Hélio Consolaro*
Não pretendo combater o texto antológico “Analfabeto
político”, de Bertold Brecht, pois para eu escrever este, precisei ter
conhecido aquele.
Apenas quero me dirigir àqueles que amam a política, não só
a partidária, que a respiram 24 horas por dia, como se o mundo não existiria
sem ela, os carreiristas.
Fui vereador por uma legislatura em Araçatuba. Parecia que o
mundo girava em torno da Câmara Municipal. Quando saí de lá, percebi que pouca
gente dava atenção àquela casa.
Quase todos os políticos têm problemas na sua vida familiar,
ou sendo mais específico, na sua vida afetiva, porque quem parte para esse
caminho não quer cuidar da casa, que é a parte, mas pretende zelar pelo todo,
que é a cidade, o país. No seu município, com certeza, há exemplos eloquentes
disso.
E sair do campo político, abandoná-lo, guardar as armas,
retirar-se da luta é difícil, exige renúncia, uma visão maior, porque a disputa
muitas vezes alimenta a própria disputa, como se estivesse num cassino. Perdeu
agora, mas pode ganhar na outra. E assim a roleta roda.
Guardar frases de pessoas que me são gratas, conselhos
interessantes, é um de meus hábitos. O padre Lauro Franco, hoje, velhinho,
recolhido numa paróquia em Ribeirão Preto, quando era pároco da Igreja do
Paraíso, em Araçatuba, me vendo apaixonado pelas lides políticas me disse: “Consa,
não reduza a sua vida à dimensão política, isso faz mal para a sua
espiritualidade e para a sua saúde. A vida é muito maior que a política”.
Então, caro leitor, se a gente não deve ser um analfabeto
político nos moldes de Bertold Brecht, não podemos nos entregar tanto nesse
campo da batalha que é a política.
Não podemos esquecer de que a tragédia humana, maior, a
guerra, é um produto da ação política. Quando as palavras agressivas e a voz
alta não funcionam, saca-se a arma, pratica-se o terrorismo. Quando um país
declara guerra a outro, quem faz o pronunciamento são os políticos. E, muitas
vezes, sem motivos justos.
Segundo o saudoso vereador Nilo Ikeda, quando a pessoa está
fora da política, 80% da população fala bem dela, 20% a criticam. Basta ser
candidata a alguma coisa para que a estatística se inverta.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário