AGENDA CULTURAL

6.12.19

Tratar nossos problemas com muita compreensão e tolerância é a saída

Da esquerda para a direita: Gustavo Cruz Xavier, 14, Dennys Guilherme dos Santos Franco, 16, e Marcos Paulo Oliveira dos Santos, 16 (primeira fila); Denys Henrique Quirino da Silva, 16, Luara Victoria Oliveira, 18, e Gabriel Rogério de Moraes, 20 (segunda fila); Eduardo da Silva, 21, Bruno Gabriel dos Santos, 22, e Mateus dos Santos Costa, 23 (terceira fila) (//Reprodução - revista Veja)


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
Não há mais nada para escrever sobre essa matança de jovens, cujos antepassados foram arrancados da zona rural (ou Nordeste) e levados para formarem as grandes cidades.

O jornalista esportivo André Rizek escreveu:
A pergunta que devemos fazer hoje no Brasil é a seguinte. Em quantas festas de gente rica a polícia entra da forma como entrou no baile de Paraisópolis? Quantas vezes você viu notícia sobre isso acontecer em eventos nos bairros ricos da sua cidade? Alguma vez você já viu?

Também  corre pela rede alguns questionamentos como este:

Tem consumo de drogas no
Rock in Rio? Tem!
no Lollapalooza? Também!
no Villa? Com certeza!
na Festa Peão de Barretos?
     Se tem...
Agora imagina a polícia entrar atirando nesses locais...
Pois é... O problema nunca foi a droga.

Dentre os mortos, não havia gente com nome pomposo, todos os sobrenomes são de brasileiros simples, mas com muitos sonhos. 

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Depoimento deste cronista

Fui secretário municipal de Cultura por oito anos em Araçatuba-SP, cidade de 200 mil habitantes, com muitos eventos na periferia que foram batizados de Culturaça, eram quase 12h de apresentações dominicais, terminando com rap à noite.

Também vieram, via Virada Cultural, os Racionais com 50 mil pessoas presentes na avenida dos Araçás e Bonde do Tigrão na praça São Joaquim com 10 mil. 

Encontrei alguns obstáculos do comando local da PMSP por promover a arte da periferia, mas conversei, arrumei interlocutores para que os eventos não fossem cancelados.

Quem trabalha com eventos, principalmente na periferia, se relaciona de cara com a Polícia Militar. Quase sempre, a presença da corporação em tais eventos traz alguns problemas, porque proporcionam o encontro de opostos, e eles se conhecem muito bem, pois os conflitos são antigos. Então se dá o início às provocações. E gente da população morre em tais confrontos.

Como exemplo, cito sempre o evento Culturaça, organizado no Juçara. Não houve Polícia Militar e nem Guarda Municipal por falha da equipe da secretaria: as duas corporações não foram comunicadas. E descobrimos isso na boca da noite e não houve necessidade de intervenção policial. Tudo aconteceu a contento.

No show do Bonde do Tigrão, a Guarda Municipal queria proteger o palco diante do volume dos manos e minas. Não permiti, com a seguinte explicação: "eles não vão se agredir, vão respeitar o palco, pois são membros mesma tribo. Fiquem de longe." E deu tudo certo.

Então, caro leitor, nem tudo é fácil de classificar, e a verdade não mora de um lado só. Tratar nossos problemas com muita compreensão e tolerância é a saída, principalmente para a polícia, o lado mais armado. Às vezes, o pecado de cada um é de todos nós. Quem sabe assim não teriam morrido nove jovens.

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