AGENDA CULTURAL

28.8.14

Joinville cai na dança: festival pra ninguém botar defeito


Em sua 32a edição, de 22 de julho a 2 de agosto, o Festival de Dança de Joinville 2014 arrasa na quantidade e na qualidade das apresentações. Revista digital Oásis, 27/8/2014

Por: Luis Pellegrini
Era tudo que eu precisava para fechar com chave de ouro minha visita ao 32o Festival de Dança de Joinville 2014: Chegar perto de uma estrela que sobe no firmamento do balé. Aconteceu na fila do aeroporto, quando uma centena de bailarinas e bailarinos se misturavam aos passageiros comuns para tomar seus lugares no avião que nos levaria de regresso a São Paulo. Ela estava bem à minha frente, vestindo jeans e camiseta, a longa cabeleira cacheada e negra esparramada sobre os ombros, e trazia na mão direita um troféu e na outra carregava ainda o buquê de flores vermelhas que lhe fora oferecido  no palco do festival, na noite anterior. Eu a reconheci. Era Bianca Teixeira, 16 aninhos em flor, prêmio de melhor bailarina do Festival 2014: a sobrinha que todo tio apaixonado por música e dança deseja ter!

Bianca Teixeira, Prêmio Melhor Bailarina 2014
Bianca Teixeira, Prêmio Melhor Bailarina 2014

“Satanella, parabéns!”, cumprimentei. Esse é o nome da personagem do balé Carnaval em Veneza, que Bianca interpretara lindamente na noite anterior, a Noite dos Campeões, e lhe valera o prêmio. Ela se voltou para mim, abriu um grande sorriso de criança e disse: “Obrigada. O senhor estava lá?” “Estava, sim, e fiquei encantado. Desejo para você uma linda carreira”, completei. E ela: “Amém”. E então vi que Bianca, mais que sobrinha, poderia ser minha neta... Senti um aperto no coração: quanta saudade dos meus 16 anos...

Video: "Satanella, com Bianca Teixeira, Melhor Bailarina do Festival Joinville 2014
Público mais bonito do mundo
O Festival de Dança de Joinville é assim, lugar de emoções fortes. Elas começam antes mesmo dos espetáculos e das apresentações. Derivam do próprio público que durante as duas semanas de duração lota e transita para lá e para cá nos salões e corredores do Centreventos Cau Hansen, epicentro do Festival. O público mais bonito do mundo, provavelmente. São centenas, talvez milhares de moças e rapazes do mundo da dança provenientes de todos os Estados brasileiros e também do exterior.
 
É bonito vê-los caminhando, em grupos, todos cheios de saúde e alegre vitalidade, o passo ligeiro, com aquelas costas retas que são o prêmio para quem passa muitas horas, todos os dias, fazendo exercícios na barra. Sentam-se no chão, conversam, riem, ensaiam, exibem uns aos outros os passos que aprenderam. No Cau Hansen ou na Feita da Sapatilha, onde ficam as lojinhas e os restaurantes, apenas transitar no meio dessa moçada já vale a viagem a Joinville. Sai-se de lá revigorado, achando que no mundo só tem beleza e alegria.
 
 Considerado o maior evento de dança do mundo, esta 32a edição do Festival de Dança de Joinville reuniu mais de 6,5 mil participantes e um público superior a 200 mil pessoas em 220 horas de espetáculos durante 11 dias de espetáculos realizados no Centreventos Cau Hansen, no Teatro Juarez Machado e em palcos abertos montados em vários lugares da cidade, sobretudo em ruas e em shoppings centers.
 
Este ano, mais uma seção do Festival foi inaugurada, a Estímulo Mostra de Dança, no Teatro Juarez Machado. A Companhia Matheus Brusa (RS) e a Companhia Brasileira de Dança (SP) estão entre as que apresentaram espetáculos inéditos, apresentados nesse teatro.
Para garantir a evolução nas produções coreográficas, um novo projeto também foi criado com o apoio do Itaú Cultural, o projeto Curto-Circuito de residência artística. Ele deverá se estender ao longo do próximo ano. Os selecionados para participar integrarão residências voltadas para os processos de criação em dança contemporânea, danças urbanas, jazz, sapateado, danças populares e dança clássica.
 
 Um formulário que ajudará a eleger cidades brasileiras e grupos de dança para participarem da iniciativa esteve disponível no site do evento, e os escolhidos para a experiência serão revelados em 5 de setembro. Esta é a contribuição efetiva que o Festival de Dança dará para o desenvolvimentos das produções dos grupos — avalia Ely Diniz da Silva Filho, presidente do Instituto Festival de Dança, entidade organizadora do evento.
O Projeto Curto-Circuito virá juntar-se às demais seções já consagradas do Festival, a Abertura, a Mostra Competitiva, a Noite de Gala, a Meia Ponta (competição para crianças e adolescentes) e a Palcos Abertos, sem falar na Noite dos Campeões e dos eventos paralelos.

