AGENDA CULTURAL

29.11.15

Vai ser candidato em 2016?

Hélio Consolaro*

Não pretendo combater o texto antológico “Analfabeto político”, de Bertold Brecht, pois para eu escrever este, precisei ter conhecido aquele.

Apenas quero me dirigir àqueles que amam a política, não só a partidária, que a respiram 24 horas por dia, como se o mundo não existiria sem ela, os carreiristas.

Fui vereador por uma legislatura em Araçatuba. Parecia que o mundo girava em torno da Câmara Municipal. Quando saí de lá, percebi que pouca gente dava atenção àquela casa.

Quase todos os políticos têm problemas na sua vida familiar, ou sendo mais específico, na sua vida afetiva, porque quem parte para esse caminho não quer cuidar da casa, que é a parte, mas pretende zelar pelo todo, que é a cidade, o país. No seu município, com certeza, há exemplos eloquentes disso.

E sair do campo político, abandoná-lo, guardar as armas, retirar-se da luta é difícil, exige renúncia, uma visão maior, porque a disputa muitas vezes alimenta a própria disputa, como se estivesse num cassino. Perdeu agora, mas pode ganhar na outra. E assim a roleta roda.

Guardar frases de pessoas que me são gratas, conselhos interessantes, é um de meus hábitos. O padre Lauro Franco, hoje, velhinho, recolhido numa paróquia em Ribeirão Preto, quando era pároco da Igreja do Paraíso, em Araçatuba, me vendo apaixonado pelas lides políticas me disse: “Consa, não reduza a sua vida à dimensão política, isso faz mal para a sua espiritualidade e para a sua saúde. A vida é muito maior que a política”.
 
Trecho do texto de Bertold Brecht
Então, caro leitor, se a gente não deve ser um analfabeto político nos moldes de Bertold Brecht, não podemos nos entregar tanto nesse campo da batalha que é a política.

Não podemos esquecer de que a tragédia humana, maior, a guerra, é um produto da ação política. Quando as palavras agressivas e a voz alta não funcionam, saca-se a arma, pratica-se o terrorismo. Quando um país declara guerra a outro, quem faz o pronunciamento são os políticos. E, muitas vezes, sem motivos justos.

Segundo o saudoso vereador Nilo Ikeda, quando a pessoa está fora da política, 80% da população fala bem dela, 20% a criticam. Basta ser candidata a alguma coisa para que a estatística se inverta.

Na campanha municipal de 2016, com certeza, teremos vários estreantes como candidatos. Pense bem no seu projeto de vida, caro leitor. Ser político não significa vida tranquila, mesmo sendo uma pessoa sensata. Em política, arrumam-se adversários e até inimigos gratuitamente. Muita gente se empobrece em todos os sentidos com ela. Não se transforme num político analfabeto. 

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP

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