AGENDA CULTURAL

9.10.22

Simples assim - Gervásio Antônio Consolaro


 Em contato com colega que mora em Londres, contou-me que recebeu um e-mail da prefeitura avisando que a partir de uma data, haverá a construção de uma superciclovia cortando toda a área central da cidade. 

Eles dizem que durante a primeira fase dos trabalhos todos serão avisados sobre quais ruas devemos evitar nas horas de pico e também seremos comunicados quando houver algum desvio.  Disseram também que o transporte público não será afetado, mas poderá eventualmente acontecer algum atraso nos horários previstos de chegada dos ônibus nas estações. 

Por fim, divulgaram um site onde se encontra uma animação em 3D reproduzindo todo o trajeto da ciclovia, incluindo os cruzamentos e a sinalização, assim como as datas de início e conclusão de cada trecho e horário de atendimento por telefone para esclarecimento de dúvidas. 

      Disse o colega que comprou um Oyster Card, que é um cartão para transitar por transporte público por toda a cidade.  Ele ficou cadastrado no mailing deles e desde então recebe periodicamente as informações sobre o trânsito da capital inglesa. Sabe quais linhas do metrô e ônibus sofrerão atraso, quais serão as alterações de rota nos feriados e nos períodos de obras, recebe pedidos de desculpas pelos transtornos e agradecimento pela sua cooperação. 

      A cada vez que recebo uma notícia dessas, lembro como ser tratado como cidadão. E penso: é assim que tinha que ser. Tudo. Tudo na vida. Não sou inimigo da flexibilidade, há modos diversos de se administrar uma cidade, um relacionamento, um trabalho, porém muitos problemas seriam eliminados se optássemos pela maneira consagrada, a que sempre funcionou: transparência e assertividade.

     Como é que tem que ser? Se te perguntam, responda. Se te emprestam, devolva. Sem dinheiro, não compre. Se te dão, agradeça. Se te confiaram, cuide. Se te agridem, afasta-se. Se te pagaram, entregue. Se cansou, pare. Se te confidenciaram, silencie. Se te roubam, acuse. Se colocou no mundo, crie. Se contratou, pague. Se gostou, fique. Se não gostou, recuse. Se errou, desculpe-se. Se acertou, repita. Se tem que fazer, faça. Se prometeu, cumpra.  Se vai atrasar, avise. Se te necessitam, ajude. Se você precisa, peça.

       É feito relógio. Tique-taque, no ritmo da eficiência. Porém, as pessoas fogem desse esquema porque acreditam que ficarão engessadas, que serão chamadas de caretas ou que terão uma existência simplista. Que bobagem. Elas apenas adiantarão seu lado a fim de ganhar tempo para se dedicarem à deliciosa anarquia da vida, aquela que, aí sim, nunca teve tique-taque. 

Se gostar de alguém, invista. Se sofrer, azar. Se der frio na barriga, celebre. Se vaciliar, tente de novo. Se parecer longe, vá assim mesmo. Se nunca fez arrisque. Se der medo, vença-o. Se não souber, invente. Se falhar, ria. Se cansou, viaje. Se calor, praia. Se calhar, Londres.

Gervásio Antônio Consolaro, diretor da AFRESP, ex-delegado regional tributário, auditor fiscal da receita estadual aposentado, formado em administração, ciências contábeis e bacharel em Direito.                      g.consolaro@yahoo.com.br  


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