AGENDA CULTURAL

29.8.10

Pelo direito de contar piadas

Hélio Consolaro*

Proclamamo-nos a nação mais democrática do mundo, tal afirmação sempre foi uma hipocrisia, porque, até hoje, gostamos de proibir tudo.
Existe em nós, como membros da classe média, o preconceito de que somos mais sabidos e temos que impor nosso pensamento para os outros segmentos sociais. Assim, queremos criminalizar e proibir tudo. Além do Legislativo, o Judiciário é mestre em fazer isso também, criando jurisprudência.
Esse moralismo católico, apenas formal, permeia todos os partidos políticos, herança da antiga UDN. O padre prega contra a pílula, camisinha, divórcio; os católicos escutam-no e fazem tudo ao contrário. Agora, o Brasil se vê acrescido do moralismo evangélico, que é apenas formal nos Estados Unidos, porque lá é maioria; radical no Brasil, por ser minoria.
Nossa origem é latina, com aquele espírito de que a gramática é uma coisa, a prática é outra. Um desencontro total entre intelectuais e povão. Com essa máxima, aderimos rapidinho ao “politicamente correto” norte-americano.
O cronista Rubem Alves escreveu muito bem contra isso na crônica “Linguagem politicamente correta”, contando uma experiência vivida nos Estados Unidos: “nunca use uma palavra que humilhe, discrimine ou zombe de alguém. Encontre uma forma alternativa de dizer a mesma coisa”. Não se deve dizer aleijado, cego, deficiente. A “PC language” separa a pessoa da sua deficiência. Em vez de “João é cego”, “João é portador de uma deficiência visual.” Assim, ninguém pode ser chamado de velho, velha. Como se a velhice fosse um defeito.
Estou escrevendo tudo isso, porque eu queria estar na passeata realizada no Rio de Janeiro (22 de agosto), quando humoristas não contaram piadas, mas lutaram pelo direito de contá-las neste período eleitoral.
A manifestação foi organizada pelo grupo “Comédia em Pé” e teve a participação de grandes nomes do humor nacional, como: Hélio de La Peña, Marcelo Madureira e Cláudio Manoel, do Casseta & Planeta, Danilo Gentili, do CQC, Sabrina Sato, do Pânico na TV, além de Sérgio Malandro, Bruno Mazzeo, Lúcio Mauro Filho.
A lei eleitoral 9.504, de 1997, diz em seu texto que é proibido a emissoras de TV ou de rádio “usar trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo que, de qualquer forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido ou coligação, ou produzir ou veicular programa com esse efeito”. A proibição vale tanto para a programação normal, como para os noticiários.
“É como se proibissem falar de futebol em época de Copa do Mundo”, comparou Bruno Mazzeo. “E a democracia foi reconquistada no Brasil com muita luta. Muita gente morreu para que a gente vivesse num país democrático”, enfatizou Lúcio Mauro Filho.
Tiririca foi mais inteligente que os humoristas, se inscreveu como candidato para fazer humor. E como valor agregado, pode de ter um mandato de quatro anos. Nada a perder: se ressuscita como artista e ganha a eleição. Já tivemos Mário Juruna, Agnaldo Timóteo, Enéias, Clodovil. Agora, Tiririca.
O cara não tem nada de abestado.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras. Atualmenemte é secretário da Cultura de Araçatuba-SP.

3 comentários:

Marisa Mattos disse...

Abestado Tiririca não é mesmo,né Hélio?E vai arrebanhar milhoes de votos com seu jeitão irreverente mas muito inteligente de pedir votos.Quanto ao direito de contar piadas sobre os "homens" é que é rindo e brincando que se falam as maiores verdades...daí o medão deles...

Marisa Mattos disse...

Abestado Tiririca não é mesmo,né Hélio?E vai arrebanhar milhoes de votos com seu jeitão irreverente mas muito inteligente de pedir votos.Quanto ao direito de contar piadas sobre os "homens" é que é rindo e brincando que se falam as maiores verdades...daí o medão deles...

Patrícia Bracale disse...

Nossa, realmente é incrível como gostam de proibir...
É por isso que eu rio, pra não chorar.