AGENDA CULTURAL

3.12.20

Mudança de hábitos - uma revolução

 

"Uma pessoa que tem hábitos intelectuais ou artisticos,
que gosta de música e de ler, nunca esta sozinha."
arlos Drummond de Andrade

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP 

Fui ao cabeleireiro, ou melhor, barbeiro, depois de dez meses. De março para cá, chamava um, chamava outro profissional para cortar minha vasta cabeleira em casa mesmo, já que meu barbeiro oficial, tão velho quanto o nome, era um negacionista, partidário de Bolsonaro, dizia que a Covid-19 era uma gripezinha e que os brasileiros uns maricas. Não queria seguir o protocolo da vigilância sanitária. Fugi de seu salão. 

Um ex-aluno se tornou cabeleireiro, montou um salão minúsculos, só para ele trabalhar, bem próximo de casa, cortando com hora marcada. No primeiro corte, conversamos sobre tempos idos e famílias, na hora de pagar, lá veio ele com a maquininha de cartão.

Nessa hora, se revelou a força do hábito. Sou a favor  de pagar as despesas com cartão, mas naquele momento lhe respondi:

- Vou pagar em dinheiro.

Uma atitude anti-higiênica que usar o cartão nestes tempos de pandemia. Ele me deu o troco, saí meio confuso: "por que fiz isso?" Como faço ao pesquisar no Google, fui buscando na minha memória a razão de tal ato.   

Bastaram alguns passos na calçada para aparecer o resultado da pesquisa. Nunca paguei um corte de cabelo com cartão. Naquele salão antigo, com antigo profissional que rejeitava a modernidade, todo mês retirava a carteira para tirar as cédulas de real.  

Caro leitor, você deve estar se perguntando: o que Consa está querendo nos dizer com esta história chinfrim? Dizer que a força do hábito é uma escravidão que nos submete.

Não vamos radicalizar tanto quanto ao filme "Mudança de hábito", 1992, que "Deloris é colocada no programa de proteção às testemunhas e é mandada para um convento em São Francisco disfarçada de freira, usando o nome de irmã Mary Clarence. Mas seu jeito extrovertido, que não é aprovado pela Madre Superiora (Maggie Smith), dá uma nova vida ao coral, chamando a atenção das pessoas" (sinopse do site  Adoro Cinema).

Quase sempre, uma mudança de hábito num velho caturro é motivada por um tratamento de choque que a vida lhe dá. Parece uma revolução. Lembro bem de quando o médico disse para o meu pai: "Para de fumar ou morre!". Largou do hábito de fumar, mas nas primeiras semanas, saía uma fumacinha por baixo da porta do banheiro.

Hábitos são ruins em si, apenas os maus. Às vezes, eles são conhecidos como vícios, taras. Os bons hábitos são também chamado de bons modos. Hábito de ler é o mais badalado. Ambos são formados pela educação. Todos os pais e professores querem crianças e jovens com bons hábitos, mas nem sempre conseguem, porque o exemplo fala mais alto.

Duro mesmo é descobrir que seus antigos hábitos já não servem pra nada, como aconteceu na pandemia e com a avalanche de informática. Não insista nos velhos hábitos, não se torne um conservador empedernido, vai mudando devagarinho, aderindo aos poucos, sem se violentar. 

Somos uma sequência de hábitos. Mudá-los é uma revolução. De repente, olha um deles aí de novo. 

Pandemia

https://youtu.be/RD9inCyzMCQ

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