AGENDA CULTURAL

19.5.14

Ambiente de praia


Hélio Consolaro*

Uma praia não pode beneficiar a propriedade de alguém, é um espaço democrático. Os resorts com tobogã para uma praia particular certamente estão disputando esse privilégio na Justiça. Ou tem autoridades fazendo vistas grossas.

Na praia, todos chegam, veem o mar, deitam-se na areia, ou ficam comendo e tomando alguma coisa, guardados pelo sol de um comerciante qualquer. As pessoas vendem prazeres, legal ou ilegalmente, para que o passeio seja completo. Água de coco, caipirinha, cerveja, frutas, guloseimas. Esquecia-me dos quiosques que oferecem até refeições.

Passam pessoas com aleijões vendendo coisas que sensibilizam os turistas; há gente oferecendo badulaques chineses, outros, chapéus, cangas, todo o tipo de necessidades para o momento.

Carrinhos que vendem crepes, milho verde, filé miau. E as inscrições nos veículos empurrados, tração humana, são exóticas: Crepes do Zé,  Milho Verde do Mané, Churrasquinho do Neto. Pelo tipo do carrinho, pelas rodas, todos são fabricados num único lugar que também é único a ganhar dinheiro com tudo aquilo. Fabricando e vendendo, fabricando e locando.

Deitadas ou andando, as boazudas, as popozudas, as barrigudas. Estou rimando demais: as feias em geral. E há homens que levam a sua dama, para desfilar, como a dizer:

- Veja com os olhos e lamba com a testa...

Naqueles milhares de guarda-sóis, havia uma boazuda com o seu namoradinho, ambos da mesma faixa etária. Ele passou protetor solar nas calipígias de sua amada, depois, como fosse o pagamento de suas carícias nadegais, sentou-se no colo do rapaz, para que ele também contemplasse com o creme suas espáduas nuas. De vez em quando, durante a operação, dava uma mexidinha no bumbum para assanhar o rapaz e ela sentir a rigidez máscula.

De repente, como se fosse só para confirmar, o rapaz sortudo olhou para trás, para ver se tudo estava mesmo sendo comidos pelos olhos masculinos ao derredor.

Encontrou pescoços esticados, olhos esbugalhados, machos com ereção desencruada, todos pegos no pulo, de surpresa.

Uma velhinha, sabedora de que seu tempo já fora, restou dizer uma frase de reprovação:

- Que desavergonhada! Estão quase fazendo sem-vergonhice na cara da gente!

Só faltou a dizer:

- E eu não posso participar!

A praia é um espaço bem democrático, até etariamente. Os jovens reafirmam: a vida é bela. Os velhos pelancudos têm a certeza de que ela já foi mui bela.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba

Um comentário:

HAMILTON BRITO... disse...

Engraçado como são as pessoas. Eu, quando vou para as praias não fico mandando fotos pra atiçar a lombriga dos amigod