 Não à toa a Escola de Balé do Teatro Bolshoi, de Moscou, escolheu Joinville para instalar sua primeira e única escola filial no mundo fora da Rússia. O Bolshoi catarinense funciona no mesmo complexo arquitetônico do Festival de Dança, reúne centenas de alunos e já exportou bailarinos para algumas das mais importantes companhias de dança do mundo.
 
Destaques da 32ª edição
Bianca Teixeira, melhor bailarina, tem 16 anos e estreou no Festival de Dança Joinville em 2012, ano em que também ganhou seu primeiro prêmio especial no evento. Ela recebeu a indicação para o Youth America Grand Prix (YAGP), de Nova York. Bianca dança pela Companhia Adriana Soares, de São Paulo, e neste ano apresentou o clássico de repertório Satanella.

Ivan Duarte, melhor bailarino, é natural de Tubarão, Sul do Estado, e hoje faz parte da Companhia Petite Danse, do Rio de Janeiro. Ivan, 19 anos, também tem trajetória de destaque no Festival. Em 2011 ele recebeu o prêmio revelação.
Luana Espíndula, coreógrafa revelação recebeu o prêmio de melhor bailarina de 2011 pela interpretação de "Até o Fim Começar...", ao lado de Rafael Zago. Com 29 anos, Luana dirige o Instituto de Orientação Artística (IOA), de Jundiaí (SP), desde 2009, e já foi bailarina do Grupo Raça, de Roseli Rodrigues. Neste ano, sua companhia trouxe sete coreografias para a Mostra Competitiva nos gêneros dança contemporânea e jazz.
Vinícius Silva, indicado para etapa seletiva do Grand Prix de Lausannebailarino do CEP em Arte Basileu França, de Goiás, Vinícius foi um dos finalistas do Grand Prix de Lausanne deste ano, e retorna com indicação para a competição internacional de dança da na Suíça para 2015. 

Companhia de Balé Adriana Assaf, melhor grupo. O grupo leva o nome de Adriana Assaf, formada pela Royal Academy de Londres e Escola Municipal de Bailados de São Paulo. Adriana começou sua trajetória no Festival de Joinville aos 18 anos, como coreógrafa, e na estreia já conquistou o primeiro lugar.
Renata Pacheco, revelaçãoé ensaiadora e idealizadora do Balé da Cidade de Santos, de São Paulo, que completa 10 anos e é formado por ex-alunas da Escola de Bailado. Na Mostra Competitiva, Renata foi ensaiadora da coreografia Crematório, que disputou na categoria conjunto sênior de balé neoclássico.
 

Danças populares e urbanas arrasaram
 Muitos ainda vão ao Festival de Joinville sobretudo por causa das exibições de balé clássico de repertório. Mas esta 32a edição testemunhou uma verdadeira consagração de várias coreografias de danças populares e, sobretudo, de danças urbanas. Grupos de hip hop vieram com tudo, e muito mais do que o esperado aconteceu. Várias coreografias dessas danças, também conhecidas como “de rua”, mostraram grande apuro técnico e cenográfico, despertando um entusiasmo realmente delirante no público. Como exemplo basta citar a impressionante versão dança urbana do Quebra-Nozes, de Tchaikovski, montada pelo grupo Maniacs Crew, de Joinville (Veja vídeo no final do artigo). A vibração foi tanta que, ao final da apresentação, eu e Malu Salgueiro, encarregada de mídia nacional do Festival, comentamos em uníssino: “Ah, se nossos governos soubessem canalizar e aproveitar toda essa energia da nossa juventude!”
Outras novidades lançadas este ano são a Rádio Dança, uma radioweb disponível também por aplicativo para aparelhos Android, que apresentou uma programação diária repleta de informações de interesse direto do público participante do evento. Todos esses sistemas são gratuitos e foram utilizados por milhares de pessoas que queriam se manter conectadas ao Festival de Joinville, que curtem e têm uma ligação emocional com o evento. O Festival entrou também no campo audiovisual, lançando em 2014 o Cinema 3D do Festival, com exibição diária de um compacto com imagens captadas a cada noite de espetáculos.
A exemplo de outras mega iniciativas brasileiras no campo da arte e da cultura, tais como o FEMUSC-Festival de Música de Santa Catarina, o Projeto Prima na Paraíba, o Festival de Música de Campos do Jordão, o Festival de Dança de Joinville está inserido de forma definitiva no calendário dos eventos nacionais. Mais um grande exemplo de que, quando existe vontade política e colaboração por parte da sociedade civil, as coisas por aqui acontecem. E acontecem bem, com padrão Guiness de tamanho e qualidade.
Video: Quebra Nozes da Maniacs Crew, de Joinville, Primeiro Prêmio 2014 de Dança Urbana


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