AGENDA CULTURAL

14.12.14

O ID de Bolsonaro


Por Raul Longo(*)
Por algum tempo compreendi esse Jair Bolsonaro apenas como um boçal raro que superasse a boçalidade de todos os demais do Congresso Nacional. Mais boçal do que o Ônix, o Carlo Sampaio, o Malafaia, a família ACM, etc., etc., etc… Mais até do que o Aécio Neves, mesmo no atual estágio de descontrole e alteração de personalidade daquele, provocada pela incapacidade de admitir uma derrota democrática.
Em Aécio há de se considerar a interferência de substâncias ativas alheias às produzidas pelo natural metabolismo psiquiátrico humano, aquelas que em determinadas circunstâncias controlam ou descontrolam o comportamento de todos nós. Mas no caso do Bolsonaro qualquer clínico geral reconhece a urgência da necessidade de observação e tratamento de especialistas.
Não sou nem pretendo sê-lo, no entanto tanto convivi com amigos notáveis na área que acabei me interessando pelo assunto e li bastante a respeito. Por sorte, pois do contrário confundiria a tribuna do Congresso com as paredes de qualquer banheiro de borracharia de beira de estrada, onde além dos dejetos do trato intestinal também se acumulam os de psiquismos violentados por condições sociais ou, em igualmente triste hipótese, por violências sofridas na infância.
É o que, mesmo sem qualquer especialização ou mais detida análise, pode ser claramente percebido em Jair Bolsonaro e torna admirável a falta de ética da Comissão de Ética da Câmera Federal. Mais que falta de ética, é uma total desumanidade que não se comete com ninguém, por mais corrupto que seja. Não afirmo que Bolsonaro seja corrupto, mas mesmo que o fosse, apenas por sua condição humana esse pobre coitado mereceria ser urgentemente encaminhado a um psicólogo que, sem dúvida, haveria de interná-lo se a legislação ainda prevê-se a reclusão de pacientes com tais desvios; mas hoje já se compreende que estas providências não apresentam soluções efetivas, salvaguardando apenas a sociedade da inconsequência dos doentes que, de toda forma, recolhidos em manicômios ou não, necessitam de tratamento.
Cabe às pessoas do relacionamento do sociopata uma providência antes que se constitua em ameaça a terceiros ou se torne um risco para si mesmo. E o deputado já tem se comprovado séria ameaça pública há bastante tempo. Tanto que a irresponsabilidade de seus pares no Congresso Nacional vem se tornando ainda mais alarmante do que os próprios sintomas do doente.
Há no caso um aspecto ridículo que estimula ao humor negro, mas o assunto é perceptivelmente sério e, além de potencializado pela posição de Bolsonaro perante a sociedade brasileira, há muito deixou de ser mera ameaça para se concretizar publicamente como ocorreu na difamação e agressão verbal empregada contra a Preta Gil. Também na violência física contra o senador Randolfe Rodrigues e nas reiteradas ofensas dirigidas contra a deputada Maria do Rosário, passíveis de penalidades prescritas até na Lei Maria da Penha, quanto mais nas que regem o decoro parlamentar! Isso sem contar que as ameaças do deputado ultrapassam a previsão dessas leis e o identificam aos praticantes de crimes hediondos.
O que acontece com o Congresso Brasileiro que não é capaz de perceber o perigo contido nas ameaças de Bolsonaro? Já testemunhei a Polícia Civil advertir e restringir a circulação de psicopatas bem menos ameaçadores! Como o Congresso Nacional pode se manter passivo e leniente a tão reiteradas e evidentes manifestações de sociopatia?
Manifesta como permanente ameaça social, se a distingue pela origem direta ou indireta tal como publicamente se expos na arma na cintura do filho do deputado em meio à multidão de comício realizado na Avenida Paulista. Ali ficou claramente indicado que para segurança da sociedade, toda a família necessita urgentemente de tratamento ou trabalho de socialização.
Qualquer observador dos desdobramentos de distúrbios mentais sabe que tais anomalias são, sim, transmissíveis através de convívio com portadores de psicopatias. Daí até possível entender os motivos dos correligionários de Bolsonaro em manter sua filiação partidária; mas o Congresso Nacional não é formado apenas por coo partidários e aliados do doente. Entre as principais atribuições dos políticos do Congresso, ou de qualquer entidade pública, também está à preservação da segurança da população, daqueles que o elegeram como seus representantes.
Se, infelizmente, ocorre um surto de psicopatia em determinados segmentos de uma sociedade e certa quantidade de afetados é suficiente para eleger um também alienado, isso não quer dizer que estes segmentos estejam representados. Grupos como skin-heads e revoltados online ou quaisquer outros de homofóbicos e misóginos de orientação fascista, são inconsequentes incapazes de realmente definir uma representação. A esses doentes apenas cabe a ação da segurança pública até para a segurança deles mesmos. Dizer que Bolsonaro os representa é o mesmo que admitir que alguém possa representar os interesses dos Hell Angels no Congresso dos Estados Unidos. Qual é o interesse desses tarados, além de espancar e estuprar a quem considerem que mereça, exatamente como assumido pelo deputado em sessão plenária, exigindo aos berros que sua colega escutasse suas grosserias e ameaças?.
Uma coisa é um radical político/ideológico ou religioso, outra coisa é o desvio de caráter de um oportunista. E bem outra é um sociopata a usar de cargo público para fazer apologia à intolerância e a exemplificar em si mesmo práticas de crimes hediondos. Se não se impede isso, daí à barbárie é um nada! E se o Congresso a admite é porque já foi instaurada.
Seja contra homossexuais ou contra as mulheres, somos um dos países do mundo onde mais se cometem crimes motivados por tais preconceitos e é inadmissível que o Congresso Nacional abrigue um sociopata que pela própria inconsequência usa do cargo que ocupa como apologista de tais crimes.
De acordo com a teoria psicanalítica o id é a fonte da energia psíquica formada por instintos naturais, impulsos orgânicos e desejos inconscientes. “O id não faz planos, não espera, busca uma solução imediata para as tensões, não aceita frustrações e não conhece inibição. Ele não tem contato com a realidade, e uma satisfação na fantasia pode ter o mesmo efeito de atingir o objetivo através de uma ação concreta. O id desconhece juízo, lógica, valores, ética ou moral, sendo exigente, impulsivo, cego, irracional, antissocial, egoísta e dirigido ao prazer.”
A descrição corresponde a diversos correligionários e aliados políticos de Jair Bolsonaro, mas à mostra ou escondida, na arma do seu filho se evidencia a formulação de um plano para alguma imaginada eventualidade. Se “tal pai, tal filho” o que mais se questiona é sobre a próxima solução a ser encontrada pelo sociopata depois da agressão verbal a filha de Gilberto Gil, através de um programa de TV? Ou depois da agressão física ao senador que manifestava repúdio a um regime político sobejamente repudiado por todo o mundo civilizado?
Será necessário que se consuma a ameaça de estupro berrada do púlpito do parlamento? Que parlamento é esse? Imagens de políticos se agredindo fisicamente em meio a sessões parlamentares já envergonharam alguns povos do mundo, mas a manifestação pública da disfunção psicológica de um representante do povo, é de envergonhar a todos os brasileiros perante a comunidade das nações.
Vergonha não pelo deputado acometido de sério desvio psicológico a pôr em risco toda a sociedade, mas sobretudo pelo Congresso que admite tais manifestações só compreensíveis quando em paredes dos imundos banheiros de borracharia de beira de estrada.
Sem qualquer tentativa de humor ou ironia, em Bolsonaro um psicanalista concluiria sexualidade indefinida por forte repressão moral do id, evidenciada tanto na intolerância a gêneros e tendências sexuais de outros, quanto na extrema necessidade de comprovação da orientação da própria libido manifesta na assumida possibilidade de cometer e já haver cometido estupros. Isso é demência e se aos políticos não se pode exigir especialidades de conhecimentos que levem a tal conclusão, a própria função exige ao menos a percepção de evidências das latentes ameaças sociais constante e assumidamente expressas pelo já incapaz da medir as consequências do que fala.
Apenas do que fala? A arma na cintura do filho durante manifestação pública é mais do que uma fala, e o que será preciso para que se tome alguma providência coerente e definitiva? Que Bolsonaro abaixe as calças e estupre o presidente da Comissão de Ética do Congresso em cima do púlpito do parlamento brasileiro?
Por mais deficiente que tenha sido a educação e formação da fase infantil e da adolescência de Bolsonaro, ele não é apenas um boçal como muitos de seus correligionários. Bem além daqueles, Bolsonaro é uma evidente e perceptível ameaça a si mesmo e a qualquer sociedade que se pretenda civilizada.
Inadmissível que o Congresso Nacional não se aperceba nem tome providências a esse respeito. Inadmissível pela falta de responsabilidade com a cidadania brasileira e inadmissível pela falta de humanidade com o próprio Bolsonaro. Se fosse apenas um consumidor de drogas, ainda vai, mas trata-se de avançado estágio de doença à qual a omissão e falta de sensibilidade do Congresso é desumana.
*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta. Mora em Florianópolis e é colaborador do “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna “Pouso Longo”.

