AGENDA CULTURAL

16.3.13

Zoo humano: bilhões de animais vivem em nosso corpo


O número de microrganismos que vivem em simbiose com o homem é superior ao das células do nosso corpo. Embora não existam ainda cifras precisas, estima-se que existam de um a dez "hóspedes" para cada célula humana
Duas modalidades de enterobactérias, seres microscópicos que habitam nosso sistema digestivo e desempenham papel importante na química dos processos de digestão, absorção e metabolização dos alimentos

Por: Equipe Oásis

A expressão "zoo humano", usada como uma das definições possíveis para o nosso corpo, tem total razão de ser. No mundo não existe nenhum zoológico que possa se comparar a um único corpo humano quanto ao número de animais que o habitam. Esses animais são quase sempre microrganismos (na sua maior parte bactérias, mas também vários fungos, vermes, amebas e parasitas) que se nutrem geralmente de materiais descartáveis produzidos pelo organismo e que, com frequência, produzem vitaminas e outras substâncias úteis a esse mesmo organismo. Os órgãos mais "habitados" são o intestino, a boca, a região urogenital, o umbigo, a pele, o nariz e a garganta.

Poucos lugares do corpo humano são mais propícios à proliferação de bactérias do que a boca

Boquita linda

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Para milhões de bactérias, a cavidade bucal é um paraíso. O ambiente perfeito para que elas se reproduzam e constituam suas colônias. Para começar, alimento é o que não falta por ali. Esses microrganismos compõem a chamada placa bacteriana, ou biofilme, o nome dado pelos dentistas. Quando a escova, a pasta e o fio dental estão presentes no dia-a-dia, é possível controlar esse amontoado de bichinhos e os restos de comida. Dessa forma, prevalecem as espécies benéficas, que ajudam a manter a saúde bucal afastando também os tipos nocivos.

Quando a higiene é inadequada, o biofilme se torna mais espesso, reduzindo a concentração de oxigênio disponível. Isso faz o cenário ficar propício ao domínio de micróbios patogênicos, ou seja, aqueles que provocam doenças. Em dois dias de acúmulo desse biofilme, multiplicam-se as bactérias. Em sete dias, nota-se a proliferação das bactérias responsáveis por gengivites e periodontites.


Uma flora especial na vagina

O órgão sexual feminino também é povoado de microrganismos, especialmente bactérias e fungos. Quando essa flora está em equilíbrio, a genitália fica mais protegida contra possíveis invasores. Ali existem bacilos, um tipo de bactéria, que tornam a região mais ácida, dificultando infecções. Quando as defesas do organismo baixam a guarda, os micróbios nefastos não tardarão a instalar uma confusão por lá.

Uma gripe ou o uso de antibióticos por tempo prolongado podem atrapalhar esse equilíbrio. Além disso, fungos que até então até contribuíam com a saúde vaginal podem se multiplicar e desencadear um problema. É o caso da candidíase. A boa higiene diária local e a procura de um especialista se houver algum sintoma são as medidas mais eficazes de evitar a propagação desses microrganismos.

Ao microscópio, nossa epiderme mais parece um território repleto de animais de variadas espécies


Um exército defensivo na pele

Não conseguimos vê-los, mas milhões de microrganismos vivem espalhados ao longo de toda a nossa epiderme. Os cientistas estão começando a entender agora a função das bactérias que convivem em meio às células da pele. Em 2007, uma equipe da Universidade de Nova York identificou na epiderme de um braço humano aproximadamente 200 espécies de micróbios alguns deles até então desconhecidos. O objetivo agora é descobrir de que maneira eles seriam úteis ou não ao hospedeiro. Uma das hipóteses já levantadas por pesquisadores é que alguns desses microrganismos incentivariam o constante processo de renovação celular e fortaleceriam a barreira da pele contra bactérias malignas, fungos e vírus. O que ainda não se sabe muito bem é de que maneira poderíamos ajudar a preservar os parceiros para que eles continuem trabalhando por uma pele mais saudável.

