(JL dos Santos, ao estilo de JL Borges)
O professor que planta manjericão no quintal,
sem veneno, sem pressa
como quem conversa com a terra —
como um bom selvagem.
A comerciária que sorri só de ouvir
um batuque passando na rua,
e pensa: ainda bem que tem som nesse mundo.
O estudante que se liga na origem das palavras,
e acha bonito quando entende
que “favela” vem de planta resistente.
Os dois senhores de camisa amarelada
jogando baralho em frente ao cemitério,
sem pressa, sem fala, só cartas.
A moça que vende melancia e velas
implora uma venda e sonha com mar.
O rapaz da gráfica que alinha as páginas
mesmo sem curtir o texto,
mas faz bonito — por ele e pelo trabalho.
Um casal lendo poesia no banco da praça,
ela em silêncio, ele com o olho fechado.
A criança que faz carinho no cachorro da rua,
com um cuidado que falta em tanto adulto.
Quem tenta entender a maldade que sofreu,
sem virar veneno também.
Quem agradece, do nada,
porque ainda existem belas poesias,
tipo as dos velhos Pessoa, Bandeira ou de Barros.
E aquele que, no fim das contas,
prefere que o outro ganhe a discussão,
só para sentir a paz durar mais cinco minutos.
Essa gente que nem se conhece,
mas estavam ali e acolá, vivendo, firmes, suaves —
são os que estão segurando o mundo,
sem publicar nada nas redes sociais.
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