3 comentários:

Anônimo disse...

Nunca vi o Bolsonaro dizer nada além da verdade. O problema dele, é que ele perde a linha quando fica irritado e fala bobagem, que é o caso da Maria do Rosário que se intrometeu na entrevista dele, começou a chama-lo de estuprador (comentário preconceituoso), claramente com a intenção de irritá-lo na frente das câmeras, pois ela já sabia que ele iria revidar.
Um jornalista, escritor e poeta, dizer que o Bolsonaro está num estágio avançado de uma doença psíquica, sem ter fontes, usando trechos isolados de alguns discursos de Bolsonaro em seus momentos de estresse, isso sim é ser preconceituoso.
Bolsonaro não tem preconceito, e sim, um conceito.

Marcos Lúcio disse...

O melhor ou o mais completo raio X que li, até agora, sobre o perigoso boçalnaro - o psicopata - e seus fiéis seguidores/cúmplices(bem mais perigosos porque são milhares e ele é somente um). Parabéns pela lucidez e pertinência.

Anônimo disse...

Nunca li ou ouvi, o Sr. Jair Bolsonaro e não Bolsonario como os seus escudeiros, erroneamente o chamam, falar sobre melhorias na Educação, na Saúde, na Cultura e outros compromissos sociais que identificam mudanças consistentes e verdadeiras. Eu não quero um país em que pessoas saem às ruas pedindo para ter um porte de arma para se proteger, eu quero um país onde a Educação diminua a violência e nos traga qualidade de vida e segurança. Tudo que o discurso do Sr.Jair não contempla.