AGENDA CULTURAL

20.12.13

Precisa ser vivida


Hélio Consolaro*

É Natal, canta Simone. Já coloquei no som do carro músicas natalinas, abasteci meu “pen drive” de acordes de Luís Bordon. A harpa é um instrumento ligado ao Natal de minha infância. Assim, ando pra lá e pra cá ouvindo músicas sobre o Menino Deus.

Na minha meninice, no carnaval, as rádios só tocavam marchinhas; e a cada ano surgiam outras mais bonitas. Assim, era o Natal, quando Luís Bordon passava o dedo nas cordas, sabíamos que o Natal estava próximo.


Não me contento com a árvore de Natal. Na minha sala, na Secretaria Municipal de Cultura de Araçatuba, tenho um pequenino presépio feito de palha, minha formação é toda católica. Começou o Natal quando o tiro da caixa e instalo-o no móvel.  

Hoje, este croniqueiro, está meio saudosista, coisa de velho rabugento. No Natal, minha mãe fazia (ainda o faz, apesar dos 87 anos) uma fornada de pão doce recheado com passas. No dia de Natal, bebia-se guaraná quente, porque poucos tinham geladeira. As garrafas de cerveja dos adultos vinham empalhadas.

No Dia de Natal da atualidade, já estou enfastiado de tanta comilança. Festa na escola, festinha no serviço, amigo secreto na igreja, etc. Além do mais, se faz festa o ano inteiro, porque se bebem refrigerantes e cervejas como água. Na minha infância, bebida apenas nas datas especiais: Natal, Páscoa, casamento de alguém.

Esse mundo rural ficou lá trás, estou melhor agora. Tudo era melhor por causa de minha juventude, eu estava descobrindo-o, tudo era novidade. Depois de muitos anos vividos, muita coisa se repete e tudo perdeu o frescor.

Não se assuste, caro leitor, não estou à beira do abismo tentando me jogar. Como cantou João Cabral de Melo Neto em seu auto de natal “Morte e Vida Severina”, a vida precisa ser vivida, mesmo que seja em retalho, paga a prestação.

Menino Jesus ensinou muita coisa, embora tenham tergiversado suas palavras. Já passei Natal sem tomar guaraná, presente nem pensar, por isso no dia me baixa uma tristeza, mas dou um chega pra lá nela, porque com rumo ou sem rumo, precisamos encarar a vida. Às vezes, faço textos niilistas, mas são estados de alma, quando estou meio encachorrado.

Curtamos os dias que nos são oferecidos, vivamos um cada dia. Que o seu Natal seja uma festa interessante, alegre.   


*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP

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