AGENDA CULTURAL

29.11.15

Reorganização da rede estadual de ensino

Andrea Alves da Silva Soares*
Artigo publicado na Folha da Região, Araçatuba

Fui funcionária da rede estadual de educação de São Paulo por quase dezessete anos. Atuei como professora de ensino fundamental, do Cefam (Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério), fui diretora de escola e também passei em concurso para supervisor de ensino. Só não assumi este último cargo em Americana (cheguei a escolher a vaga), pois preferi assumir um outro cargo público de outra instância.

As pessoas me perguntam o porquê larguei o cargo de diretora de escola da rede estadual, onde me constitui como profissional, e respondo: Por falta de melhores condições de trabalho, não por falta de amor pelo que eu fazia! E olha que digo isto com conhecimento de causa.

Por ter atuado tanto tempo em diferentes cargos e ter acompanhado diversas mudanças, posso afirmar que a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo sempre teve um olhar translúcido para a educação de nossas crianças e jovens. Infelizmente, as ações adotadas por ela quase sempre só consideram as questões políticas. Ou, melhor dizendo: os interesses políticos. A reorganização do ensino é um exemplo disto.
Se tivermos um olhar superficial nada teríamos a dizer da atitude do senhor secretário estadual de Educação de propor uma melhor organização dos ciclos de ensino, de colocar alunos de uma mesma faixa etária em uma escola delineada para eles. Uma “nova escola” com recursos adequados; com professores com perfil para atuar com aquela clientela; com projetos contextualizados; com adequação de tempos e espaços, entre outros aspectos.

Entretanto, se aprimorarmos o olhar, vamos perceber que este não é o objetivo do secretário estadual de Educação. O objetivo é a contenção de gastos, é fazer com que os pais e as famílias sejam “responsabilizadas e paguem a conta” pelas dificuldades financeiras que nosso País está vivendo, sejam responsabilizados pela falta de planejamento do órgão público.

Ao invés de fechar escolas o governo estadual deveria investir na infraestrutura das existentes; em contratação de funcionários; em pagar salários mais justos aos seus profissionais; em garantir segurança nas escolas, enfim, deveria investir em melhorar as condições de aprendizagem e de trabalho da comunidade escolar.

Sinto-me sensibilizada ao ver os alunos “invadindo” escolas para que “suas escolas” não sejam fechadas. Este gesto nada mais significa do que um grito de socorro, onde estes alunos estão dizendo a toda à sociedade: Eu existo! Eu preciso desta escola! Respeitem o meu direito de cidadão! Não fechem esta escola para abrir presídios depois!

Fico mais sensibilizada ainda quando vejo pela televisão professores sendo presos como se fossem marginais, algemados na frente de seus alunos por estarem lutando para que a escola onde eles atuam não feche. Lutando para que possam continuar sendo professor da escola onde trabalham e conhecem os alunos, onde escolheram ensinar, e não de uma outra escola qualquer que o governo designar a eles.

Quero também salientar que na cidade onde moro, Araçatuba (SP), estão encerrando o recebimento de matrículas da Escola Joubert de Carvalho para o ano de 2016. Encerrando matriculas em uma escola que participei como avaliadora de um Prêmio de Gestão Escolar neste ano de 2015, onde verifiquei que a mesma apresenta um trabalho de excelência, com comprometimento de toda a equipe escolar com a aprendizagem e inclusão de todos os alunos. Uma escola que tem alunos alegres, professores contagiantes, gestoras que fazem o impossível para garantir a melhor educação para seus alunos.

Uma escola que foi considerada, a partir do referido concurso, como a melhor em gestão escolar em nível de diretoria de ensino. Diante disto me pergunto decepcionada: Como o governo do Estado pode mandar “reorganizar/fechar” uma escola com excelentes resultados escolares? Como podemos dizer aos pais, alunos e a comunidade daquela escola: Vamos fechar porque a escola não tem alunos? Alguém pode imaginar que uma boa escola pública não tenha alunos?

Encerro minhas palavras manifestando meu carinho aos alunos, pais, professores e gestores das escolas estaduais do Estado de São Paulo. Espero, sinceramente, que em algum momento a população acorde e vá buscar junto aos órgãos competentes o cumprimento de seu direito à educação. Que exija dos governos que eles abram mais e mais escolas, melhorem as que já existem, que implantem políticas públicas que realmente façam sentido, sem fechar nenhuma escola.

Não tenho dúvidas nenhuma que somente com “Educação de Qualidade” podemos mudar este País. Somente com uma escola para todos podemos mudar este País, que tanto amamos e que o povo brasileiro tem orgulho de fazer parte.

*Andrea Alves da Silva Soares é supervisora de ensino da Secretaria de Educação de Araçatuba, mestre em Educação pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Presidente Prudente (SP) e doutoranda em Educação pela Unesp de Marília (SP)

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