“Todo ser humano, aonde quer que vá, carrega consigo um emaranhado de convicções reconfortantes, que o acompanham como se fossem moscas em um dia de verão” Bertrand Russel
É importante destacar um aspecto adicional da necessidade de justiça nos nossos relacionamentos sociais. A utilização da lente da justiça atende a uma necessidade humana inata de controles sobre nossas vidas.
A teoria da autodeterminação; apoiada por forte
lastro empírico, postula pleno desenvolvimento: autonomia, competência e relacionamento
social. Dessas necessidades, em especial das duas primeiras, surge busca de
controle e influência sobre o ambiente do trabalho social. Os seres humanos precisam sentir que têm influência sobre seu
cotidiano.
Cosquitt, nesse sentido, destaca que os julgamentos de justiça ajudam a mitigar ou mesmo remover
os efeitos da incerteza sobre nosso destino. No ambiente do trabalho, os
indivíduos enfrentam diversas incertezas, relacionadas à continuidade de seu
emprego, à qualidade do relacionamento com o chefe, à permanência da
organização ao, longo do tempo e ao recebimento dos vários tipos de recompensa
em resposta ao seu esforço.
O tamanho de nossos mundos
Estamos sempre monitorando nossos relacionamentos sociais usando a lente da justiça. Estão se aproveitando de mim? Tenho influência nas decisões que impactam minha vida? É possível falar ainda em outros julgamentos automáticos, como o da similaridade e o da coerência – uma preocupação especialmente sensível para líderes, que muitas vezes não percebem a frequência com que seus liderados comparam suas palavras com suas ações.
A existência (e o
desconhecimento) desses julgamentos automáticos apontada para uma questão mais
ampla e ainda mais importante.
Como lembra Steven Pinker, psicólogo americano, todo mundo carrega
consigo uma teoria sobre o comportamento humano. Essa teoria determina a forma
como tentamos persuadir outras pessoas, criar nossos filhos, controlar nosso
comportamento ou gerenciar nossos relacionamentos.
Além disso, generalizamos nossas crenças para as demais pessoas,
incorrendo no que se conhece como o viés do falso consenso.. Absorvemos o
conhecimento trazido pelo senso comum do nosso tempo, sem questionamento.
Apenas para ficar em um exemplo simples, o conhecido mantra do manda quem pode, obedece quem tem juízo
continua sendo repetido ad nauseam nas diversas organizações brasileiras (em
especial nas repartições públicas), independentemente de qualquer reflexão
sobre seus efeitos na percepção de justiça ou no comprometimento dos
funcionários.
O mundo do ser humano é do tamanho dos seus conceitos. O conhecimento de base científica não apenas expande esse mundo, mas também dissolve mundos baseados em conceitos irreais. Assim, conhecer a estrutura e o funcionamento do hardware mental que acompanha os seres humanos é fundamental não apenas as organizações para expandir o nosso “mundo”, mas sobretudo, é necessário para que os gestores não cometam sistematicamente erros que comprometem o engajamento da equipe. Não se engane: ainda hoje as organizações não sabem como gerenciar adequadamente seu capital humano. A cultura do medo, o microgerenciamento e as relações de poder fortemente hierárquicas (e frequentemente autoritárias) continuam prevalecendo no ambiente do trabalho.
Gervásio Antônio Consolaro, diretor da AFRESP, ex-delegado regional tributário, auditor fiscal da receita estadual aposentado, formado em administração, ciências contábeis e bacharel em Direito.
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