AGENDA CULTURAL

12.1.14

Barrados no baile. Aparthaid a brasileira?

Caso o organizador do evento aparecesse e fosse reconhecido, seria conduzido a um distrito policial para esclarecimentos, segundo declarou à Veja SP o oficial de justiça. A situação estapafúrdia foi amplamente divulgada pela imprensa.
Em outro shopping, bem mais popular e localizado no extremo leste da cidade, a PM chegou a usar bombas e balas de borracha. Na prática, o Estado tem usado a força para impedir o sagrado direito de jovens pobres e da periferia de ir e vir. Os chamados “rolezinhos” estão sendo agendados por jovens e adolescentes destes bairros mais distantes por meio das redes sociais, e têm despertado o medo de comerciantes e frequentadores habituais dos shopping centers. Os primeiros rolezinhos faconteceram em shoppings da periferia, e a presença de seguranças e policiais também ocorreu. A ação deste final de semana seria mais marcante, pois fora escolhido um dos shoppings frequentados pela elite paulistana, localizado no caríssimo bairro do Itaim, um dos que mais concentra investimentos públicos e privados em toda a cidade. 
Vale lembrar que shoppings centeres ocuparam as páginas policiais dos jornais recentemente por suposto envolvimento em esquemas de propina para ter seus projetos aprovados.
A expedição de uma liminar, embora compreensível sob o ponto de vista daqueles que temiam a chegada de centenas ou milhares de frequentadores, digamos, “diferenciados”, escancara o que todos neste país sabemos mas muito poucas vezes falamos: apesar dos avanços institucionais e legais que o Brasil conheceu desde a redemocratização, alguns brasileiros são mais cidadãos do que outros. Alguns espaços são mais exclusivos do que outros. E o consumo, ainda que cantado em prosa e verso como motor da sociedade e supra-sumo da felicidade e da realização pessoal, não é, evidentemente, para todos. 
É estranhíssimo ver empresários buscando a ajuda do Estado, ainda que seja para obter uma simples liminar com o objetivo de impedir a diversificação de sua própria carteira de clientes. Afinal de contas, a elite brasileira é capitalista ou não?
Essa garotada que hoje tenta frequentar os shoppings nasceu na década de 1990, quando o discurso neoliberal já era hegemônico em nosso país. 
Cresceram ouvindo dia e noite que política é ruim e que o sucesso é uma conquista individual. Comprados o tênis de marca, o relógio da moda, o celular de última geração, o rolezinho no shopping é o top da ostentação dos que vem de baixo, da base da pirâmide social. E ai encontram o que? As portas fechadas. A porta na cara da molecada de pele marrom é o outro lado da moeda de um país onde uma boa parte da elite parece ser capitalista somente até a página 2. E que no dia a dia, há séculos, busca se apropriar, de todas as formas possíveis, do Estado, a fim de dirigir suas prioridades. Dos vultosos subsídios a setores empresariais ao eterno chororô contra os impostos, do poderoso rentismo que vive da rolagem da dívida pública aos editais amigos de obras e serviços públicos, da sonegação fiscal à domesticação de partidos e candidatos através do financiamento de campanhas eleitorais.
Fernando Henrique Cardoso talvez estivesse certo nos seus livros e artigos sobre a dependência brasileira: nunca tivemos, em nosso país, amplos setores de elite que trouxessem consigo um projeto de nação, destinado a integrar nos direitos, na cidadania ou sequer no consumo os milhões de despossuídos. 
Quando muito nossa elites têm um projeto de classe, ou nem isso. Ao longo de séculos boa parte delas contentaram-se em intermediar negócios com os países mais ricos e levar sua parte, e a polícia que se vire para segurar a massa mulata e preta das periferias paupérrimas. Sempre foi assim.
Ao lado dessa ignorância preguiçosa de nossas elites, temos a ignorância adestrada de nossos pobres. Quando se vê um garoto carregando um fuzil no meio de uma favela, de uma coisa pode-se ter certeza: ele não quer fazer a revolução e pôr o sistema abaixo. Pelo contrário, a violência é a forma pela qual pretende acessar e usufruir dos bens materiais que outros jovens conseguem obter por meios legais ou aceitáveis. A garotada pobre que se manda em grupos para os shoppings tem o mesmo desejo. Querem consumir os símbolos de status que de uns tempos pra cá imaginam ser acessíveis a eles também. 
Ignoram, no entanto, que ao invés dos shoppings muito melhor seria se tivessem acesso a teatros, cinemas, bibliotecas, centros esportivos e de lazer, tão ou mais inacessíveis a eles que estes ocos templos de consumo.
O “rolezinho” demonstra o paradoxo da elite brasileira, que por um lado quer crescimento econômico, mas por outro quer manter os de pele marrom confinados na senzala. A muralha que o “rolezinho” escancarou é formada por uma Justiça muitas vezes conivente com a desigualdade social, fato que se expressa em alguns casos como foi em Pinheirinho e agora nos “rolezinhos”.
Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor do Curso de Graduação em Gestão de Políticas Públicas e do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da USP.
Rafael Alcadipani é PhD em Management Sciences pela Manchester Business School (Inglaterra) e Prof. Adjunto da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.



