 |
| Sebo dos Pensadores - Araçatuba |
Hélio Consolaro, professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
Toda família enfrenta vários problemas depois do falecimento de
um dos seus. Quando se trata de bens, essa divisão vai parar no fórum. A
partilha pode ser cordata ou conflituosa. Há casos em que se descobre, em caso
de homem, uma outra família. Filhos fora do casamento. Ou, então o morto, o cara era casado 200 vezes. Se for pobre, sobram as dívidas.
Há coisas de menor importância, como os livros, as roupas,
suvenires. Já vi filhos darem aos netos como brinquedos a coleção de carros
em miniatura do falecido, aquela querida e prestigiosa iniciada na adolescência
do avô. Rei morto, rei posto. Valor afetivo não se conta muito.
Nem sempre os filhos querem as coisas dos pais, ou as filhas da
mãe. Há quem venda tudo no brechó, faz um caixa extra. Faz grana com os cacarecos
do finado (ou finada).
Quando fui secretário municipal de Cultura era comum família de
pessoa culta doar toda a biblioteca da falecida à biblioteca pública.
Prontamente púnhamos um utilitário para buscar os volumes. Muitos
municípios renovam o acervo de sua BP dessa forma.
O sebo é um precursor do brechó, mas de livros. Ler livros
usados ou emprestado é gastar os olhos onde outros já fizeram o mesmo. Nos
livros uados também há fragmentos de alma.
Comprar roupa em brechó tem várias consequências, uma delas é
vestir-se com certa elegância sem gastar muito. Customizar as roupas, dar a sua
cara em roupas de quem você não conheceu a cara.
Mas há pobre orgulhoso que não usa roupa de pessoas mortas de
forma alguma, pois alegam que há nelas fragmentos de alma.
Os mortos, sem pedir licença, estão em nossas vidas, fisionomias
e DNA. De repente, no processo de envelhecimento, você, caro leitor, vai ficando com a cara de
sua mãe, de seu pai. E às vezes com os mesmos trejeitos. Já cantou
Belchior, somos como nossos pais.
Somos frutos do coletivo, somos gente que anda em fieira, enfileirados (ou em rede),
como se caminhássemos de mãos dadas, embora haja muita gente
individualista. Assim demonstram as tomografias sociais.
Os espíritas, por exemplo, são pessoas que vivem se comunicando
com o mundo dos mortos, sem fantasmas e assombrações. Se é verdade ou mentira,
trata-se de uma especialidade deles.
Se a relação da família era muito conflituosa, com certeza
repartir os bens do falecido não é fácil, principalmente entre as pessoas avarentas. Há muitos
herdeiros quereno viver sem trabalhar.
Duro mesmo é quando a pessoa morre e não tem nem os trapos para dividir. Ou o pior: nem para quem dividir os trapos que acumulou vorazmente.
3 comentários:
Verdade, tem os que não comeram as unhas porque doía é trabalharam como jumentos.Já soube de noras e filhas que brigaram por tupperware . Uns nem uma oração faz pelo finado ou finada.Outros não chegam em acordo e a propriedade fica abandonada por anos.Outra causa e o preço absurdo na legalização de inventário e custos abusivos para a legalização de divisão de duas casas no mesmo terreno.
Aos 15 anos de idade o pai do meu amigo faleceu. Durante o velório apareceu a proprietária do difunto. Um terror. Levou o morto para outro endereço. Meu amigo e rodos que o conheciam ficaram atônitos. O velho morto vivia uma vida exemplar, quem diria, seguiu a dona sem reclamar...
Você está certinho nos seres humanos não somos donos de nada daqui nada se leva tive dois exemplos nem a roupa do corpo vai junto mas infelizmente é assim além de passar pelo luto vem esse inventário que te deixa louca que é um prazo muito curto e lidar com as coisas íntimas da pessoa que é difícil repartir😇
Postar um comentário