Hélio Consolaro*
“Tudo era paz até que surgiu o grupo do Whatsapp,” disse
alguém. É um fato, mas não é uma verdade. Todos têm o aplicativo no seu celular, as pessoas não pedem água por onde passam, mas se há Wi-Fi no lugar.
Antes o grupo se encontrava pouco, agora a comunicação entre
seus membros permanece ligada por 24h. Qualquer lembrança, corre lá. A chance
de um desentendimento virtual é maior.
Outro fator que influi é que dizer algo na cara da pessoa
exige mais coragem do que escrevê-la, então a transparência nas relações torna-se
maior. A cabeça podre de cada um fica mais exposta.
Mas não é só nisso que o “zap” (nome brasileiro do Whatsapp)
interfere em nossa vida. Há até gente que assombra a todos com sua insônia,
aquele barulhinho nos celulares do grupo em plena madrugada. Tirei o som do
Whatsapp, nada de passarinho cantar o tempo todo. O único barulho que permito
ao aparelho é me chamar ao telefone.
Ao configurar o seu “zap”, há a possibilidade de você
colocar uma epígrafe, uma frase que marca a personalidade do usuário. A minha é
“Receber a mensagem, não me nego, mas respondo quando puder.” Não fico com
aquela ansiedade de ficar com o telefone na mão. Se não estou participando de
uma conversa, olho as mensagens a cada
30 minutos. Há gente “nervosa” que reclama desse meu comportamento
Não pretendo ser exemplo para ninguém, apenas desejo mostrar ao caro leitor que o usuário deve se servir do aparelho e não o
aparelho escravizar o usuário.
Outro fator de mal-estar num grupo de Whatsapp e que muitas
pessoas desconsideram é retransmitir mensagem que atinge a religião, o time de
futebol ou a posição política de alguém do grupo. O usuário recebeu, gostou,
riu, solta para o grupo todo sem pensar nas consequências. Ou então há um
homossexual no grupo e começa a falar de “veado”. Sujeito sem noção.
Navegar pela internet, zarpar pela realidade virtual, além
dos conhecimentos técnicos, exige muito pensar no outro, é como viver cada dia,
um atrás do outro.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras.
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