até uma conversa que uma mula,
naturalmente infértil, ficou grávida depois de dar uma bocada num jovem pé de
noni.
Um sujeito de cabeça branca perguntou com os olhos
esbugalhados:
- O noni é melhor que o azulzinho?
O advogado não perdeu a oportunidade para dar o seu
testemunho:
- Se fosse melhor, já não havia mais um pé de noni na cidade!
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.
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