Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
Fazemos velório por tradição, pois faz parte de nossa
cultura. É o jeito como fomos criados. São explicações óbvias. Velar é abrir
mão do próprio sono para vigiar o defunto, ver se está morto mesmo.
Há gente que põe no testamento como quer seu velório. Os
boêmios são os mais exóticos. Como houve nos tempos de Jesus as carpideiras,
mulheres contratadas para chorar. E assim por diante, é só pesquisar.
Com o advento da pandemia, covid-19, velar defunto
à noite já tornou um comportamento mais raro, fecha-se a capela e todos vão
dormir, mas sempre amigos e parentes do falecido gostariam de ficar lá. Não
estou falando do papa Francisco, que juntou multidão, mas de gente simples.
Um discurso de velório deve ser curto e comovente,
expressar respeito, carinho pela família e amigos presentes. O objetivo é
lembrar o falecido com respeito e compartilhar memórias significativas,
transmitindo conforto e apoio a todos que estão em luto. Criticar o inimigo
morto no velório não é recomendável. O ex-vereador José Américo do Nascimento
nunca perdeu um velório e se elegeu por três vezes.
Os velórios são um encontro de pessoas em torno de uma
pessoa falecida. Ir se despedir pessoalmente do morto é uma forma de
prestigiá-lo, sinal de uma fértil convivência. Atualmente, a cremação está em
ascendência, ela abrevia o velório.
Em velórios, temos uma riqueza de frases ditas durante a
cerimônia, elas podem expressar condolências, homenagens ou reflexões sobre a
morte e a vida. Algumas opções: "Que Deus conforte a família",
"Descanse em paz", "Sua memória viverá para sempre em nossos
corações", "Amado e jamais esquecido", ou frases mais
reflexivas, como: "A morte é apenas uma transição, não um
fim"
Em velório de gente do bem, as grandezas e belezas são as
coroas. Se o morto ou morta for um líder, cada entidade abre o seu cofre para
montar enfeite de flores durante do velório.
Há muitas situações hilárias durante a cerimônia: até
bandeira do Corinthians cobrindo caixão, ou então há gente que chora para o
defunto errado. O escritor brasileiro Viriato Corrêa montou em seu livro
"Cazuza" uma cena onde o defunto reviveu e saiu do caixão. Leia
o livro para ver o que aconteceu.
Velório é um rito da morte, da despedida. E tão certa.
Por isso tristemente acontece.
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