Nos humanos como nos animais uma das causas da obesidade mórbida é o desequilíbrio da fauna e da flora que atuam no sistema digestivo


Intestino, o órgão mais colonizado

Com mais de 400 espécies diversas, o intestino é o órgão que hospeda a maior variedade de bactérias. Elas, além de produzir vitaminas (em particular, a biotina e a vitamina K), contribuem para os processos digestivos dos açúcares e das gorduras, favorecendo a absorção de micronutrientes importantes tais como o magnésio, o cálcio e o ferro. Sua presença, por outro lado, impede que bactérias nocivas colonizem as paredes do nosso intestino, protegendo-nos de infecções.

Nosso intestino é desse modo inteiramente colonizado por microrganismos (apenas no cólon o número deles é maior do que o de todas as células do nosso corpo). Há muitos fatos curiosos relacionados a essas populações. Sabe-se, por exemplo, que muitas bactérias são exigentes em matéria de alimento, tornando-se altamente especializadas e comendo apenas determinadas substâncias e em determinados setores do nosso intestino. Como demonstrou recente pesquisa da Pennsylvania University, as bactérias que compõem a flora intestinal distribuem suas colônias com base nos nossos hábitos alimentares. Analisando as fezes de 98 voluntários os pesquisadores descobriram que as bactérias intestinais se classificam em dois grupos segundo os hábitos alimentares do seu hospedeiro: dieta rica em fibras e carboidratos , ou rica em gorduras e proteínas. Variando o regime alimentar desses voluntários durante 24 horas, foram observadas inclusive variações significativas dos tipos de bactérias presentes nos seus intestinos. Disso se conclui que, se mudarmos os hábitos alimentares a longo prazo, poderão acontecer grandes modificações na composição da flora intestinal, com repercussões importantes para a saúde dos pacientes.

O umbigo é uma das zonas do corpo humano onde existe maior concentração de variadas espécies de microrganismos  

Umbigo, reserva natural

O umbigo humano, por seu lado, merece ser tombado como reserva natural de bactérias. Um inteiro ecossistema prolifera no interior do nosso umbigo. Ele é lar de um número enorme de bactérias desconhecidas. Entre as pregas do umbigo, pesquisadores da North Carolina State University encontraram cerca de 1400 diversas cepas de bactérias, das quais 662 eram aparentemente desconhecidas até agora. Entre essas espécies desconhecidas, uma tinha sido individuada apenas no fundo dos oceanos; outra, a Georgenia bacteria, só tinha sido encontrada em amostras de terras chinesas. A abundância e a diversidade dos microrganismos nessa região podem ser explicadas pelo fato de que sua conformação faz com que ela seja menos facilmente atingível do que outras zonas da nossa epiderme.

O ácaro dos folículos vive junto à raiz dos nossos pelos, alimentando-se de células mortas

Estima-se que entre 500 a 1000 espécies diferentes de bactérias vivem no interior ou na superfície do corpo humano, inclusive cerca de 80 espécies que se especializaram para viver apenas na boca. O número total de bactérias excretadas a cada dia pelo corpo humano vai de 100 bilhões a 100 trilhões. Cada centímetro quadrado do nosso corpo é lar de cerca 10 bilhões de micróbios. As áreas mais populosas do nosso corpo são os dentes, a garganta e o sistema digestivo. Nessas áreas a concentração de microrganismos é multiplicada por milhares em comparação com a pele nua.

Tais números parecem enormes, mas apesar disso calculou-se que, em termos de volume, a soma das bactérias presentes na pele de uma pessoa normal é mais ou menos equivalente ao volume de uma ervilha. Isso sem falar dos parasitas comuns que moram no corpo humano. Os ácaros dos folículos, que podem ser encontrados em todas as pessoas, passa os seus dias de modo tranquilo e inofensivo, alimentando-se de células mortas da pele. Este não é o caso de outros microrganismos, como a Naegleria fowleri, uma ameba que é capaz de invadir o cérebro e se multiplicar até causar a morte do hospedeiro.