AGENDA CULTURAL

21.11.22

Trinta anos da Academia Araçatubense de Letras

 

Pintura da artista plástica Duxtei Vinhas Ítavo, reproduzindo a sede da Academia Araçatubense de Letras  

Hélio Consolaro*

ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA PLURAL 15 – EDIÇÃO COMEMORATIVA DOS 30 ANOS DA AAL

Na minha vida, nunca as coisas foram fáceis. Entro por acaso, depois sou muito elogiado. Aos 74 anos, tenho a liberdade de dizer isso porque a tendência foi consolidada.

Outro dia me propuseram uma homenagem em vida, respondi que prefiro pós-morte. E se eu aprontar poucas e boas no crepúsculo de minha vida. Além disso, sempre vi tais honrarias durante a vida com desconfiança, cheira a coisa comprada.  

Nasci por fórceps, na marra, tirado por uma turquesa cirúrgica, quando não havia cesariana. Era o primogênito. Não era para sobreviver.

Perguntado pelo médico (o único dos filhos a não nascer por mãos de parteira), meu avô respondeu: “Se for para salvar um, que seja a mãe, a criança ainda não conhecemos". E os dois se salvaram. Minha mãe viveu por 94 anos.

Esse carma de começar devagar e terminar bem me seguiu. E me conhecendo bem como sou, quais são minhas limitações, vou com cautela. Assim também foi ao adentrar as portas da Academia Araçatubense de Letras.

Após publicar meu primeiro livro “Cobras & Lagartos” (condição para querer ser acadêmico), o meu padrinho, Tito Damazo, insistiu muito para que eu me candidatasse à cadeira 18, ainda sem patrono. E concordei.

Na época, eu era classificado de cronista irreverente. E meu texto era publicado no verso da página de uma colunista social. Levar a página dela para alguém era também oferecer a minha crônica. Havia um conflito de linguagem, por isso minha admissão como acadêmico foi aprovada com votação apertada. O perfil dos membros da AAL era conservador.

No discurso de posse, em sessão solene em novembro de 1997 no auditório do Siran – Sindicato Rural da Alta Noroeste – plantei o meu marco lítero-político: “peço permissão para formar um grupo paralelo ao dos acadêmicos, pois a AAL precisa cuidar da literatura de Araçatuba e de todos os escritores, não só dos acadêmicos”. Assim, em 1999, nasceu o Grupo Experimental com aprovação dos acadêmicos.

Em 1998, nas primeiras reuniões, a então presidente Odette Costa Bodstein declarou que não havia dinheiro para fazer o concurso João Scantimburgo, ou seja, publicar um livro escolhido entre os acadêmicos, pois não encontrava mecenas, patrocinadores. Respondi-lhe: “Vou tentar, Dona Odette!”. Ela me olhou com certa dúvida.

Na reunião seguinte, guardei a minha pepita. Até ela perguntar, prevendo uma resposta negativa de mim: “Conseguiu, Hélio”!

Impávido e colosso, respondi: “sim, o José Lourenço Durão, dono do Café Roceiro vai custear a publicação do livro vencedor. Pode mandar imprimir”. Todos ficaram boquiabertos. E o empresário financiou mais três edições do prêmio. Eu estava a um passo da presidência.

Não me candidatei de imediato. Na verdade, não havia nomes. Até que alguém lançou o meu nome. Aceitei, desde que não fosse disputar com alguém. Fui o nome que estava à mão.  

Fui reeleito para mais um biênio (2005-2006). Abri a Academia Araçatubense de Letras para a sociedade, integrei-a às atividades culturais do município: Barzinho da Academia, Barracão Cultural na Expô, Fórum Cultural. Até um cidadão elitista me perguntou, se não tínhamos medo de a entidade ser invadida “por gentinha”.   

Ao discutir a reforma dos estatutos, no segundo biênio, um acadêmico sugeriu que tirássemos o artigo da reeleição apenas por dois mandados consecutivos, porque assim votariam sempre em mim. Queriam que eu repetisse Austregésilo de Athayde, que foi presidente da Academia Brasileira de Letras por 34 anos. Fui veemente contra tal proposta.

Se a nossa Academia Araçatubense de Letras é meio diferenciada das outras cidades, isso se deve ao mentor Célio Pinheiro e a seus fundadores, sinto que também contribuí para que ela fosse mais arejada, com o espírito da inclusão, enquanto exerci a sua presidência, inclusive buscando recursos financeiros fora das anuidades dos acadêmicos.

Também no meu quatriênio, com a ajuda financeira do acadêmico Maurício do Vale Aguiar, fizemos uma reforma significativa do prédio (as duas casas da Vila Ferroviária, geminadas), lindeiras às ruas com nome de dois fundadores da Academia Brasileira de Letras: Olavo Bilac e Joaquim Nabuco.

Sendo seu presidente por dois biênios, aprendi a ser secretário municipal de Cultura de Araçatuba por oito anos. Valeu a pena.

OBSERVAÇÃO: sessão solene de 30 anos, dia 25/11/2022, sexta-feira, 19h, na Câmara Municipal de Araçatuba-SP, com muita literatura e arte.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras. Seu presidente por dois biênios, 2003-2006   

 

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