Julho, o mês criado pelo imperador romano Júlio César para se auto-homenagear por volta de 40 a.C, terminou com um frio raro para a nossa região. Para não ficar atrás, César Augusto, o sucessor, criou para regozijo próprio o mês de agosto, que promete ser seco como todos os agostos da região. Por isso os meses dos militares e ditadores romanos vêm na sequência, mas convém deixar essa conversa de lado, vai que algum militar brasileiro, candidato a ditador, resolva criar um décimo terceiro mês e batizá-lo com o próprio nome.
Agosto tem fama de ser a temporada do
cachorro louco. É conhecido como o mês da ventania, com muita queimada e tempo
seco, que causam problemas respiratórios. Para os supersticiosos, é o mês do
azar. É uma trintena chata, sem nenhum feriado, nenhunzinho sequer. Por outro
lado, o “agosto dourado” incentiva o aleitamento materno, uma sublime campanha
para amenizar a má fama do mês de César Augusto.
Não se pode esquecer, porém, que é o mês
dos terremotos políticos no Brasil. No distante 1954, acossado pelo jornalista
Carlos Lacerda, depois de ter enfrentado uma CPI e ser acusado de tramar um
atentado, no dia 24 de agosto Getúlio Vargas redigiu uma carta avisando que
saía da vida para entrar na história, e em seguida deu um tiro no peito. Foi um
corre-corre, um deus-nos-acuda, um diz-que-diz, um leva-e-traz, mas a tentativa
de golpe (como sempre) foi sufocada por um desfecho constitucional.
Sete anos depois, no dia 25 de agosto, o
amalucado Jânio Quadros se dizendo pressionado por “forças ocultas” renunciou à
Presidência da República deixando o país boquiaberto, os militares (sempre
eles) com pulga atrás das orelhas e o povão na pica do saci. Vê-se que fake
news não é coisa recente e há 60 anos respondia pelo sofisma “forças ocultas”.
Uma das versões para a renúncia sugere tentativa de golpe, com o renunciante se
passando por vítima, aceitando voltar ao cargo para aplacar o clamor popular, o
que não aconteceu, mediante a condição de fechamento do Congresso Nacional.
Como o homem era chegado num rabo-de-galo, vai saber...
Vítima do golpe de 1964, Juscelino
Kubitschek retornou ao país depois de um rápido exílio voluntário e morreu em
suspeitíssimo acidente automobilístico no dia 22 de agosto de 1976, numa
rodovia em Resende (RJ). Foi no dia 13 de agosto de 2014, que o jovem
pernambucano Eduardo Campos, candidato a presidente da República, morreu em
acidente aéreo em Santos (SP), que se não tivesse acontecido poderia ter mudado
a história do país.
Antônio Reis |
Então, que venha o agosto de 2021 em meio a “forças ocultas”, CPI, tentativa de fechamento do Congresso, muita ventania e uma pandemia de cachorro louco. O mês começa gelado, mas torço para que termine quente. E claro, que a tradição política se mantenha.
(*) Antônio Reis é jornalista e ativista do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras (AAL).
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