Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
Há uma propaganda radiofônica de empreendimento imobiliário em Araçatuba que parece ser norte-americana, quase tudo em inglês, no final aparece o pobre português: Construtora Ferreira.
Ouço isso na rádio Nova Brasil que só toca música
brasileira. Aí vem o anúncio que não quer saber nada de Brasil. Deve ser produto de alguma agência de publicidade.
Está certo que nosso idioma está em sexto lugar entre
os mais falados no mundo, mas não precisa esculachar tanto com ele, afinal é o
programa de pensar do nosso cérebro, de nosso povo.
Abel Ferreira, típico português classe média, não usa
estrangeirismo em suas entrevistas. Lá em Portugal, como não é um país construído
pela miscigenação, na hora de registrar pessoas, até os nomes estrangeiros são
censurados. Não queremos isso, afinal o Brasil é formado por três raças e
muitas nacionalidades.
Dizem os teóricos que os ideogramas orientais
determinaram a forma de pensar daquele povo. O Japão importa palavras inglesas,
mas elas são adaptadas à pronúncia do idioma japonês. Importar palavras é uma
atitude inteligente; impatriótico é trazer a palavra estrangeira com a mesma
ortografia do idioma exportador: marketing, show, impeachment, workshop, briefing, coach, approach, CEO, commodity,
deadline, feedback e muitas outras.
Eis a fala de uma reunião
corporativa:
Boa tarde, vocês trouxeram o briefing? Precisamos
fazer um brainstorm para definir o tema do workshop com o coach. O CEO e o COO
pediram para darmos feedback logo, pois o deadline do job está próximo. Não
podemos decepcionar o board!” (Correio
Braziliense) "Se você ouvisse essas frases numa reunião de trabalho,
entenderia tudo? O excesso de termos em inglês na comunicação corporativa tem
se tornado desafio para muita gente; afinal, a maior parte da população
brasileira não fala um idioma estrangeiro: na última edição do índice
internacional de proficiência na língua inglesa da Education First (EF), o
Brasil foi rebaixado e parou de fazer parte do grupo das 40 nações com melhor
desempenho no idioma inglês." (Correio Braziliense)
Destruir nosso idioma é a primeira condição para
atacar nossa cultura. Não é uma questão de ser nacionalista, mas de
sobrevivência. A facilidade de tradutores digitais que temos hoje é uma forma
das línguas (nações) enfrentarem a globalização (planeta Terra). Há também o
esperanto que avança a passos lentos.
Parece ironia, mas quem brecou o estrangeirismo há
algumas décadas no Brasil, foram os aposentados do INSS, pois os caixas
eletrônicos dos bancos brasileiros foram implantados em inglês. Imagine como
foi a reação dos velhinhos, ficavam sem o pagamento, pois mal sabiam ler o
português. Os bancos passaram os caixas eletrônicos para o idioma português e está até
hoje.
Há brasileiros que não querem o Brasil desenvolvido
com o jeito próprio, do seu povo, mas o país só pode ser chamado de nação de primeira
linha se imitar o estrangeiro. Esse pessoal é gente que não ama o seu povo,
portadora do complexo de vira-lata, estão preocupados com o neoliberalismo.
Importar palavras é uma necessidade, mas adaptá-las ao
nosso idioma também. O português não um é subidioma, e quem deve mais
respeitá-lo são os profissionais da palavra (escritores, jornalistas,
publicitários, produtores de conteúdo na internet). Afinal, a nossa ferramenta
é a palavra, palavra da língua portuguesa.
6 comentários:
Muito bom. É isso mesmo.
Muito bom o texto. Vou passar adiante!!
Meus pais tiraram meu nome da bíblia, nome importante que tem um peso significativo:
Davi , porém o cartório registrou David , a maioria das pessoas me chama de Deivid fica Americanizado não combina comigo que tenho o sangue Nordestino cabeça chata do tipo Gabiru kkkkkk
Muito bem, Professor.
É isso mesmo!
Muito bem, Professor.É isso mesmo!
Não consigo concordar integralmente visto que o professor defende o aportuguesamento dos termos estrangeiros. Isso., a meu ver, acarreta dois "problemas":
1. O aportuguesamento das palavras inglesas implica, quase sempre, alongamento das versões.
Por exemplo 'piquenique'.
2. A exposição à forma original do termo não cessará, podendo levar a confusões e dubiedades.
Ovorrem-me ainda mais uma atribulação, como aortugusar as siglas, como a citada CEO?
De qualquer modo, temos que lutar por nossa forma de nos expressarmos.
Nisso eu aplaudo sua crônica!
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