Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
Não há temporadas de futebol estanques, jogos há a qualquer dia e hora na televisão, temos dezenas de canais, além da internet, narrando jogos e falando de futebol.
Para justificar o faturamento, segundo os entendidos (ou interessados), "futebol é a maior indústria de entretenimento" - assim dizem os barrigudinhos, consumidores do esporte e cerveja; não é possível discordar. Para o cronista, futebol a qualquer hora é bom, principalmente na falta de assunto.
Não há momento mais tenso do que uma cobrança de pênalti. É a mesma situação do desempregado quando ouve a frase "o emprego é seu" (gol marcado) ou "não temos vagas" (pênalti defendido).
Muito se escreveu e cantou a respeito, mas todos nós erramos ao bater um pênalti na vida. Sabemos que o gosto é amargo. Para o artilheiro, marcar é quase uma obrigação; para o goleiro, defender um pênalti é uma glória.
No sábado, contra o Peru (22/06/2019 - Copa América), o jogo estava 5 a 0 para o Brasil. Eu gritei no sofá: "Este jogo não vai acabar se o Gabriel de Jesus não marcar um gol!" Acabei de pronunciar a frase, pênalti em Gabriel. O moleque bateu e e o goleiro defendeu. Putz!
Alguém gritou:
- Com tanta santidade no nome, o cara não consegue marcar!
Deus cuida dos dois lados, o Peru não podia levar meia dúzia de gols para casa. E o goleiro Gallese, depois do frango (peru levar frango!) tinha que ter alguma vantagem para continuar vivendo, como ia explicar lá na sua casa.
Gabriel de Jesus saiu da pobreza da periferia de São Paulo, já é um vitorioso, não vai querer tudo para ele. Jogo é jogo, mas os bons sentimentos cabem em qualquer lugar. E o ex-palmeirense é um cara legal.
Um artilheiro diante do goleiro vai bater o pênalti. Tenha certeza, caro leitor, alguém vai se dar mal, e ambos são filhos de Deus e pedem proteção divina na execução da tarefa. O sacro e o mundano são lados da mesma moeda.
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