Hélio Consolaro*
Uma praia não pode beneficiar a propriedade de alguém, é um
espaço democrático. Os resorts com tobogã para uma praia particular certamente
estão disputando esse privilégio na Justiça. Ou tem autoridades fazendo vistas
grossas.
Na praia, todos chegam, veem o mar, deitam-se na areia, ou
ficam comendo e tomando alguma coisa, guardados pelo sol de um comerciante
qualquer. As pessoas vendem prazeres, legal ou ilegalmente, para que o passeio
seja completo. Água de coco, caipirinha, cerveja, frutas, guloseimas. Esquecia-me
dos quiosques que oferecem até refeições.
Passam pessoas com aleijões vendendo coisas que sensibilizam
os turistas; há gente oferecendo badulaques chineses, outros, chapéus, cangas,
todo o tipo de necessidades para o momento.
Carrinhos que vendem crepes, milho verde, filé miau. E as
inscrições nos veículos empurrados, tração humana, são exóticas: Crepes do Zé, Milho Verde do Mané, Churrasquinho do Neto. Pelo
tipo do carrinho, pelas rodas, todos são fabricados num único lugar que também é
único a ganhar dinheiro com tudo aquilo. Fabricando e vendendo, fabricando e
locando.
Deitadas ou andando, as boazudas, as popozudas, as barrigudas.
Estou rimando demais: as feias em geral. E há homens que levam a sua dama, para
desfilar, como a dizer:
- Veja com os olhos e lamba com a testa...
Naqueles milhares de guarda-sóis, havia uma boazuda com o
seu namoradinho, ambos da mesma faixa etária. Ele passou protetor solar nas calipígias
de sua amada, depois, como fosse o pagamento de suas carícias nadegais,
sentou-se no colo do rapaz, para que ele também contemplasse com o creme suas
espáduas nuas. De vez em quando, durante a operação, dava uma mexidinha no
bumbum para assanhar o rapaz e ela sentir a rigidez máscula.
De repente, como se fosse só para confirmar, o rapaz sortudo
olhou para trás, para ver se tudo estava mesmo sendo comidos pelos olhos masculinos
ao derredor.
Encontrou pescoços esticados, olhos esbugalhados, machos com
ereção desencruada, todos pegos no pulo, de surpresa.
Uma velhinha, sabedora de que seu tempo já fora, restou dizer
uma frase de reprovação:
- Que desavergonhada! Estão quase fazendo sem-vergonhice na
cara da gente!
Só faltou a dizer:
- E eu não posso participar!
A praia é um espaço bem democrático, até etariamente. Os
jovens reafirmam: a vida é bela. Os velhos pelancudos têm a certeza de que ela
já foi mui bela.
Um comentário:
Engraçado como são as pessoas. Eu, quando vou para as praias não fico mandando fotos pra atiçar a lombriga dos amigod
Postar um comentário