Pintura da artista plástica Duxtei Vinhas Ítavo, reproduzindo a sede da Academia Araçatubense de Letras
Hélio Consolaro*
ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA PLURAL
15 – EDIÇÃO COMEMORATIVA DOS 30 ANOS DA AAL
Na minha vida, nunca as coisas foram fáceis.
Entro por acaso, depois sou muito elogiado. Aos 74 anos, tenho a liberdade de
dizer isso porque a tendência foi consolidada.
Outro dia me propuseram uma homenagem em
vida, respondi que prefiro pós-morte. E se eu aprontar poucas e boas no
crepúsculo de minha vida. Além disso, sempre vi tais honrarias durante a vida
com desconfiança, cheira a coisa comprada.
Nasci por fórceps, na marra, tirado por uma
turquesa cirúrgica, quando não havia cesariana. Era o primogênito. Não era para
sobreviver.
Perguntado pelo médico (o único dos filhos a
não nascer por mãos de parteira), meu avô respondeu: “Se for para salvar um,
que seja a mãe, a criança ainda não conhecemos". E os dois se salvaram.
Minha mãe viveu por 94 anos.
Esse carma de começar devagar e terminar bem
me seguiu. E me conhecendo bem como sou, quais são minhas limitações, vou com
cautela. Assim também foi ao adentrar as portas da Academia Araçatubense de
Letras.
Após publicar meu primeiro livro “Cobras
& Lagartos” (condição para querer ser acadêmico), o meu padrinho, Tito
Damazo, insistiu muito para que eu me candidatasse à cadeira 18, ainda sem
patrono. E concordei.
Na época, eu era classificado de cronista irreverente.
E meu texto era publicado no verso da página de uma colunista social. Levar a
página dela para alguém era também oferecer a minha crônica. Havia um conflito
de linguagem, por isso minha admissão como acadêmico foi aprovada com votação
apertada. O perfil dos membros da AAL era conservador.
No discurso de posse, em sessão solene em
novembro de 1997 no auditório do Siran – Sindicato Rural da Alta Noroeste –
plantei o meu marco lítero-político: “peço permissão para formar um grupo
paralelo ao dos acadêmicos, pois a AAL precisa cuidar da literatura de
Araçatuba e de todos os escritores, não só dos acadêmicos”. Assim, em 1999,
nasceu o Grupo Experimental com aprovação dos acadêmicos.
Em 1998, nas primeiras reuniões, a então
presidente Odette Costa Bodstein declarou que não havia dinheiro para fazer o
concurso João Scantimburgo, ou seja, publicar um livro escolhido entre os
acadêmicos, pois não encontrava mecenas, patrocinadores. Respondi-lhe: “Vou
tentar, Dona Odette!”. Ela me olhou com certa dúvida.
Na reunião seguinte, guardei a minha pepita.
Até ela perguntar, prevendo uma resposta negativa de mim: “Conseguiu, Hélio”!
Impávido e colosso, respondi: “sim, o José
Lourenço Durão, dono do Café Roceiro vai custear a publicação do livro
vencedor. Pode mandar imprimir”. Todos ficaram boquiabertos. E o empresário
financiou mais três edições do prêmio. Eu estava a um passo da presidência.
Não me candidatei de imediato. Na verdade, não
havia nomes. Até que alguém lançou o meu nome. Aceitei, desde que não fosse
disputar com alguém. Fui o nome que estava à mão.
Fui reeleito para mais um biênio (2005-2006).
Abri a Academia Araçatubense de Letras para a sociedade, integrei-a às
atividades culturais do município: Barzinho da Academia, Barracão Cultural na
Expô, Fórum Cultural. Até um cidadão elitista me perguntou, se não tínhamos
medo de a entidade ser invadida “por gentinha”.
Ao discutir a reforma dos estatutos, no
segundo biênio, um acadêmico sugeriu que tirássemos o artigo da reeleição
apenas por dois mandados consecutivos, porque assim votariam sempre em mim. Queriam
que eu repetisse Austregésilo de Athayde,
que foi presidente da Academia Brasileira de Letras por 34 anos. Fui veemente
contra tal proposta.
Se a nossa Academia Araçatubense de
Letras é meio diferenciada das outras cidades, isso se deve ao mentor Célio
Pinheiro e a seus fundadores, sinto que também contribuí para que ela fosse
mais arejada, com o espírito da inclusão, enquanto exerci a sua presidência,
inclusive buscando recursos financeiros fora das anuidades dos acadêmicos.
Também no meu quatriênio, com a
ajuda financeira do acadêmico Maurício do Vale Aguiar, fizemos uma reforma
significativa do prédio (as duas casas da Vila Ferroviária, geminadas),
lindeiras às ruas com nome de dois fundadores da Academia Brasileira de Letras:
Olavo Bilac e Joaquim Nabuco.
Sendo seu presidente por dois
biênios, aprendi a ser secretário municipal de Cultura de Araçatuba por oito
anos. Valeu a pena.
OBSERVAÇÃO: sessão solene de 30 anos, dia 25/11/2022, sexta-feira, 19h,
na Câmara Municipal de Araçatuba-SP, com muita literatura e arte.
*Hélio Consolaro é professor,
jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras. Seu
presidente por dois biênios, 2003-2006
Um comentário:
Fruto do Cafe Roceiro...
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