O método científico hoje, segue os mesmos princípios concebidos por René Descartes em 1637! |
O mundo era dominado pelo
pensamento religioso e filosófico até 400 anos atrás. Na religião prevalecia a
fé e na filosofia se usava o poder da argumentação e do convencimento! Todos as
coisas eram aceitas ou rejeitadas pelo poder da crença ou da opinião e ponto
final. Quem não aceitava, era torturado ou morria, simples assim! Tudo era
dogmático!
Galeno foi um médico
italiano (129–201), cujo pensamento foi
dominante por séculos. Não há nada na medicina que Galeno não tenha opinado,
ditado, determinado ou “esclarecido”. Muito inteligente e autoritário, o que
ele imaginava ou achava em estudos com animais do ponto de vista fisiológico ou
patológico, era imediatamente transposto por ele para os humanos e fim. Quem
não aceitasse deixaria de ser médico, morreria ou seria humilhado de forma
incontestável por toda a sociedade que acreditava piamente nele!
Na idade média era proibido
se estudar cadáveres, abrir o corpo humano para fazer estudos, a religião não
permitia. Séculos de ignorância, autoritarismo e obscurantismo se passaram ate
que ao redor de 1300 a 1600 houve o renascimento e humanos como Copérnico,
Galileu e René Descartes começaram a organizar para que o conhecimento humano
não mais dependesse da opinião de religiosos ou gente “importante ou poderosa”,
cuja opinião era imposta pelas armas.
SURGIMENTO
Desta forma, Descartes
escreveu um livro em 1637 e descreveu pela primeira vez no mundo o que era um
método que chamou de científico e surgiu o seu livro “O discurso do método”. A
partir de então começou a separar-se o que era o conhecimento empírico,
sensorial e opiniões do que passou a existir como conhecimento científico.
Para ser científico as
informações, conhecimentos, coisas, fenômenos e observações haveriam de ser
organizadas, padronizadas e testadas de forma que outra pessoa pudesse fazer a
mesma coisa e ter os mesmos resultados para serem checados. E mais: para ser
científico o conhecimento obtido haveria de ser publicado para que todos
pudessem ler e checar se quisesse, repetindo-se o trabalho quantas vezes
quisesse. Sim, podemos dizer que a ciência foi “inventada” ou idealizada ou
organizada por René Descartes, um francês genial. Hoje, na ciência: opinião e fé deixaram de ter valor na interpretação dos
fenômenos.
LITERATURA
Com o advento da imprensa e
do uso intenso do papel para livros e revistas, as publicações mais importantes
das ciências deixaram de ser apresentadas nos encontros e congressos e passaram
a ser reveladas em revistas ou “journals” científicos publicados em todos os
países do mundo, alguns com maior ou menor credibilidade. Uma das mais antigas
chama-se “The Lancet”. Quando um cientista publica um de seus trabalhos nesta
revista se diz que “zerou a vida” em sua carreira acadêmica” o que significa
que pode ir para casa que chegou no seu ápice enquanto profissional acadêmico.
A medida que passou e
terminou o século 20, as máquinas de impressão no papel não acompanham mais a
geração de novos conhecimentos e quando publicado, o novo conhecimento já está
atrasado. Assim as revistas e “journals” como a Lancet, Science, Nature, New
England J Medicine e outros, passaram a ser semanais e virtuais disponíveis na
internet. Quando a revista impressa no papel chega, já está ultrapassada e
serve mais aos saudosistas para arquivar e tomar espaços preciosos.
Ao frequentar instituições
como universidades, hospitais e profissionais mais contemporâneos e de
vanguarda, em suas salas nem mais se vê livros e revistas nas estantes. Em
média, a cada seis meses todo o conhecimento humano é renovado e o anterior
passa a ter valor histórico e não mais comercial ou financeiro! Mas, para falar
a verdade, eu amo uma biblioteca fisicamente instalada, ainda que reconheça que
ocupa muito espaço e o conhecimento armazenado fica rapidamente ultrapassado.
REFLEXÃO FINAL
Em síntese: ciência é a
busca constante da verdade através do método! Aplicar o método dá trabalho,
leva um tempo para se obter o resultado e ainda tem que se buscar dividir o
mais amplamente possível aquilo que foi esclarecido. Ser cientista dá muito
trabalho! No presente que ganhei de um casal amigo, no dia que conquistei a
condição de Professor Titular da USP em 1995, estava escrita uma frase em latim
que nunca mais esqueci e guardo com carinho: você veio, fez e divide com os
demais! Viva Descartes, viva a ciência!
Alberto Consolaro – Professor
Titular da USP - FOB Bauru-SP. consolaro@uol.com.br
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