Os vírus se incorporam no DNA celular e são difíceis de serem totalmente eliminados. |
Na medicina e no amor não se usa duas palavras: sempre e nunca! A ciência é busca constante da verdade e a cada dia novas evidências modificam estas verdades, deixando-as ultrapassadas. Ciência não é religião e muito menos partido político. É o ramo da sociedade que se dedica a buscar soluções para os problemas e inquietudes humanas. Misturar ciência com política e religião é um desserviço à sociedade.
Uma pessoa com covid-19 fica imune depois que a
doença passar? Pesquisamos, ensinamos e diagnosticamos há anos sobre as doenças
virais e a imunopatologia humana e logo de início aprendemos que não podemos
afirmar que uma pessoa com doença viral ficará para sempre imune e não mais
contrairá a doença. Algumas, até permanecem imunes por alguns anos e até
décadas, mas depois esta imunidade diminui ou desaparece pelo tempo e por
outras doenças debilitantes como o estresse crônico de nosso dia a dia, sem
contar com o etilismo, tabagismo, idade avançada, drogas, terapias
medicamentosas e outras coisas.
Nas doenças virais esta imunidade pode ser de
semanas, meses, anos e até décadas, mas não pela vida toda. Por que nas doenças
virais isto chama mais atenção? A razão é que os vírus, diferentemente das
bactérias e fungos, só conseguem sobreviver e reduplicarem dentro das células.
Fora delas, logo morrem!
Os anticorpos e as células da imunidade não
conseguem entrar dentro de outras células, pois são grandes demais. Até liberam
substâncias para atuarem dentro de outras células contaminadas como as
citocinas, mas no conjunto perdem em eficiência. No caso de bactérias e fungos,
os anticorpos e as células imunológicas atuam diretamente contra eles, pois
ficam fora das células. Os vírus podem ficar latentes dentro de células por
décadas, quietinhos ou latentes, como ocorre com o vírus da hepatite, herpes,
caxumba, zoster e muitos outros.
SIM OU NÃO
Nesta pandemia muitas pessoas deram entrevistas
na mídia e algumas falavam em imunidade coletiva obtida quando um certo número
de pessoas havia adquirido a doença. É imunidade coletiva e não de rebanho, um
termo mais aplicado aos animais. Falavam convictas que a reinfecção não era
possível! Eu assistia, ouvia e lia, ficando intrigado onde as pessoas tinha
tirado tal informação? Uma dessas pessoas é um renomado professor uspiano que no
dia 14 de outubro escreveu na Folha como sendo possível a reinfeção e que deve
estar tendo o seu papel na pandemia, ao contrário do que havia dito
anteriormente. Havia uma hipótese que hoje se revelou equivocada!
Em quase todos os países do mundo há
ambulatórios, pesquisas e estatísticas para casos de reinfecções da covid-19 e
que pode ajudar a explicar por que a doença persiste e não cede tão
rapidamente. Negar o diagnóstico de covid-19 e não notificar, nem mesmo na
certidão de óbito, por questões políticas e econômicas, para baixar os índices
epidemiológicos, nunca deveria ser feito.
Na ciência o que se afirma hoje, pode não mais
ser real amanhã. Devemos ter todo o cuidado em afirmarmos sobre certas coisas,
mas todas as pessoas dedicadas à ciência já fizeram afirmações que no evoluir,
a ciência mostrou que estavam incorretas ou limitadas, contradizendo-se a si
mesmo. O que este professor fez e reconheceu é o espírito científico na
plenitude. Isto exige humildade e sabedoria! Na ciência não há crença, opinião
e dogmas, apenas segue os fatos ditados pela metodologia aplicada.
SÍNTESE
As pessoas que tiveram covid-19:
1. Não devem ficar imunes por muito tempo; a
imunidade parece durar alguns poucos meses, independente da gravidade da
doença,
2. Continuam transmitindo o vírus por este
período e devem tomar os mesmos cuidados de todos. As causas da reinfecção deve
ser a contínua exposição ao vírus e negligência nos cuidados de proteção, duas
situações comuns em profissionais da saúde,
3. Depois de algumas semanas ou meses, podem ter
novamente a doença,
4. Os vírus nas pessoas que tiveram a doença
ficam latentes ou ativos silenciosos no corpo, promovendo danos ainda em
estudo, incluindo nos neurônios. O melhor mesmo é não pegar a doença, pois isto
não traz vantagem alguma,
5. A reinfecção na covid-19 existe e deve ter um
papel mais detalhado nesta pandemia!
O compromisso da religião é com a fé e o da
política, com a coerência de opinião e ideias. Na ciência, o compromisso é
exclusivamente com a verdade revelada por métodos e critérios que se
aperfeiçoam a cada momento. A verdade filosoficamente não existe e na ciência,
é mutante!
Alberto Consolaro – professor titular da USP -FOB - Bauru-SP
consolaro@uol.com.br
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