LETRA

Bumerangue

Renan Inquérito


Hoje eu sei que pensar incomoda como andar na chuva,
Ainda mais se eu estiver de toca calça larga e blusa,
O detector me acusa "piipii", Revolução,
Me travam na giratória da discriminação,
Por que pobre pensando é falta de educação?
Somos adestrados pra aceitar, pra raciocinar não,
Os privilégios pra minoria,
Desigualdade Hereditária como as capitanias,
Aqui o homem de bem, é o homem de bens,
Que tem uma Merceds'Bens traz a maldade nos Gens,
Sem filho vai deixar a Herança pros podlees,
Tem de tudo, mas vai buscar paz no Google,
Condomínios de segurança máxima, pra ricos de alta periculosidade,
Se dinheiro é poder, liberdade, por que tanta cerca, e tanta grade?!

(Refrão)

Quem planta a guerra não colhe a paz,
Vai voltar em dobro a injustiça que você me faz.
Quem planta a guerra não colhe a paz,
Vai voltar em dobro a injustiça que você me faz.

Quem não liga pra real, só pra novela global,
Quando ligar pro futuro, vai dar na caixa postal.
A vida é fazer o bem sem pedir nota fiscal,
A vida ensina e não tem nem um manual.
Tratado como animal, desde os tempos do Cabral,
Mas pode por no Jornal que o Gueto não é curral.
Lembra da pena? A que assinou a abolição?
Agora os pretos cumprem pena dentro da prisão.
Meu povo pena, me da mó pena o irmão,
Mas perder a fé? Não! Vale a pena não.
To vivão, firmão independente,
Do que o mundo pensa de mim sigo em frente,
A sociedade dizendo que nós é marginal, cansa,
Mas nós prova o contrário, luta e sempre alcança!
É tipo de gente que não aprendeu ainda,
Que é da lagarta feia, que nasce a borboleta linda.

"Aí, todo ser humano sonha em ser rico né? Fiquei pensando... será que algum rico sonhou em ser ser humano? Sei não!"

Quem apanha não se esquece, tudo que sobe desce,
Meu povo sonha e vira aquilo que você causou,
Quem bate não se lembra, Meus cortes causam pena,
Pro vale do esquecimento eu não vou,
Meus direitos roubados, me sinto encarcerado,
Tudo vai e vem, 500 anos cativo ainda estou,
Minha força é o seu problema, Meu povo é seu dilema,
Quer me coagir mais minha voz tu não cala doutor.
Mas a fé nunca pode acabar,
Somente Deus pode nos julgar,
Mas a fé nunca pode acabar,
Somente Deus pode nos julgar.

(Refrão: 2x)

Quem planta a guerra não colhe a paz,
Vai voltar em dobro a injustiça que você me faz,
Quem planta a guerra não colhe a paz,
Vai voltar em dobro a injustiça que você me faz.

Arquivo meu inquérito, (e o meu depoimento)
Arquivo meu inquérito, (e o meu depoimento)
Arquivo meu inquérito, (e o meu depoimento)
Arquivo meu inquérito.
Arquivo meu inquérito, (e o meu depoimento)
Arquivo meu inquérito, (e o meu depoimento)
Arquivo meu inquérito, (e o meu depoimento)

(Pedir paz sem justiça é utopia!)

Hei Atenção! A reação ta entrando em ação, oprimidos estão se unindo, se armando, mas com as armas certas, nada de ignorância, sem violência, sabendo que tudo pode mudar, quem ta de pé pode cair, quem ta caído pode levantar, não leva a mal não mais é uma aviso, não é questão de revolta, a vida é um Bumerangue, tudo que vai, volta...(volta).

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