AGENDA CULTURAL

3.9.15

Gorjeta ajuda?

Hélio Consolaro*

Não sei, caro leitor, se você tem o costume de dar gorjetas para garantir bons serviços. O sovino, o pão-duro não faz isso. Eu conheci esse expediente com o finado Tio Dorinho, falecido há mais de 50 anos.

Quando voltávamos da escola, aquela meninada, a pé, andando cinco quilômetros para e mais cinco para voltar para ter alguns ensinamentos, naquela estrada arenosa, corríamos a abrir a porteira de seu sítio para que passasse com o carrinho de leite (carroça com roda de pneu, cheia de latões de leite)). Assim, não precisaria descer. Agradecido, ele jogava algumas moedas pelo chão. Foi aí que conheci a gorjeta.

Nenhum dicionário define bem a gorjeta,  etimologicamente alguns se limitam a dizer que a origem da palavra é francesa. O lado bom da gorjeta está ligado à hospitalidade no turismo. Nos Estados Unidos e Canadá, as gorjetas são habituais e altas; já China, Japão e a Coréia do Sul não possuem o hábito de gratificar um atendimento. No Brasil, ela é opcional por lei.

Lembrando as gorjetas Tio Dorinho vejo a gorjeta como esmola, tanto que ela é sinônimo de espórtula.    

Atualmente, garçons e frentistas de posto de combustíveis são os mais beneficiados pela gorjeta, ela entra na composição salarial. Em festa boca livre, em que há churrasqueiro, garçom ou outro tipo de serviçal, se você ver, caro leitor, alguma mesa ser visitada a toda hora, com tratamento preferencial, alguma cédula de dinheiro foi passada de uma mão para a outra no cumprimento. São velhos conhecidos. Gorjeta também lembra propina, corrupção. Tanto que “molhadela” (molhar a mão é sinônimo de gorjeta). O soldado pode receber uma boa gorjeta para não multar infrator, por exemplo. O motorista pode passar ao beneficiado uma revista, um livro, um jornal e dentro dele vai a gorjeta.

Outro dia passei por uma experiência interessante. Além de abastecer o carro, pedi ao frentista que jogasse uma água no vidro. Ele ia se limitar a lavar os vidros. Como me viu mexendo na bolsa, à procura da carteira, tratou de lavar quase o carro todo. Como não achei algum trocado, disse-lhe:

-     Companheiro, fico lhe devendo o cafezinho!
E saí com o carro. Pelo retrovisor, li em seus lábios as palavras: fdp. Fui xingado injustamente, porque realmente estava com dinheiro graúdo. Só faltava dar gorjeta usando o cartão bancário.

Só apresentei um lado, o de quem dá o gorjeta. Como será o outro, quem recebe gorjetas polpudas ou uma miserinha. Se não der, vai mudar a qualidade do serviço. Gorjeta faz parte do expediente de um bom profissional?


*Hélio Consolaro é professor, jornalista e professor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP

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